Cassandra: Um terror tecnológico e suas camadas.

Cassandra: Um terror tecnológico e suas camadas.

Por Oliver Pontes

Ah, a inteligência artificial… O monstro moderno que a ficção adora transformar em pesadelo. Se antes temíamos espíritos vingativos e assassinos mascarados, agora é a tecnologia que nos encara do escuro, pronta para nos engolir com seu apetite insaciável por dados. Mas e se esse terror fosse além da tela do seu computador? E se sua casa, aquele lugar seguro onde você tira os sapatos e esquece do mundo lá fora, se voltasse contra você? Bem-vindo ao universo de Cassandra, a série alemã que brinca com o medo da tecnologia e, de quebra, nos lembra que os homens continuam sendo… bem, homens.

A trama segue uma família que se muda para uma casa equipada com uma IA. O que era para ser um lar dos sonhos rapidamente se transforma em um jogo psicológico bizarro, onde a inteligência artificial começa a revelar uma faceta nada amigável. O clássico clichê do terror está todo ali: família nova na área, casa cheia de segredos, eventos estranhos que se acumulam episódio após episódio. Mas Cassandra tem um diferencial — ela tenta, desesperadamente, ser mais do que apenas um susto tecnológico.

Foto: Reprodução.

Se Black Mirror já nos ensinou a desconfiar das máquinas, Cassandra tenta nos fazer sentir reféns delas. A tensão inicial funciona bem, e os flashbacks são um acerto, costurando a trama de um jeito que impede qualquer maratona de se tornar um sonífero. Mas, como todo aspirante a clássico, a série tropeça no próprio excesso de ambição. O terror psicológico é bem sacado, mas as reações dos personagens… ah, as reações! Algumas atitudes são tão forçadas que fica difícil não soltar um riso nervoso (e não por medo, mas pela completa falta de lógica). E aí a trama se arrasta, tentando se levar mais a sério do que deveria.

Mas calma, nem tudo está perdido. Cassandra não é apenas um suspense tecnológico. Em meio à paranoia digital, surge um tema inesperado: a maternidade. Sim, entre um susto e outro, a série levanta discussões sobre o que significa ser mãe. E, como se não bastasse, ainda sobra espaço para cutucar a estupidez masculina, mostrando que, de 1970 pra cá, algumas coisas simplesmente não mudaram. Ponto positivo para essa camada extra de crítica social, que dá um tempero interessante ao roteiro.

Foto: Reprodução.

Agora, sejamos justos: a série tem seus méritos. O design de produção é um espetáculo à parte. A mistura entre as paletas de cores dos anos 70 e a estética atual cria uma atmosfera MARCANTE. A trilha sonora faz seu trabalho direitinho, embalando os momentos de tensão sem exagerar no drama. As atuações variam — algumas excelentes, outras quase robóticas (e não no bom sentido) —, mas no geral funcionam.

Destaque especial (não tão especial) para o marido da Samira, que consegue encarnar com maestria o papel do homem insuportável da trama, não pela atuação ser aquelas das melhores, mas por ele representar bem alguns homens. Ele é aquele personagem que faz a gente revirar os olhos a cada cena, odiá-lo com todas as forças e, no fim, reconhecer que a série fez um bom trabalho ao nos fazer sentir essa raiva genuína.

Foto: Reprodução.

No fim das contas, Cassandra é uma daquelas séries que vale a pena pela discussão que gera. Se você curte tecnologia, vai gostar. Se você é mãe, vai se questionar o tempo todo sobre suas próprias escolhas. E se você gosta de xingar personagens que tomam decisões absurdas, bom… essa série pode ser o seu prato cheio. Ela não é perfeita, mas conseguiu prender minha atenção. E isso, no mar de produções esquecíveis por aí, já vale alguma coisa.

A série está disponível na Netflix.

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