Tipografia é parte indispensável em projectos de design gráfico, aliás o trabalho tipográfico é igualmente uma especialidade no sector por ser praticamente inútil imaginar projectos de comunicação sem pensar também nos tipos. Os processos de criação e uso da tipografia avançaram nos últimos tempos, com o grande avanço da tecnologia, distanciando-se, em termos de praticidade do que inventaram os chineses e do que Gutenberg desenvolveu no século XV.
Hoje, com um clique podemos trocar de uma para outra tipografia, temos uma grande variação ao nosso dispor. Numa pesquisa rápida é possível ter acesso a milhares de famílias tipográficas, disponíveis para uso em projectos de comunicação. Entretanto, o grande dilema começa quando se deve adequar a tipografia a um determinado problema, se considerarmos que o papel do design é resolver problemas, propor soluções, projectar o futuro. A tipografia precisa ser escolhida pensando no projecto como um todo, a ilustração pode ser boa, mas se a tipografia não for escolhida a rigor, a comunicação toda estará deturpada.
A escolha da tipografia pode se assemelhar à escolha de uma música. A música pode ser lenta, rápida, solitária, de alegria, de tristeza, romântica, etc. A tipografia tem a força para dar esses atributos ao projecto de comunicação.
Robert Bringhurst, em seu livro Elementos do Estilo Tipográfico (2005) afirma que “Um dos princípios da tipografia durável é, sempre, a legibilidade. Mas há um outro. Trata-se de um interesse, merecido ou não, que doa sua energia vital à página. Ele assume várias formas e recebe vários nomes, incluindo serenidade, vivacidade, riso, graça e alegria.
A palavra escrita, aplicando um determinado tipo, deve ser lida, vista e sentida. A tipografia ordena as letras e por sua causa antes de serem lidas, ganham uma força, permitem leitura, o espírito das palavras está entre as palavras, entre as letras. O primeiro critério da escolha de uma tipografia para um projecto não poder ser porque “é bonita”, mas sim porque é adequado para o projecto, porque conseguimos sentir que é capaz de comunicar devidamente o que pretende-se.
Em Planejamento visual gráfico (2003), Milton Ribeiro diz que “A finalidade da tipografia consiste em apresentar o pensamento escrito sob uma forma ordenada, clara e equilibrada, que facilite a leitura e, graficamente, concorde com seu espírito…ao imprimir-se a palavra escrita, procura-se interpretar com a maior fidelidade possível o seu sentido expressivo.”
As melhores capas de livros ganham expressão porque a tipografia foi antes de tudo, estudada, ela é também uma imagem do livro, ou seja, antes de lida transmite a ideia, a alma do que está escrito. Design não é para adornar, é para funcionar, resolver problemas concretos, pensar o futuro das coisas, do meio.
A tipografia não é objecto decorativo, deve ser escolhida por alguma razão. Não está lá porque “é linda” ou porque o designer gostou, deve estar porque responde ao problema e a isso aliar-se à estética necessária para comunicar correctamente.