Inspirações Os Pictogramas Rio 2016 – e mais um pouco de história.

Os Pictogramas Rio 2016 – e mais um pouco de história.

Por Lucas Benfica

Olá, leitores.

Creio que todos devem ter visto que, na manhã do dia 7 de novembro, foram mostrados os Pictogramas dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 do Rio de Janeiro, cujo trabalho foi desenvolvido ao longo de 16 meses.

Diferentemente do projeto de identidade, os pictogramas não foram fruto de uma concorrência entre escritórios de design. Depois de os escritórios para o projeto da identidade e do mascote – que ainda não foi apresentado – terem sido escolhidos através do prévio sorteio, a equipe de design do Comitê Olímpico ficou responsável pelo projetos de complemento desta identidade (materiais licenciados, aplicações diversas, etc.) dos pictogramas e, quando julgava necessário, buscava a participação externa de outros profissionais, especialistas e consultores técnicos e específicos para cada trabalho, como a tipografia, por exemplo.

Pictogramas são uma tradição na história dos Jogos Olímpicos Modernos. Quase sempre a partir das características culturais do páis-sede, a equipe de design determinada pelo comitê olímpico, desenvolve os pictogramas olímpicos a partir destas diretrizes. Desde 1964, nas Olimpíadas de Tóquio, toda edição do evento investe na pictografia, simbolizando todos os esportes e modalidades da competição.

Pictogramas não deixam de ser uma extensão do desenho da marca, expandindo sua identidade e indo em busca de novos pontos de contato, como explica a diretora de Marca do Comitê Olímpico, Beth Lula, sobre a importância dos pictogramas para engajar o público no evento: “O uso dos pictogramas daqui até 2016 servirá como plataforma de comunicação para a promoção dos esportes, ativação dos parceiros e para marcar toda a identidade visual dos Jogos, o que inclui sua aplicação na decoração das instalações, na sinalização, nos ingressos, nos produtos licenciados, entre outros”.

Com a sua forma externa representando o pão de açúcar – já que alguns caracteres da tipografia foram inspiradas em aspectos naturais da cidade – as ilustrações internas vêm carregadas de técnicas visuais que, de certa forma, evoluem um pouco o padrão que estávamos acostumados a ver nos pictogramas de Jogos Olímpicos anteriores, mesmo parecendo meio genéricas e quase que perdendo o que Otl Aicher chama de “caráter de sinal antes de parecer uma ilustração” e, não trazendo por completo uma representação visual da identidade brasileira, segundo algumas opiniões que li.

Mas, tecnicamente falando, pictogramas devem, primeiramente, cumprir sua função estética (sem que seja um desenho) e, ter todos os atributos para que seja funcional, ou seja, transmita o que é necessário naquela circunstância. E os pictogramas em questão fazem isto, e bem.

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O processo criativo

Depois de conversas com o departamento de esportes, buscando por imagens que representassem os movimentos característicos de cada modalidade e mostrando os principais momentos de explosão de cada atleta na sua prática esportiva. Inspirados na tipografia oficial do Rio 2016, desenhada pelo estúdio Dalton Maag, inspirada no logotipo previamente desenhado pela Tátil Design para a identidade dos Jogos Olímpicos.

O corpo dos atletas e os equipamentos esportivos forma construídos a partir dos caracteres ou de parte deles, num traço contínuo, com variações de espessura para dar ideia de profundidade. Os seixos, que são uma característica da linguagem visual do Rio 2016, fazem o suporte dos desenhos e rotacionam sua forma de acordo com os diferentes movimentos dos atletas.

Outro diferencial é o fato de não existir uma cor principal para o suporte dos pictogramas. Mesmo eles tendo sido apresentados em cor azul, portando os pictogramas em branco, também foram mostrado os mesmo com cores de fundo como verde, vermelho, amarelo, entre outras. Talvez o colorido alegre das Identidades Olímpica e Paralímpica desenhadas pela Tátil Design, além da referência principal tipográfica, tenha também influenciado no comportamento vivo e independente dos pictogramas desenhados.

Mais um ponto que me chama atenção é o de, na apresentação, alguns pictogramas terem sido mostrados também de maneira tridimensional, com a base branca e o picto transparente, permitindo que se veja o que está atrás dele. Talvez também possa vir da Identidade desenhada pela Tátil, a tridimensionalidade presente neles, representadas nas variações de espessura dos traços. Não sei se foi proposital e já prevendo um futuro, mas seria legal se virassem, por exemplo, produtos comerciais, já que remetem a uma espécie de “troféu”, quando mostrados assim. Mais um ponto de contato da marca com o público, se for o caso.

