Design Escrita e design gráfico: entre o problema linguístico e a estética

Escrita e design gráfico: entre o problema linguístico e a estética

Por Mélio Tinga

Existe uma discussão desenfreada e corrente, entre o que é linguisticamente correcto e o que é esteticamente correcto, entre o cliente e o designer. Enquanto o designer procura a “boa forma” num projecto, o cliente procura o que linguisticamente é correcto, e por esse motivo gera-se grandes discussões, às vezes por um pequeno detalhe que o designer pretende que esteja e o outro afirma não ser correcto.

Em design, muitas vezes, na tentativa de “quebrar paredes” e pensar fora da caixa o designer passa por cima de barreiras linguísticas, algumas simples como: em língua portuguesa escrevemos e lemos de esquerda para direita e de cima para baixo.

A capa do livro com artigos sobre design “Design in my life” é um exemplo do que pode ser a quebra por regras, focando no resultado estético, mas também funcional. Reparem que a letra “S” está virada a -90o, o que é normal em design, mas um grande conflito em design. Provavelmente seria uma aberração para um professor de línguas, que obedece rigorosamente e estreitamente a regras linguísticas, mas foi, certamente a melhor solução que o designer encontrou na construção da capa.

Quebrar com regras pode ser um meio para chamar atenção ao leitor, já que o que não falta hoje é imagem, e quanto mais fora do comum for a nossa, melhor será para o produto que temos a mostrar, conforme sustenta MOURA: 2010,

“Há cerca de um ano, reparei num cartaz da autoria do designer João Faria anunciando uma peça de teatro, azaña, una pasión española. Era bem feito, rigoroso e contido, mas, se não fosse o pormenor de ter um hífen em pleno título, duvido que me tivesse chamado a atenção. Dividir as palavras no título de um cartaz, com ou sem hífen, compensa: por um lado, permite aumentar dramaticamente o tamanho das letras, por outro, enfatiza o aspecto gráfico da palavra, tornando a sua leitura menos imediata. É óbvio que isto não funcionaria tão bem num manual de instruções, ou num boletim de voto, mas numa peça de teatro não há razão para o evitar, antes pelo contrário. No entanto, se as vantagens são claras, porque não aparecem mais hífenes ou palavras divididas em cartazes, capas de livros, etc.?

 

Cartaz: azaña, una pasión española
Fonte: ressabiator.blogspot.com/

 

Muitas vezes o designer coloca algumas limitações ao criar, por ter consciência de que normalmente o seu cliente rejeita detalhes que quebram totalmente com velhos paradigmas. “Os designers com quem falei confirmaram-me que uma das razão para a raridade dos hífenes é a dificuldade em convencer o cliente. O argumento mais comum invocado por este último é gramatical: não é correcto dividir um título e um hífen só deve ocorrer em texto corrido. Isto, como é evidente, é discutível: coisas válidas e óbvias no contexto da gramática podem não o ser no do design gráfico – o cartaz de azaña é um bom exemplo disso.” (MOURA: 2010)

Na capa do livro da Laura Paschoal, sobre o design minimalista pode se notar que há uma falta propositada ao escrever DSGN, para dizer DESIGN. Pessoas familiarizadas com o termo imediatamente compreendem, no entanto, linguisticamente pode nos parecer uma sigla. É um livro que faz uma abordagem sobre o minimalismo, portanto a capa em sim, pode nos parecer minimalista, e em design pode não haver problemas com isso.

O facto é que as regras linguísticas poderão continuar a ser desafiadas, a procura de resultados interessantes. O mais importante nestes casos, é que o destinatário compreenda a mensagem a ser transmitida, porque design é também comunicação. E o processo comunicativo por natureza exige descodificação pelo receptor do que foi codificado pelo emissor, daí que, é importante que o processo comunicativo continue a ser obedecido para que o design continue exercendo o seu papel.

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