Sabe-se que o azulejo aparece como material de revestimento com forte traço da herança construtiva portuguesa no Brasil, de uso corrente nas edificações coloniais, é recuperado no começo do século XX no movimento de formação de uma arquitetura brasileira de caráter nacional, primeiro no neocolonial, e depois pelos modernos. A obra de Athos Bulcão parte dessa retomada e avança em elaborações formais geométrico-abstratas, que atualiza o sentido do azulejo como um protagonista da obra arquitetônica.
Dentro da produção moderna e contemporânea do design, das artes plásticas e arquitetura brasileira, Athos Bulcão se destaca com uma obra que reclama justificados estudos e questionamentos. Considerado um artista múltiplo, pela sua facilidade em penetrar e trabalhar em diversas áreas das artes plásticas e também por possuir domínio de técnicas diferentes.
Contudo, é através da sua intervenção artística pelo uso de painéis de azulejos que ele alcança mais amplo reconhecimento. Compreendendo sua obra no contexto das artes e da arquitetura brasileira no século XX, a análise dos seus painéis de azulejos revela o intento de operar no sentido de uma integração com o espaço arquitetônico, dotando-o de forte teor de uma arte pública. Além disso, o azulejo é entendido como um produto modular, portanto possuidor de características de design.
Escola Classe 407 Norte.
Mercado das Flores (círculo não se fecha).
Sala de espera da Ressonância Magnética, Rede Sarah Brasília, 1981.
Painel de azulejos, Parada de descanso, Parque da cidade, 1985.
Athos Bulcão é um artista com enorme sensibilidade para trabalhos em espaços públicos, produzindo obras que se incorporaram à paisagem e se encontram acessíveis aos cidadãos, aos passantes em geral, não gosta da obra confinada em museus, feita para apreciação de poucos. É a favor da democracia, da arte social feita para o povo, talvez integrado também ao contexto político vivido por ele. O interesse e o respeito de Athos focam-se no público que entra em contato com sua obra por acidente, no transeunte, a caminho de casa ou do trabalho, naquele que não tem conhecimento algum de artes plásticas. É a ele que Athos consagra sua trajetória artística.
Nos painéis de azulejos, o módulo, a unidade mínima e indivisível se mantém, pois o desenho está sempre dentro dos limites da peça de azulejo, geralmente quadrada, 15×15 cm ou 20×20 cm. Porém, ao unir uma peça as outras quatro, e assim sucessivamente, o desenho se expande para ultrapassar os limites iniciais, ganhando escala imprevista, multiplicando-se virtualmente ao infinito e resultando na expansão do desenho para a escala urbana, sem perda de peso ou complexidade. Ao olhar, de imediato se vê o todo, em seguida se vê a parte, depois com um olhar mais atento se notam as relações estabelecidas entre eles, de uma análise combinatória que guia a composição. Em alguns painéis, a colocação resulta de um padrão estabelecido: 3 x 1, quando a cada quatro peças, apenas uma pode ter variações.
Athos Bulcão encara o azulejo como modulo, associando-o a um produto com fortes características industriais baseadas no design modular. Na obra de Athos o foco está no azulejo, pensado para ser usado como suporte de um revestimento arquitetônico, transformando-se em painel. Ao mesmo tempo que destaca a linguagem presente nas obras, apresentando sua intenção, o que ela fala para o público passante que ocupa esses espaços construídos.
Athos Bulcão se estaca na integração da arte, arquitetura e design. O artista soube valorizar os espaços, criando uma identidade e linguagem próprias, usando a arte em função do espaço e dos usuários. Atento às influencias do contexto artístico no Brasil, optou por soluções geométricas como temas, ele trabalha com pensamento de designer, em função da arte e arquitetura, destacando-a e valorizando-a.