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Gostei bastante da solução. Creio que ela atende as expectativas e as necessidades técnicas para este ou qualquer outro evento e, esteticamente são muito agradáveis.

Também penso que o projeto dos pictogramas está totalmente alinhado, técnica, visual, estética, conceitual e graficamente com o restante da identidade, formando não apenas ícones identificadores de espaços e modalidades esportivas, mas também fazendo parte de um programa de identidade completa, expandindo a identidade visual para quem, por ventura, não tenha a oportunidade de visualizar todo este sistema de uma só vez. Ou seja, os pictogramas, quando vistos em ambientes e circunstâncias separadas, deixarão claro que pertencem a tal projeto.

E mais um ensinamento que o projeto deixa para um bom processo criativo: vivenciem a vida do principal elemento para quem o projeto se destina. A equipe do Comitê foi em busca do DNA para os pictogramas nos atletas olímpicos e paralímpicos que estarão competindo. Ou seja, se você está desenhando para uma padaria, passe um ou mais dias com padeiros e com clientes que compram o pão cedinho.

Mas é impossível estar diante de acontecimento tão importante quanto os Jogos Olímpicos no Brasil, cujo design está presente em um sistema completo – desde as medalhas e os ingressos, até o complexo e gigante sistema de sinalização – e não avaliar a funcionalidade técnica dos pictogramas apresentados baseados em estudos e comprovações referenciadas em bibliografias de grandes designers, autores e testes realizados pela AIGA.

Pictogramas são signos visuais que representam um objeto ou um conceito por meio de desenho figurativos. São formas representativas não verbais que, através dos conceitos abordados pela percepção visual, representam e/ou simbolizam ações e locais. A função principal de um pictograma é representar fatos complexos, de maneira icônica, o que um texto ou uma frase diria, mas de forma simplificada e utilizando a memória das pessoas, daí a necessidade de não necessitar legendas. Entende-se por ícone, a representação ilustrativa, que enfatiza pontos em comum entre o significante e o significado, geralmente um ponto turístico ou uma representação de uma ação que acontece em um locar específico.

Para que funcionem e não causem confusão, é interessante que sejam colocados à prova. Creio que o Comitê deva ter realizado também este tipo de estudo, afinal são profissionais e, mesmo que os pictogramas tenham seu DNA lá no movimento dos atletas, não são eles o público final direto que receberá com maior força estas informações. Situações como deslocamento, mau tempo, longa distância, entre outras, devem ser levadas em conta na hora de projetos do tipo.

Como referência para estes testes, normamente segue-se os padrões da AIGA – American Institute of Graphic Arts – publicados em 1976 no livro Symbos Signs. Entre outros padrões de observação, o livro sugere que o desenho de pictogramas com padrão internacional deve possuir três características básicas, explicadas aqui por Joan Costa. São elas: a Semântica, a Sintática e a Pragmática.

A Semântica trata da relação da imagem com o seu significado. “O pictograma representa bem o sentido que deve expressar? O público compreende facilmente e sem erros o significado do pictograma? É fácil e rápida a compreensão por pessoas de diferentes origens e níveis culturais? O pictograma foi largamente divulgado?”

Pode-se dizer que sim, que mesmo com o estilo tridimensional e com a perspectiva propositalmente empregada em cada picto, é possível compreender do que se trata cada um deles, sem confusões e sem que sejam necessárias legendas. Claro que, nem todas as pessoas sabem o que significam todos os esportes, pois em alguns países creio que algumas modalidades nem devam ser tão praticadas e divulgadas.

A Sintática é sobre relação e padronização entre todos os desenhos do conjunto de pictogramas. “Com que se parece esse pictograma? Ele pode ser confundido com outro? Os seus elementos mais importantes são percebidos de imediato? Os elementos básicos destes pictogramas podem ser sistematicamente aplicados a diferentes necessidades para formar outros pictogramas necessários?”

Sim para todas as questões. Apenas em algumas modalidades como vôlei/vôlei de praia, ou tênis/tênis de mesa, pode haver alguma confusão, visto que trata-se do mesmo esporte, porém com algumas particularidades cada um. Mas para isto, existem a legenda e todo o apoio visual que estará presente em cada ambiente no local das disputas.

