Artes Isto é arte ou design?

Isto é arte ou design?

Por Ana Procopiak

Certos objetos de arte e design querem provocar estranhamento, nos tirando do lugar comum, revirando nosso cotidiano para ampliar nossa percepção do mundo, nos fazendo mergulhar num universo de imaginação, criatividade e inovação.

Isto é arte?

E isto…é design?

Então vamos lá! Na primeira imagem temos um objeto utilitário, produzido industrialmente em série que tem a função de passar roupas, o que nos levaria a pensar no campo do design, já que o designer é o profissional que pensa e projeta objetos funcionais para atender nossas necessidades cotidianas e facilitar nossa relação com o espaço. Mas…opa….tem uns pregos  na superfície, se usarmos este ferro arruinaremos completamente nossas roupas! Então afinal, para que serve este ferro? Na segunda imagem temos um banquinho de bicicleta – um selim – fixado a uma estrutura que parece ter a possibilidade de balançar… sería um banquinho balançante?

Mas afinal de contas quem projetou, criou tais objetos? Um artista ou um designer? No caso da primeira imagem um artista chamado Man Ray e ele chamou ironicamente este objeto de Cadeau, que em francês quer dizer presente, um presente para não se dar a ninguém…certamente! Este artista pertenceu ao Dadaísmo – um dos movimentos da vanguarda artística do começo do século XX. Os artistas deste movimento buscavam romper com as fronteiras que separavam a arte do cotidiano, se apropriando de objetos comuns – estratégia esta chamada de objets trouvés ou ready made – muitas vezes produzidos industrialmente com uma função e utilidade, pertencentes, portanto, ao campo do design e os transformando em objetos inúteis, ou melhor, objetos que vão provocar questionamentos sobre sua própria função e mesmo sobre a função do objeto artístico na sociedade. Estes artistas queriam causar estranhamento e incomodo, olhando o real sob infinitas perspectivas, revirando o estabelecido e convencionado.

 

Meret Oppenheim, Xícara, pires e colher cobertos de pele, 1936, MOMA, NY.

 

Marcel Duchamp, Roda de bicicleta, 1913.

 

Salvador Dalí, Telefone lagosta, 1928

Nos anos 60, os artistas da Pop Art ampliam a estratégia dadaísta de apropriação, afirmando que tudo pode ser arte na sociedade de produção de massa, desde uma embalagem de sabão em pó até um rótulo de sopa, como a famosa imagem da Sopa Campbell’s do artista Andy Warhol ou as caixas de sabão em pó.

 

Andy Warhol, Caixas de sabão Brillo, 1963.

 

Claes Oldenburg, Clothespin, 1976, Centre Square, 1500 Market Street, Philadelphia.

 

Allen Jones, Chair, 1969, Tate Gallery, UK.

No cenário do design, seguindo a onda das transgressões, apropriações e questionamentos da arte nos anos 60, surgiram designers contestando o quase dogma funcionalista no projeto de qualquer objeto – ‘a forma segue a função’ – instituído por arquitetos e designers nas origens do design nos anos 1920 na escola de arquitetura e design Bauhaus e que guiava ainda muitas das criações em design, produzindo objetos de formas geométricas simples, básicas e sóbrias, que representavam o jargão funcionalista ‘menos é mais’. Ettore Sottsass arquiteto e designer italiano, um dos mentores da ruptura com o conceito funcionalista irá contrapor-se ao dogma lançando “a forma segue…o fiasco”!

 

Ettore Sottsass, Estante Carlton, 1981.

“[Funcionalismo] não basta. O design deveria ser também sensual e excitante”.   Ettore Sottsass

O banquinho de bicicleta balançante, da segunda imagem do começo do texto, é criação dos irmãos Castiglioni que junto com Sottsass e outros designers e arquitetos reviraram o universo do design nos anos 60, 70 e 80 produzindo de certa forma anti-objetos, muitas vezes desconfortáveis, utilizando-se de ironia, humor, referencias kitsch e da cultura pop.

Alessandro Mendini, Kandissi, 1979.

Mendini pertenceu ao Grupo Alchimia que buscava nos anos 70 desestabilizar apresentando um design radical e descaracterizando os móveis clássicos da Bauhaus. Colocando o nome Kandissi na poltrona divertida e bem humorada, faz alusão irônica a um dos ícones da Bauhaus, a cadeira Wassily desenhada por Marcel Breuer em homenagem a Wassily Kandinsky artista e professor da Bauhaus.

Marcel Breuer, Cadeira Wassily, 1925.

Num primeiro momento as rupturas são sempre um tanto radicais para depois seguirem inspirando novos olhares, tanto no campo da arte como no design, a ponto de não sabermos mais onde se estabelecem as fronteiras entre a arte e o design.

Claes Oldenburg, Spoonbridge and cherry, 1985, Minneapolis Sculpture Garden, USA.

 

 

Alessandro Mendini, saca-rolha Anna G, 1994. Best-seller da fábrica italiana Alessi.

 

Claes Oldenburg, Plantoir, 2001.

 

Outra Oficina, por Leo Capote e Marcelo Stefanovicz, Cadeira Martelos, 2013.

 

Nelson Leirner, Churrasquinho de mãe, 2000.

 

Irmãos Campana, Cadeira Banquete, 2002. foto: Luiz Calazans

Sem dúvida são objetos que nos provocam, instigam, reviram nossos sentidos, colocando em dúvida a sua função e utilidade, possibilitando que permaneçam abertas as amplas portas da percepção e das múltiplas possibilidades criativas.

 

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