Design Como Melhorar Seu Storytelling Lendo Quadrinhos

Como Melhorar Seu Storytelling Lendo Quadrinhos

Por Victor Maia

No mundo moderno da comunicação, ser transmídia é algo comum; mas para se diferenciar num mundo social e cheio de ruídos é importante saber como contar sua história nas diferentes plataformas disponíveis pelo mundo.

Gary Vaynerchuk escreveu em seu livro “Jab, jab, jab, right hook” dicas efetivas de como abordar cada plataforma social existente.

Aprendi muito lendo esse livro e seguindo seus ensinamentos. Mas houve um outro hábito que ajudou (e muito) a minha capacidade de storytelling: a leitura de quadrinhos e graphic novels. Entre os 13 e 22 anos fui um consumidor ferrenho, comprando muitos comics que aqui no Brasil, em sua maioria, eram distribuídos pela Editora Panini.

Diferentemente dos livros, os quadrinhos alimentavam o poder de visualização que sempre tive. Junto aos RPG`s tradicionais os quadrinhos foram responsáveis fortes pela minha vocação para a área de comunicação e a capacidade de contar histórias. Mas como assim? A capacidade de abstração necessária, o envolvimento direto no enredo e capacidade de condução do olhar que os quadrinhos possuem ajudam em nossa capacidade de contar histórias.

Dizem que existe uma regra: para se escrever bem, precisa-se ler muito. Acredito que existe, também, uma regra relativa ao storytelling.

Para se contar boas histórias, precisa-se ter lido e vivido boas histórias.

Não vejo outro caminho.

Como é dito por Scott McCloud em sua palestra num TED, quadrinhos é uma mídia visual, mas ele tem a capacidade de abraçar todos os sentidos com ele. Conseguimos perceber através da forma como as histórias são apresentadas, linearidade e continuidade das imagens é o que ajuda a entender a relação de tempo X espaço na história. Onomatopeias nos auxiliam a perceber efeitos sonoros, cores e traços estilísticos nos ajudam a entender ambientação e por aí vai.

Como é importante frisar, a arte de contar histórias está ligada a natureza humana. É algo que fazemos desde o início da sociedade, nos reunirmos em torno de fogueiras e passar contos populares, sabedorias e até mesmo contar histórias de caçadas ou acontecimentos. É uma das coisas que define sociedade como sociedade; e os quadrinhos conseguem levar isso ao patamar da história fantasiosa, representação da imaginação e da criatividade humana.

As pessoas que contam e acreditam em histórias iguais possuem valores semelhantes, compartilhados. Trabalham melhor a empatia. Em resumo, a visão de mundo que temos é, na verdade, um resumo da coleção de histórias e fatos em que acreditamos.

Logo, uma boa história é fundamental para criar uma sensação de proximidade.

Histórias compartilhadas, valores compartilhados, visões de mundo compartilhadas. A ideia de pertencer a um grupo específico, a uma tribo.

Quando mais novo, recém admitido no curso de Design Gráfico, eu tinha a aspiração de trabalhar como ilustrador e ,como admirador de comic books, seguia todos os possíveis artistas.

Tudo começou nas aulas de Desenho Artístico. Conhecer o trabalho de grandes artistas que influenciaram fortemente a indústria moderna de quadrinhos foi incrível. Loomis, Bridgman e Hogarth foram figuras constantes sobre minha prancheta de estudos. Meus sketchbooks ficaram cheios de reproduções, tentando entender e reproduzir seus traços, para que pudesse desenvolver meu próprio.

Foi, então, que aos poucos fui entendendo e conhecendo artistas mais modernos, inclusive muitos brasileiros. Mas existiam alguns que sempre me chamaram a atenção: Frank Miller, Mike Mignola e Alvin Lee. Cada um desses artistas possui uma característica bem diferenciada em seus traços, na forma de contar suas histórias através do desenho.

