Não é novidade para ninguém que uma história bem contada cativa o público e causa engajamento, não adianta ter atores incríveis ou diretores consagrados em um projeto se o roteiro não for bom, isso pode trazer um prejuízo enorme para os estúdios.
Desde o ínicio dos tempos temos contadores de histórias, sendo eles os responsáveis por passar os contos ou lendas para frente, sempre de uma maneira passiva, onde o público só escuta e não dialoga com os mesmos. Com a tecnologia esse conceito vem mudando e as pessoas que eram somente os receptores agora possuem voz ativa, participando ativamente das narrativas, trazendo novos formatos de mídia, como por exemplo os filmes interativos.
Mas isso é algo novo?
De maneira alguma! Se analisarmos os vídeo games que estão por aqui desde os anos 70, é uma mídia que te permite interação com a narrativa e faz com que os jogadores escolham os seus próprios caminhos na maioria das vezes. O que diferencia muito do conceito dos filmes interativos é que esses jogos antigamente não eram filmes, não possuindo direção de filmagem ou atuação com atores, com um foco bem maior na jogabilidade.
Com o passar dos anos a tecnologia ajudou a evoluir os gráficos, passando dos poucos pixels dos primeiros jogos para personagens tão bem feitos que muitas vezes beira a perfeição. Por conta dessa evolução começou a surgir críticas aos novos jogos sobre a falta de jogabilidade dos títulos mais recentes, sendo que o foco estaria bem maior nos gráficos e pouco na interação e história, onde os consumidores mais antigos estariam perdendo o interesse.
Essas novas mecânicas que geram tanta revolta acaba sendo bem similar ao conceito dos filmes interativos, com o foco bem maior em escolhas dos personagens do que um formato de puzzle ou jogos de plataforma.
Hoje em dia esses jogos acabam tendo que ter uma direção de filmagem e por muitas vezes até captura de movimento de atores profissionais, embora ainda tenha muito do trabalho dos artistas digitais para compor todo o design do jogo.
Mas e se fizermos esse mesmo formato como se fosse realmente um filme tradicional?
Assim surge os filmes interativos que hoje são tendência no mercado, algo que está presente em plataformas de vídeo como YouTube e Netflix.
Talvez o filme que mais chamou a atenção do público com esse conceito recentemente foi o Bandersnatch, derivado da famosa série Black Mirror, com o propósito de dar o poder ao telespectador de escolher quais os caminhos os personagens deveriam seguir durante a narrativa.
A crítica que o filme recebeu é que as escolhas não interferiu ou interferiu pouco na narrativa, bem similar a mais uma crítica que os antigos jogadores tem aos novos títulos. A grande questão que surgiu na época do lançamento é se a produção tinha esse propósito mesmo, mostrando que não importa as nossas escolhas o final será sempre o mesmo, ou faltou uma construção melhor do projeto?
Tratando-se de Black Mirror, reflexões como essa sempre estará presente, agora se essa tendência realmente veio para ficar, os produtores devem pensar que nem tudo segue esse conceito e a narrativa deve sustentar essas árvores de decisão, afinal de contas, se for pra dar poder ao telespectador e levá-lo para o mesmo lugar, independente das escolhas, essa história de interação deixa de fazer sentido.