Contextos são envolventes: como um Designer deveria observar tudo em 3a pessoa, sem ‘entrar na casinha’

Contextos são envolventes: como um Designer deveria observar tudo em 3a pessoa, sem ‘entrar na casinha’

Por Ciro Leimig

Lendo esta provocação do professor André Neves no Linkedin sobre imersão no processo criativo, despertei para a necessiade de trazer à tona o papel do designer enquanto projetista analítico, inspirado inclusive pelo método científico. Extrapolando projetos pontuais de identidade visual ou criação de novos produtos, há um crescente interesse pelo design do ponto de vista estratégico dos negócios e nós, enquanto projetistas, podemos sim expandir nossas atuações no endosso de projetos mais eficientes e sustentáveis, habilitando a partir das medotologias de design processos de inovação mais fluidos e controlados dentro das empresas, gerando valor em muitas direções.

“muitos designers, especialmente os encantados por ux e seus magos, hipervalorizam pesquisas com usuários, aquelas baseadas em formulários online ou entrevistas.”

André Neves, Doutor em design pela UFPE

Esse é um ponto de partida crucial! Considerar que devemos gerar valor sem necessariamente perguntar coisas previamente aos potenciais usuários pode soar contraintuitivo, especialmente para quem não lida com o design no dia a dia, mas não é! Entender que novos produtos/serviços são hipóteses que precisam ser validadas em camadas, controlando recursos, e que os potenciais usuários são parte desse estudo e, portanto, estão imersos no contexto ao ponto de muitas vezes não terem consciência sobre ele, é crucial.

É um fato: as pessoas nem sempre (ou quase nunca) sabem do que realmente precisam, e ‘querer’ algo diz muito mais sobre as oportunidades que nós temos à mesa do que ‘ter consciência’ sobre o que deveria ser lançado no mercado… Se um produto inovador X não está posto ainda, como as pessoas podem querer algo que nem existe nos seus contextos? Poucos têm esse tipo de visão. E assim, projetos que focam em pesquisas com usuários acabam gerando soluções do passado e negligenciando as do futuro.

O designer precisa conhecer a fundo o contexto, mantendo a sua perspectiva em 3a pessoa, como um cientista que observa de forma analítica e interfere apenas no momento de validar o conhecimento acerca do que está sendo construído. O observador olha para a ‘casinha’ (contexto do mercado), entende quem está lá dentro (agentes), quais são suas dores ou o que poderiam ser suas aspirações (oportunidades), como interagem e como poderiam interagir melhor (comunidades), e, compreendendo seus padrões a partir de dados, usa das suas capacidades criativas para gerar hipóteses, experimentar, maturar e escalar experiências que interferem e mudam o próprio contexto das pessoas. E isso é cíclico! Então, seja para proteger o projeto de visões do passado atreladas ao contexto presente, seja para proteger o projeto das suas próprias emoções, é importante não deixar-se ‘entrar na casinha’. Do contrário, você sempre correrá o risco de criar soluções com vida útil pequena, semelhantes às já postas e que logo deixarão de gerar valor porque os contextos mudam.

“designers, os de verdade, não seguem tendências, criam tendências, provocam mudanças, transcendem o óbvio.”

André Neves, Doutor em design pela UFPE

A importância do design vem crescendo dentro das organizações e essa é uma ótima notícia, pelo menos para os que não esqueceram que ser designer é, no final das contas, ser projetista. Temos muito o que colaborar com pequenos, médios e grandes negócios em um mundo tão denso de problemas a serem resolvidos e possibilidades a serem exploradas conscientemente.

arte da capa Extraordinary Observer by Enkel Dika

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2 Comentários

Célia Lins 26 de julho de 2023 - 14:31

Muito bom o texto! Concordo e discordo em alguns pontos: tenho lido bastante sobre design autoral ultimamente, e, uns anos atrás, tive um diálogo com o pessoal da Cosac Naify que para além de ouvir, observar, nós também imprimimos a nossa marca nos projetos que trabalhamos, que isso é importante e que nos valoriza como profissional.

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Ciro Leimig 26 de julho de 2023 - 14:47

Gosto dessa visão e concordo, desde q os objetivos específicos do projeto sejam atendidos / protegidos do Narciso do designer :)

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