O filme vencedor do Globo de Ouro 2018 de melhor longa estrangeiro estreia na próxima quinta-feira no Brasil apresentando os variados dramas suportados por uma mulher que perde o marido e o único filho em um atentado terrorista. O alemão Em Pedaços (Aus Dem Nichts) do diretor Faith Akin (Contra a Parede) narra a conturbação emocional de uma jovem viúva que se vê no meio de uma investigação policial sobre a morte de sua família, fruto de uma bomba caseira deixada na porta do escritório de seu marido. A ascendência turca de Nuri Sekerci (Numan Acar) sugere à polícia que se trata de um atentado neonazista de raízes xenofóbicas a cabe a Katja aprender a lidar com a perda e com o ódio.
A protagonista Katja Sekerci rendeu a Diane Kruger o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes de 2017. A luta diária contra o sofrimento e a impunidade faz com que o filme se divida em partes, sendo a primeira a investigação, a segunda o julgamento e a terceira a busca pela resolução do caso. Em todas as etapas, Katja passa por uma batalha íntima, seja por inadequação, repugnância ou vingança. A sensação que emana da vida de Katja é que ela é uma mulher inconsolável.
O filme elucida a vida sob um dos maiores dramas da vida humana, o luto; no entanto, o roteiro de Faith Akin e Hark Bohm sabe evoluir da tristeza para o suspense em um ritmo muito natural, pontuado pela superação e reação de Katja aos fatos ocorridos. Seu maior aliado nessa jornada é o amigo e advogado Danilo Fava (Denis Moschitto), um mestre da oratória que fará de tudo para garantir a prisão dos suspeitos Edda e Andre Moller.
O figurino do longa (by Katrin Aschendorf) consegue, através do excesso de preto da protagonista, compor o cenário fúnebre de uma casa que, de repente, ficou grande demais para uma mulher solitária. O frio da Alemanha embala a desolação e cenas noturnas regadas a muita chuva ratificam toda a estranheza de Katja para com o mundo ao redor. Tecidos pesados e cabelos desgrenhados, somados à ausência de maquiagem são a aparência constante de uma viúva precoce que esconde sua beleza propositalmente.
A fotografia do filme (sob a batuta de Rainer Klausmann, um parceiro constante do diretor Akin) consegue, por vezes, captar cenas únicas. Particularmente, duas sequências de ambientes ventosos demonstram o amadurecimento de Katja sobre sua nova rotina vazia. À porta do fórum, o vento que lhe assanha os cabelos emite a frieza da cidade e do coração da personagem e em outro momento, diante de praias gregas, a ventania também evidencia que algo interno está sendo alterado. Os cenários cinzentos da Alemanha ilustram a primeira fase do luto e as sombras amareladas da segunda parte indicam que Katja está pronta para deixar a sujeição passiva para trás.
O elenco coadjuvante faz pouco peso e se resume à família do marido e à de Katja, os suspeitos e a corte alemã que decidirá o grau de culpa dos Moller. Nesse sentido, grande parte do longa se atém ao drama íntimo e solitário de Katja, cada vez mais suprimida por sua casca de dor latejante, ausência desmedida e embaralhamento emocional. Sua situação piora quando a investigação sobre a morte de seu marido tenta atribuir a responsabilização do crime ao fato de que no passado Nuri foi traficante de drogas. Ou seja, a vítima se torna vilão da própria história e caberá a Katja zelar pela memória de seu marido.
Diante do exposto, Em Pedaços é um título que vale ser visto. Detentor de uma profundidade emocional como poucos, o longa sabe comover e surpreender a plateia. O filme é um dos poucos do circuito europeu que ganhou destaque no último ano ao redor do mundo. A atuação de Diane Kruger foi muito bem recebida, assim como o fato de um filme alemão que combate o neonazismo também ter valor próprio diante de uma radicalização ideológica não vista desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Em Pedaços estreia na quinta-feira, 15 de março. Assista ao trailer no link abaixo: