Em Moçambique a prática do design gráfico é, ainda um assunto que desafia os poucos profissionais e professores na área. É uma área relativamente recente e que ainda exige uma contínua construção no que refere a comunicação visual, sua linguagem e conceitos básicos, que a distinguem de outras áreas. Apesar desse facto, o design em Moçambique já vem sendo praticado desde antes da independência nacional; o cartaz foi um recurso indispensável na propaganda para que o país ganhasse apoio dentro e fora.
À falta de uma história “oficial” do design Moçambicano fica aqui muito espaço disponível para investigar, estudar ou afirmar. Merece aqui menção a época colonial, que apesar de ser por vezes desconsiderada (numa intenção estratégica de esquecimento, de uma amnésia imposta), deixou também marcas fortes no tecido social e infraestrutural deste país. (anima.co.mz)
No final dos anos 1960 para frente, o Departamento de Propaganda e Informação (DPI) da FRELIMO utilizou cartazes como meio de propaganda, nesta época, o cartaz ainda era estranho e precisou de algum tempo para que os cidadãos se acostumassem à nova forma de comunicação. Nesta época a produção de cartazes focava na crueldade protagonizada pelo colono. Depois da independência em 1975, cartazes políticos ganharam espaço e passaram a ser produzidos sob supervisão da Direc?ão Nacional de Propaganda e Publicidade (DNPP), do Ministério da Informação, com foco na reconstrução do país, celebração da independência, produção, visitas de chefe de Estado, homenagem, campanhas contra violência, analfabetismo e doenças. É inegável a influência portuguesa e do construtivismo russo nos cartazes pós-coloniais em Moçambique, como sustenta ROXO:
O design gráfico português acabou marcando uma presença em Moçambique, através dos suportes visuais aqui disseminados, e de designers como Sebastião Rodrigues, João Machado e José Brandão, para referir apenas alguns nomes. (…) O movimento social e a revolução cultural do período pós-independência demonstram uma enorme influência do construtivismo russo e do ideal socialista da época. (anima.co.mz)
Nesta época é importante destacar o trabalho de José Freire, Flávia Fonseca, João Craveirinha e Milhafre Agostinho, pelo contributo dado na DNPP na produção de cartazes na época. O design gráfico, nesta época, assim como em outras partes do mundo teve sempre uma relação intrínseca com as artes, especificamente artes visuais e artistas como Malangatana Ngwenya, Roberto Chichorro, Matias Ntundu, Ricardo Rangel deram o seu contributo.
Cartaz de Moçambique 1977
Para além destes cartazes, em 1988, numa colaboração de Berit Salström e António Sopa, foi publicado um importante livro que serve de referência do design gráfico da época, com a edição do Arquivo Histórico de Moçambique (AHM): Catálogos dos Cartazes de Moçambique.
Catálogos dos Cartazes de Moçambique (Fonte: anima.co.mz)
A Escola Nacional de Artes Visuais (ENAV), exerceu durante muito tempo influência sobre a produção artística e também no design, no campo educativo. No ano 2010 é aberto o Instituto Superior de Arte e Cultura (ISArC) com licenciaturas em Design, Artes e Animação Cultural. Em 2015, a Escola Superior técnica (ESTEC), unidade orgânica da Universidade Pedagógica (UP) abre um curso de licenciatura em Design e Tecnologia das Artes.
O Design actual em Moçambique segue tendências e gostos internacionais, a pesquisa científica começa a despontar e a trazer resultados a nível nacional. A existência de agência com conceitos internacionais e já firmadas no país elevam a qualidade do design nacional que leva o conceito tradicional para uma dimensão de consumo internacional e de qualidade competitiva, no entanto os desafios de formação académica e de divulgação da profissão do designer e de sua história em Moçambique permanecem.