Frank Miller foi responsável por alguns ícones do storytelling nos quadrinhos: Sin City, Batman: O Cavaleiro das Trevas; 300 e Demolidor são apenas algumas de suas obras, que com certeza influenciaram diversos profissionais. Tanto que hoje foram reproduzidos para o audiovisual em filmes e séries sucesso de crítica. Mike Mignola é o criador do meu herói – ou anti-herói – preferido: Hellboy. Sua estética fugiu a tudo que era padrão da época e criou um novo método de construir narrativas visuais.

Por último, mas não menos importante, Alvin Lee.

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O garoto prodígio começou sua carreira com 17 anos e ,ainda hoje, é um dos artistas mais envolvidos no mercado de quadrinhos. Seu traço é característico, reconhecível para qualquer um que conheça o mínimo do mercado de comics e games. Lee é o desenhista responsável pela arte de Street Fighter, além de ter desenhado para empresas do ramo de comics como: Wildstorm, DC Comics e outras.

Além de sua atuação para o exigente mercado de quadrinhos, Alvin Lee também fez trabalhos para publicidade, como a campanha para a marca Oakley.

Além de artista notoriamente reconhecido pelo mercado, Lee também é instrutor na schoolism.com; escola criada pelo Bobby Chiu. Sua atuação na área de educação não pára por aí. Ele já lançou um DVD instrutivo pela Gnomon Workshop, que é uma mais valia para todos aqueles que estudam ilustração e comics. Composição de cena e formas de traçado, são algumas das lições dadas por ele nesse vídeo.

Vale muito a pena conferir seu método de desenhar e como ele consegue englobar uma forma de contar uma história, que muitas vezes transparece apenas através de um sketch.

Você pode até se perguntar o por que desse conteúdo.

Mas existe um ponto que acredito que, em qualquer coisa na vida, para aprendermos com maestria e podermos aprimorar, devemos estudar os mestres, as referências. Literalmente, dormir sobre seus trabalhos, nos cansarmos de tanto estudar seus trabalhos para que possamos desconstruir seus estilos e construirmos um próprio.

Não posso lhes dizer que fiz isso realmente, pois desisti de minha carreira como ilustrador; mas uma coisa posso afirmar: o tempo dedicado para esse tipo de estudo me auxilia, e já auxiliou, no desenvolvimento de diversas outras atividades durante minha carreira. Atualmente, o aprendizado me auxilia a entender como construir melhores histórias, para sempre tentar entregar um artigo melhor para vocês.

Entender como contar boas história é uma tarefa bem árdua, mas sempre possível de se aprimorar, pois a forma de se contar história varia de acordo com a mídia e isso temos bem claro atualmente. Vemos grandes YouTubers, como Casey Neistat, debruçarem todo o seu sucesso na forma de se contar histórias. Como ele mesmo diz, não importa a mídia que se escolha utilizar, o importante é ter conhecimento o suficiente para entender como contar uma boa história.

Por isso, quando entendemos que o design e o storytelling caminham juntos, a possibilidade de amplificarmos os resultados são muito maiores; afinal de contas, entendemos que o que vem resumindo as relações humanas têm sido boas histórias. Perceber que a publicidade vem se apoiando no storytelling em suas campanhas, prestar atenção no quanto que conteúdo vem crescendo em sua curva de atenção, etc.

Conclusão

Quando entendemos que o caminho natural da comunicação tem sido o inverso do que ocorria nos últimos tempos, percebemos que cada vez mais saber contar boas histórias tem se tornado uma disciplina relevante para o mercado.

O grande aumento de usuários de AdBlockers, a queda vertiginosa de atenção dada a programas de televisão, a ascensão do Netflix e a conquista do smartphone como tela principal nos faz pensar que quanto mais nativos a cada mídia a história for, mais importante deve ser a habilidade de contar a história sem sofrer ruídos. Por isso acredito ser tão importante o entendimento da cada canal existente, e isso não é diferente com os quadrinhos. Entender como os bons artistas trabalham seu envolvimento com cada história, entender como representações visuais podem afetar cada um dos sentidos…enfim, realmente desconstruir o estilo de contar história.

Como você acredita que pode ser a melhor forma de storytelling? Você tem tido contato com isso, gosta? Deixe seu comentário e conte-nos mais sobre suas histórias.

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