Design No anonimato das HQ’s?!

No anonimato das HQ’s?!

Por Daniela Sousa

Olá leitores!

Vamos começar o artigo de hoje com um breve teste. Se eu pedisse para você citar um personagem das histórias em quadrinho, qual seria? Não faço ideia de qual você lembrou, mas provavelmente não foi um personagem negro! Estamos acostumados, muitas vezes, com heróis como Super-man, Batman, Capitão América… que personagens como Lanterna Verde, Pantera Negra, Tempestade, entre outras, ficam esquecidos.

Gostaria de fazer uma pequena análise a respeito da história do negro nas HQs. As primeiras aparições negra tanto do gênero feminino como masculino, nas HQ’s veio com o Yellow Kid, criado em 1895, mas apenas para compor o cenário como coadjuvantes ou personagens cômicos.  Geralmente, o negro era retratado com o estereotipo sofrido, escravo, fraco e discriminado. O primeiro personagem negro de destaque foi criado pela Marvel em 1941, Whitewash, sendo um personagem cômico, sem poderes e sempre salvo pelos colegas mais fortes e brancos.

Yellow Kid, 1895.

Yellow Kid, 1895.

Whitewash, 1941.

Whitewash, 1941.

O primeiro herói negro a ter revista própria foi o Lobo, em 1965, lançado pela Dell Comics. Entretanto a revista foi um fracasso, tendo em vista que nesse período estavam acontecendo muitos conflitos raciais nos Estados Unidos. Sendo assim a foi cancelado no seu segundo número.

Capas da revista Lobo, 1965.

Capas da revista Lobo, 1965.

A partir disso, em 1966, Stan Lee e Jack Kirby, lançaram o primeiro super-herói negro, O Pantera Negra, estreando em Fantastic Four, edição 52. Subsequente vieram Falcão (1969) e Luke Cage (1972), que tornou-se o primeiro super-herói afro-americano a ter revista própria. O interessante de Falcão, é que na sua história de origem é um negro milionário e radical que, quando combate o crime prefere salvar pessoas negras a brancas, devido ao fato de seus pais terem sido mortos por racistas.

Pantera Negra, 1966.

Pantera Negra, 1966.

Personagens da esquerda para direita: Falcão e Luke Cage.

Personagens da esquerda para direita: Falcão e Luke Cage.

A nível de curiosidade, em 2002 chegou às Comic Shops americanas a mini-série “Truth – Red, White and Black”, que recontava a origem do Capitão América por uma perspectiva desconhecida e aterrorizante: antes de escolher o frágil Steve Rogers para o papel de Sentinela da Liberdade, o governo americano fez muitas experiências ilegais com soldados negros, injetando nos mesmos versões experimentais do soro do super-soldado. Todos os soldados negros morreram, exceto um, que tem seu destino contado nas seis edições da série. O mais interessante é que o argumentista Robert Morales e o desenhista Kyle Baker se inspiraram em fatos reais que aconteceram nos EUA para conceber a história: nos anos trinta e quarenta, o governo patrocinava pesquisa sobre a sífilis em comunidades negras pobres. Ao invés de tratar os doentes, os médicos-pesquisadores davam para eles placebo (remédio inócuo e sem efeito) apenas para estudarem os efeitos da sífilis no organismo humano. A mini-série recebeu elogios rasgados da crítica especializada americana, mas até agora nenhuma editora brasileira se prontificou a publicá-la.

Um fato que ainda gera queixas é que boa parte dos heróis negros derivarem de heróis brancos preexistentes, como Falcão, Máquina de Combate, Aço, vinculados respectivamente ao Capitão América, Homem de Ferro e Super-Homem. Além de que os títulos recebidos pelos protagonistas negros, são poucos e tiveram duração curta ou curtissima, tanto é que a Marvel fez de tudo para evitar o possível cancelamento do titulo do Pantera Negra, nos anos noventa que, apesar das criticas elogiosas fora degolado.

Revista "Truth – Red, White and Black", 2002.

Revista “Truth – Red, White and Black”, 2002.

Mas e as mulheres? Será que tem espaço para elas nesse mercado? Com certeza! Zelda Jackson Ormes conhecida como Jackie Ormes, afro-americana, produziu em 1937 uma série conhecida como “Torchy Brown”, sendo publicados em 1937 e 1956, nos jornais de Chicago Defender e Correio Pittsburgh; abordava temas como segregação racial, politica externa, igualdade educacional, bomba atômica e poluição. Ao todo foram quatro histórias: “Torchy Brown in Dixie to Harlem“, “Candy“, “Torchy Brown heartbeats” e “Patty Jo ‘N’ Ginger”.

Jackie Ormes.

Jackie Ormes.

Torchy Brown

Torchy Brown

Em 1975, o mundo conheceu aquela que seria a mais popular super-heroína: Tempestade. A personagem não tem sua história contada, simplesmente surge na história dos X-mens, o que de fato não entendo. Sabe-se que ela é filha de uma africana com um fotógrafo norte-americano, Tempestade ficou orfã muito cedo.  Tornando-se menina de rua, explorada como ladra nas ruas do cairo e adorada como deusa no interior da África. Negra, mutante e mulher, é considerada uma das personagens femininas mais complexas da Marvel. Tornou-se uma líder exemplar entre os X-men, sendo destaque na equipe em muitas sagas marcantes.

Casada com o Pantera negra, em sua aventuras solo ou ao lado dele, as histórias recorrem a temas como racismo, exploração infantil e preservação do meio ambiente. Juntos formam o casal negro mais poderoso das HQ’s da atualidade. Pantera Negra e Tempestade são monarcas do reino ficticio de Wakanda, Africa.

Pantera Negra e Tempestade.

Pantera Negra e Tempestade.

Recentemente, o Homem-Aranha das revistas em quadrinhos será pela primeira vez negro. Miles Morales, o nome do “novo” Peter Parker, que antes de aparecer oficialmente estrelava uma HQ alternativa do herói. Em entrevista, Brian Bendis, roteirista e cocriador de Miles disse: Quando muitas crianças negras estão brincando de super-heróis com seus amigos, eles não as deixam interpretar o Batman ou o Super-Homem, pois eles não se parecem com eles”. Ainda não há previsão de Miles no cinema, mas para Bendis “a mensagem tem que ser que não é o Homem-Aranha com um asterisco, é o Homem-Aranha real para as crianças e adultos negros e para todo mundo”.

Miles Morales, Homem-Aranha negro.

Miles Morales, Homem-Aranha negro.

A autora desse artigo acredita que todos os personagens, sejam brancos ou negros ou pardos, ocidentais ou orientais, todos partilham de algo em comum seja a força ou o desejo de salvar o mundo, as pessoas. Cada um tem sua história, suas particularidades, quando livres de estereótipos preconceituosos, mostram todo seu potencial, seja para conquistar fãs, realizar feitos, como atrair audiência. Ainda há sim esperança, de que um dia todos aprenderão que não é a cor de uma pele que define caráter!

Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar. (Nelson Mandela)

 

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