A Pragmática define a relação entre a imagem visual e o usuário do ambiente. “O pictograma pode ser visto com facilidade? O pictograma é fácil de ser reproduzido? Pode sofrer redução ou ampliação sem perda de legibilidade? Resiste a uma visão oblíqua sem deformar-se? Permanece legível em médias ou longas escalas de visão?”

Tenho um certo receio quando desenha-se com muitos elementos curvos. A chance de dar um erro ao reproduzir em alguma cor que esteja fora do padrão definido ou em recorte eletrônico, por exemplo pode oferecer perigo quando algumas linhas forem muito finas. Quanto à ser visto de forma oblíqua ou em perspectiva, creio que não seja problema, afinal foram desenhados utilizando alguns truques de perspectiva e tridimensionalidade.

Redução

Em testes realizados pela AIGA, um pictograma é legível e inteligível sem a ajuda de palavras ou aprendizagem prévia, no tamannho de 1,4cm para a distância de 1m, com desenho claro sobre fundo escuro, como por exemplo as placas de PARE. Estudos de redução são necessários na medida em que o usuário que receberá determinada informação à uma determinada distância, possivelmente junto a tantas outras e deverá distinguir a que lhe interessa no momento. Estão reconhecíveis na imagem?

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Movimentos verticais e horizontais e neblina

Testes assim são necessário em virtude de que, o usuário do sistema pode ter, desde uma deficiência de visão, estar sob mau tempo, ou até mesmo enxergar a informação com algum obstáculo à frente.

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Os aspectos emocionais

Podemos considerar como aspectos emocionais tudo aquilo que sai do bi ou tridimensional do projeto e toca o usuário como se este projeto fosse algo vivo e tivesse o poder de interagir com estes usuários. A Identidade é multisensorial, e os pictogramas também. A perspectiva e os outros truques visuais os tornam quase que “tocáveis” e, fossem em 3D, como as identidades, seriam perfeitos iguais.

Percebidos e observados o conjunto como um todo, é possível afirmar que a equipe que desenhou os Pictogramas dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 do Rio de Janeiro, foi bastante feliz e realizou um criterioso trabalho técnico, enviando inclusive os pictogramas projetados para que todas as federações de todos os esportes fizessem as considerações necessárias no projeto, apontando possíveis equívocos técnicos em elementos que deveriam ser melhor representados ou omitidos dos desenhos.

Mais uma vez, fica o elogio ao Comitê Olímpico pela preocupação com realizar um grande projeto e, enaltecer não apenas o evento, mas também o design brasileiro.

E vocês, leitores, gostaram do projeto? Vamos debater nos comentários.

Um abraço e até o próximo post.

 

Referências:

http://www.designweek.co.uk/news/rio-2016-olympic-pictograms-unveiled/3037489.article#.Unu0l5q_ol0.facebook

http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,pictogramas-dos-jogos-olimpicos-de-2016-sao-lancados-no-rio-de-janeiro,1094182,0.htm

http://abcdesign.com.br/por-assunto/designers/pictogramas-do-rio-2016/

http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/noticia/2013/11/conheca-os-pictogramas-oficiais-das-olimpiadas-e-paralimpiadas-de-2016.html

http://www.brainstorm9.com.br/42327/design/rio-2016-revelados-os-pictogramas-dos-jogos-olimpicos/

http://rio2016.com/pictogramas

http://rio2016.com.br/noticias/fotos/o-processo-criativo-dos-pictogramas

http://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/noticias/2013/11/07/Rio-2016-apresenta-pictogramas-dos-jogos.html

http://designechimarrao.com.br/pictogramas-olimpicos-e-paralimpicos/

http://www.sinalizarblog.com/index.php/pictogramas-rio-2016/

http://www.sinalizarblog.com/index.php/evolucao-dos-pictogramas-olimpicos/

http://www.sinalizarblog.com/index.php/jogos-olimpicos/

http://www.daltonmaag.com/

http://www.abstratil.com.br/2011/paixao-e-transformacao/

http://www.abstratil.com.br/2011/tatil-cria-a-marca-dos-jogos-paralimpicos-rio-2016/

http://www.youtube.com/watch?v=FHwveXBZJbI&feature=c4-overview&list=UU7hDxVb2UNs2-aloJl1FCvQ

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