É inegável que a inteligência artificial deixou de ser tendência para se tornar realidade. Em um ritmo quase vertiginoso, ela invadiu áreas criativas como o design gráfico, a ilustração, o branding e até a direção de arte. E diante desse cenário, muitos profissionais se perguntam: o designer deve temer ou abraçar a IA? Mais ainda, é ético e legítimo um designer utilizar ferramentas baseadas em inteligência artificial em seus processos criativos?
Essa é uma discussão que extrapola o campo da tecnologia. Ela mexe com a identidade profissional de uma categoria historicamente marcada pela sensibilidade estética, pela intuição criativa e, sobretudo, pela autoria. O design, afinal, é (ou era?) uma atividade profundamente humana, mas agora temos algoritmos que geram layouts em segundos, criam logotipos do zero e “pensam” soluções visuais com uma agilidade inatingível para qualquer ser humano.
Não há dúvidas de que a IA pode ser uma ferramenta poderosa. Ela otimiza processos, automatiza tarefas repetitivas e permite que o designer foque naquilo que realmente importa: pensar o conceito, analisar o público, resolver o problema visual. O ganho de tempo e produtividade é real e, em muitos casos, necessário.
Se a IA faz o “design”, o que sobra para o designer?

É aí que entra a reflexão crítica. Usar IA de forma cega ou preguiçosa é abrir mão da essência do design: a intenção. Um visual bonito não é, necessariamente, um design eficiente. A IA ainda não entende contexto social, nuances culturais, simbologias locais, tudo aquilo que diferencia uma solução genérica de um projeto memorável. E isso é algo que não se aprende apenas com dados, exige vivência, escuta, empatia.
Além disso, há a questão da autoria. Quem assina um trabalho criado majoritariamente por uma IA?
O designer que apertou o botão? O programador que criou o modelo? A coletividade que treinou os dados? Em um cenário onde o plágio e a apropriação se tornam riscos concretos, o uso ético da IA no design passa também por uma reinvenção das regras do jogo.
Portanto, o designer pode (e talvez deva) usar a inteligência artificial, mas de forma consciente e com propósito. Como ferramenta e não como substituto. O futuro do design não é escolher entre homem ou máquina. É encontrar o ponto de equilíbrio onde ambos coexistam, colaborando na criação de soluções mais humanas, relevantes e transformadoras.
Se há algo que a IA ainda não tem e talvez nunca terá é repertório emocional. E é aí que os designers entram.

1 Comentário
Texto brilhante! AI é uma ferramenta poderosa e que pode e deve ajudar. Mas há ressalvas ao seu uso.