Já me fiz essa pergunta várias vezes e em nenhuma delas consegui achar uma única resposta que fosse estritamente racional.
Muitos podem achar que um designer é, na verdade, um artista frustrado, porque gostaria mesmo é de criar livremente, sem estar preso a nenhum limite ou sanção, sem regras e com a mente totalmente despreocupada, coisa que passa longe da realidade de um designer. Poderia se dizer que o trabalho de um designer é cerceado por um sem número de regras visuais, publicitárias, ergonômicas, mercadológicas e, claro, a mais rígida delas, o cliente. Vendo por este lado então, podemos considerar real a afirmação de que um designer é um artista frustrado? Sim, também o é, e seria hipocrisia dizer que não. Quem nunca quis fazer valer a sua vontade ou o seu gosto num trabalho? É normal, somos humanos.
No entanto, seria completamente injusto rotular um designer como um artista que não aconteceu. Até porque o designer é um artista também, e é muito mais que isso, porque tem um objetivo claro que move o seu trabalho.
Mas voltando à fatídica pergunta: por que design?
Se designer não é artista, não é desenhista, não é publicitário, não é engenheiro, não é redator, não é jornalista…se o mercado não entende o que faz um designer e, portanto, não valoriza o seu trabalho, se por isso mesmo o nível salarial destes profissionais beira o ridículo, se o designer tem que enfrentar um mercado infestado de pessoas que se dizem designers, sem ter a menor noção do que isso significa, se existe concorrência desleal e os designers profissionais estão perdendo feio, se só o próprio designer entende que é um conjunto de todos os profissionais citados acima e é mais do que isso…então afinal de contas…por que design?
Novamente, respostas puramente lógicas me escapam. Posso responder pela minha própria experiência. Escolhi design (ou ele me escolheu) porque para mim, trabalhar em algo que remetesse à repetição, à rotina, seria a morte. Porque ficar longe da criação e da expressão visual seria uma tortura. Porque vi no design uma alternativa de unir o prazer com o prático sim, mas também, porque, no meu caso particular, não serviria para ser artista. A liberdade total me bloqueia, preciso de um foco, de um projeto. Talvez outros designers possam se identificar com isso, talvez não. Cada um tem suas razões.
Ser designer é um desafio dos mais difíceis e para escolher essa profissão há que se ter paixão. E talvez este possa ser um gancho para a parte lógica da nossa pergunta inicial.
Mas espera, paixão tem a ver com a parte lógica? Eu prefiro acreditar que sim. Num mundo onde cada vez mais a tecnologia toma conta, onde o número de informações e estímulos de toda a ordem nos atacam a cada minuto, o que no meio disso tudo vai conseguir atrair a atenção das pessoas, senão aquilo que as tocarem de alguma maneira? Torço para que o mercado enxergue isso e acredito que isso vá acontecer inevitavelmente. Os seres humanos precisam se reconhecer como tal. E quando isso acontecer, o mercado vai entender que o cara que é só fera em Illustrator, aquele que domina todas as ferramentas técnicas vai ficar obsoleto E é aí que entra o designer com toda a sua paixão, com toda a sua multiplicidade de competências e com toda a sua capacidade projetual de unir a arte com a função para construir algo que vai tocar as pessoas.
Nesse momento não somente nós vamos entender, mas o mundo vai entender porque design.
Gisele Monteiro