Artes As Cores falam

As Cores falam

Por Design Culture

No processo de construção de produtos gráficos, a cor é um dos atributos de maior relevância. Ela é uma qualidade dos objetos, no entanto, para sua compreensão real, deve-se analisar o caminho percorrido pela cor do objeto ao cérebro.

Johann Wolfgang Goethe concluiu com suas pesquisas que a cor vai além de um fenômeno físico, mas é também um fenômeno fisiológico e psíquico.

Diagrama dos poderes da alma – Goethe.

Diagrama dos poderes da alma – Goethe.

 

Segundo ele as cores amarelo, laranja e vermelho-alaranjado despertam o lado mais ativo do ser humano, pois são cores estimulantes e vivas. Goethe define cor como “uma informação visual, causada por um estímulo físico, percebida pelos olhos e decodificada pelo cérebro”.

Ao se utilizar determinada cor intencionalmente, está se conferindo a ela a condição de signo. Ela será percebida e decifrada pela visão, interpretada pela cognição e transformada numa informação. A cor tem um aspecto funcional com relação à comunicação visual e à psicologia e, em função disso, o designer deve estudar muito bem o uso das cores em seus projetos.

A percepção da imagem exige a participação de vários campos do sistema neurológico. Inicia-se com a função sensorial (visão), passa por outras funções, sendo concluída pela função integrativa, que irá processar a informação visual, gerando pensamentos e emoções, interpretando-a e atribuindo à imagem um significado. Completando esse caminho de integração de sentidos, a cor não pode ser percebida individualmente, ela trabalha em conjunto com os outros atributos da imagem na formação completa de sua percepção.

Como se pode perceber, a leitura de uma imagem passa por vários pontos de ligação, mas todos trabalham para unificar as percepções e consolidar um sentido único para o que o olho vê. A cor tem um papel determinante no fecho desse entendimento. No intuito de se obter uma composição visual cromática agradável, deve-se buscar a harmonia. Para isso, é necessário estudar as interações entre as cores, visando o equilíbrio das forças.

Disco de cores desenvolvido por Itten.

Disco de cores desenvolvido por Itten.

Podem-se considerar três tipos de códigos na construção da comunicação pelo uso das cores: os códigos primários, que se referem à predisposição humana na leitura das cores, o código da construção físico-química, relacionados aos estímulos, à percepção e à cognição da informação, e os códigos de regras, hereditariamente determinados.

Através de estudos sobre a cor buscando decifrar esses códigos, pode-se concluir que as imagens com maior iluminação exigem menor esforço da visão o que, consequentemente, é mais agradável ao receptor. O amarelo é considerada a mais luminosa das cores. O seu uso provoca maior participação do receptor e também maior atenção. Além disso, é a cor que melhor contribui para a fixação da informação na memória. Outra vantagem do uso de uma cor luminosa é que ela possibilita melhor qualidade da imagem percebida pelo receptor, pois como exige menos abertura pupilar e, portanto, maior ajuste focal, torna visível além do objeto principal todos os elementos do campo visual. Já o verde é a cor que melhor simboliza o equilíbrio, principalmente por ser a mistura de duas cores simbolicamente opostas: o azul e o amarelo, ou luz e sombra. Segundo Kandinsky:
“O verde é o ponto ideal de equilíbrio na mistura dessas duas cores diametralmente opostas e em tudo diferentes. Os movimentos horizontais anulam-se. Assim como se anulam os movimentos excêntricos e concêntricos. Tudo fica em repouso […]”

Temos que considerar também o conteúdo semântico das cores e formas. Esses elementos visuais possuem um conteúdo intrínseco próprio, capaz de agir como estímulo psicológico. Kandinsky faz relações entre as cores básicas e as formas básicas. O amarelo estaria relacionado ao triângulo, por sua propriedade de irradiação, que avança em todas as direções. O azul se relacionaria com o círculo, por transmitir profundidade e por voltar-se para o centro, e o vermelho estaria ligado ao quadrado, por sua condição de adaptar-se tanto ao quente (vermelho-alaranjado) quanto ao frio (vermelho-violáceo) e, portanto, podendo ser representado por uma forma intermediária entre o triângulo e o círculo.

 As três cores básicas e as três formas geométricas. Ilustração baseada em conceito de Kandinsky.

As três cores básicas e as três formas geométricas. Ilustração baseada em conceito de Kandinsky.

Kandinsky faz ainda uma série de outras associações com as cores que considera as principais. Seguem algumas delas:

Amarelo: símbolo de fonte de luz. Vai ao encontro do espectador. Cor fascinante, uma explosão de energia. A mais quente das cores, e também a mais provocativa.

Verde: Equilíbrio entre as forças do azul e do amarelo. Repouso, calma. Passividade saudável, repleta de satisfação. É tonificante e representa a cor da natureza em seu momento de maior vitalidade e exuberância. Ao ser clareado com a adição do amarelo, representa juventude e alegria, força ativa.

Vermelho: Imensa e irresistível potência. Borbulha em si mesma. Cor autoconfiante, efervescente. Evoca triunfo, decisão, paixão.

Laranja: Expansão. Ativa, saúde, força, energia.

Fechando essa trama de relações que envolvem a percepção da cor, Kandinsky apresenta sua definição:

“A cor é […] um meio para se exercer influência direta sobre a alma. A cor é a tecla. O olho é o martelo. A alma é o piano de inúmeras cordas. Quanto ao artista, é a mão que, com a ajuda desta ou daquela tecla, obtém da alma a vibração certa.”

A cor tem significado determinante num projeto de design. Utilizada da maneira correta, ela pode ser um fator definitivo para a compreensão e reforço da mensagem.

 

Fontes:

A cor no processo criativo: um estudo sobre a Bauhaus e a teoria de Goethe. Lillian Miller Barros, 2006.

A cor como informação: a construção biofísica, linguística e cultural da simbologia das cores. Luciano Guimarães, 2000.

Design e Comunicação Visual. Bruno Munari (tradução Daniel Santana), 1997.

www.uol.com.br

Gisele Monteiro

 

 

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