Quem é do Rio de Janeiro, deve conhecer a fama da Supervia, a concessionária carioca de trens. Em 2016, a Light ameaçou a declarar falência da Supervia alegando que a mesma já tinha alcançado uma dívida de R$ 38 milhões. Você deve estar se perguntando “O que isso tem a ver com design?” É simples. Compreendo que esta dívida da Supervia pode ter sido um dos frutos de sua má gestão. Porém, por outro lado, não podemos deixar de perceber que aqui há um problema com fornecimento de energia que interfere na mobilidade urbana. E, nós, designers, podemos ajudar nesta questão. Como? Continue lendo e você já vai entender.
A empresa italiana Greenrail, com sede em Milão, é reconhecida mundialmente por ser inovadora no setor ferroviário e por ser uma das referências quando falamos de desenvolvimento industrial sustentável focado na economia circular. Criada por Giovanni Maria De Lisi, a Greenrail desenvolveu uma tecnologia incrível que possibilita a fabricação de trilhos com “matérias-primas secundárias”. O primeiro trecho ferroviário inteligente de nova geração foi apresentado na linha Reggio Emilia?—?Sassuolo, na Itália.
“Os trilhos da Greenrail são trilhos de ferrovia que têm as mesmas características mecânicas que os trilhos de concreto armado tradicionais, o que representa o padrão no mercado atual”, disse o fundador à CNBC.
Os trilhos são fabricados com uma mistura de borracha coletada nos ELTs (pneus em fim de vida, ou seja, aqueles pneus velhos que você não usa mais) e plástico nos resíduos urbanos. Esse projeto é protegido em escala mundial. A empresa registrou sua tecnologia em mais de 70 escritórios de patentes no mundo. E além disso, a empresa consegue produzir diversos dormentes, de acordo com os regulamentos técnicos internacionais específicos e as necessidades particulares dos clientes.
Todo o processo de design, prototipagem e teste dos produtos é desenvolvido pela própria empresa que se destaca cada vez mais como sinônima de inovação e sustentabilidade, colaborando com os principais centros de pesquisas e parceiros industriais.
O projeto pode ser ambientalmente correto, como já discutimos aqui, mas será que ele é economicamente viável? Claro sim! De acordo com a empresa, ao implementar esta nova tecnologia, o custo da manutenção cai em 50% e os trilhos possuem uma durabilidade muito maior, podendo alcançar até 50 anos a mais do que os tradicionais, que geralmente têm uma vida útil de 40 anos.
Para cada quilômetro de pista, os novos trilhos reutilizam até 35 toneladas de pneus altamente poluentes e difíceis de reciclar. Pode parecer muito para criar apenas um quilômetro de pista mas de acordo com o Serviço Social do Transporte (SEST) e com o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT), no Brasil são descartados por ano 450 mil toneladas de pneus. Isso equivale a 90 milhões de unidades utilizadas em carros de passeio. E apenas uma curiosidade: os pneus demoram, em média, 600 anos para se decomporem na natureza e podem, inclusive, servir de criadouros do mosquito Aedes Aegypti.
Para fechar, os novos dormentes são os únicos compatíveis com diferentes sistemas e dispositivos, como painéis fotovoltaicos para coleta de energia solar (dormente Greenrail Solar) e dispositivos para transmissão de dados de diagnósticos e segurança (dormente Greenrail LinkBox). “Os trilhos do trem são expostos ao Sol 90% das vezes; daqui vem a ideia de coletar energia solar e transformá-la em eletricidade”, acrescenta o CEO da empresa.
Viu como é possível projetar utilizando as diretrizes da sustentabilidade? Com este projeto, a empresa consegue resolver o problema da mobilidade urbana, do fornecimento de energia e da poluição causada pelos pneus e plásticos. 3 problemas com apenas 1 projeto. Que esta tecnologia sirva de inspiração para nós e vamos torcer para que chegue aqui no Brasil. Para conhecer o projeto, clique aqui! Até a próxima!