Design Design & Identidade Local

Design & Identidade Local

Por Islard Rocha

Vivemos em um país em que se fosse preciso ser definido com apenas uma palavra, esta palavra, particularmente, seria diversidade. Diante disto, fiquei me questionando se existe de fato a importância de nossos produtos possuírem uma identidade bem definida.

Felizmente, não precisei pesquisar durante muito tempo para entender um pouco mais sobre identidade local. Pois, encontrei o artigo “O Design e a Valorização da Identidade Local”, dos autores R. F. Pichler e C. I. de Mello que me esclareceu muita coisa sobre este tema tão interessante.

Sendo assim, comecemos de fato a entender sobre Design e Identidade Local

O Brasil possui uma diversidade cultural intensa e rica, mas isso não é novidade para ninguém. Afinal, cada região do nosso país possui características próprias e distintas das demais.

No entanto, assim como outros países, o Brasil faz parte do grande fenômeno da globalização, que segundo Giddens, possui como principal característica os laços mundiais. Ou seja, quando eventos que ocorrem em uma parte do nosso planeta, afetam comunidades e relações sociais do outro lado. Extinguindo assim, as fronteiras geográficas que temos, tornando possível que um indivíduo passe a ser multicultural.

Porém, segundo Adélia Borges, as culturas locais vêm passando por um processo de valorização. Uma vez que passa a existir a preocupação em relação ao resgate de técnicas e tradições locais e estas passam a permear cada vez mais as discussões em diversas áreas do conhecimento. Afinal, ainda de acordo com Giddens, a globalização faz com que ninguém possa se eximir de gerar ou sofrer as interferências deste processo.

De acordo com Pichler e Mello, o Design é a atividade responsável pela criação, inovação e invenção de artefatos que irão compor a cultura material de determinado local, pois este deve avaliar em seu processo de desenvolvimento os símbolos, informações e comportamentos da cultura no qual o produto será inserido.

No entanto, eu iria um pouco mais longe em afirmar que o Design é responsável não somente pela criação de artefatos que irão compor a cultura material, mas também da cultura imaterial.

Segundo o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o patrimônio cultural imaterial da humanidade é composto pelas práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu Patrimônio Cultural.

Afinal, podemos criar símbolos ou até mesmos ilustrações (representações gráficas) que passem a fazer parte da cultura de determinado povo.

Dito isto, Fiafgiani defende que, mediante os efeitos da globalização, onde a qualidade não é mais um diferencial dos produtos e serviços, mas um aspecto inseparável, a inovação pode estar no apelo original, na emoção e nos sentimentos e símbolos de sua cultura, aproximando-o do objetivo em questão.

Ou seja, faz se necessário atingir o público-alvo não mais apenas com produtos que executam suas funções de maneira satisfatória. Agora, é preciso disponibilizar produtos que transmitam emoções e que faça com que o público se identifique com ele. É preciso que sejam criados produtos com identidade local. Devo esclarecer aqui, que para mim, a palavra “produto” não se refere apenas à objetos palpáveis. Mas sim, a qualquer resultado de projeto, seja uma peça gráfica para web ou uma luminária.

O ICSID – Internacional Council of Societies of Industrial Design, define o Design como atividade criativa que tem por finalidade estabelecer as qualidades multifacetadas em todo o ciclo de vida de um produto, seus processos, serviços e sistemas. O Design é, portanto, o fator central na inovação tecnológica e humanizadora e crucial no intercâmbio econômico e cultural.

Segundo Pichler e Mello, é possível perceber o direcionamento da atividade de design para preocupações em vários aspectos além dos estéticos formais, levando em consideração os demais fatores sociais, culturais e de âmbito global que interferem no desenvolvimento de produtos e que fazem deste um artefato realmente necessário e coerente com as demandas e preocupações atuais.

Desta forma, acredito que todos saibamos que ao projetamos para um público-alvo específico demais, precisamos nos aprofundar cada vez mais em seus aspectos culturais para descobrir como iremos alcança-los. Mas, será que esse processo é simples assim?

De acordo com Manzini, o designer deve começar compreendendo o contexto no qual irá atuar e gerar transformações. Deve compreender as mudanças já em progresso da sociedade, ou seja, o designer precisa compreender o impacto social que irá gerar tudo que aquilo que ele irá criar.

Ao se falar de um novo modo de se pensar no processo de Design, Mazini ainda afirma que a principal mudança está na situação do designer como único criador e autor de um produto, para um agente capaz de potencializar, instigar e promover conhecimento nas sociedades, para que estas criem e encontrem as melhores soluções para os seus problemas, seja através do desenvolvimento de produtos ou serviços.

Ou seja, fica claro que é necessário envolver outros autores no processo de desenvolvimento para que se possa alcançar produtos ou serviços com identidade local.

Pensando em tudo isto, Kruchen ressalva oito ações essenciais para o desenvolvimento de produtos locais, são eles:

  • Reconhecer (compreender o espaço onde esse produto será produzido, sua história, qualidades, estilos de vida das comunidades, seu patrimônio material e imaterial, entre outros);
  • Ativar (integrar competências, investindo no desenvolvimento de uma visão integrada de todos os atores envolvidos e realizar pesquisas e assessorar questões legais e financeiras);
  • Comunicar (informar sobre os modos de fazer tradicionais do produtos, sua história e origem);
  • Proteger (fortalecer a imagem do território, desenvolvendo uma imagem clara e coesa do território através dos produtos);
  • Apoiar (valorizar o saber-fazer e buscar formas e novas tecnologias que auxiliem, mas não de
  • Promover (conscientizar e sensibilizar produtores e governantes na busca pela qualidade de vida da comunidade no sentido de utilizar de forma sustentável seus recursos, fortalecer a produção com políticas públicas voltadas também à valorização da identidade local, envolver empresários e indústrias locais e difundir valores relacionados à sustentabilidade a toda comunidade);
  • Desenvolver (produtos e serviços que respeitem e valorizem o local através do conhecimento dos potenciais locais e do fomento de atividades relacionadas como turismo, festas e feiras);
  • Consolidar (criar redes de cooperação entre todos os atores locais e agentes de inovações do território).

No método proposto por Kruchen, o designer passa a desempenhar um papel fundamental de liderança com o desafio de mediar costumes e tradições para que se possa trazer à tona os valores e qualidade locais.

Agora que Kruchen nos mostrou um caminho para projetarmos produtos com identidade local nos resta desenvolver cada vez mais projetos nessa linha para valorizarmos nossa cultura.

 

REFERÊNCIAS

ICSID. About us. Canadá, 2002. Disponível em: < http://www.icsid.org/about/about.htm>. Acesso em: fevereiro de 2017.

IPHAN. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/>. Acesso em: fevereiro de 2017.

KRUCHEN, L. Design e território: valorização de identidades e produtos locais. São Paulo: Studio Nobel, 2009.

MANZINI, E. Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-papers, 2008.

PICHLER, R. F.; MELLO, C. I. O Design e a Valorização da Identidade Local. UFRGS – PGDesign, Santa Maria: Rev: Design & Tecnologia, n 4.

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