Cinema e Séries O Círculo: uma crítica sobre o perigo do mundo cibernético

O Círculo: uma crítica sobre o perigo do mundo cibernético

Por Erica Oliveira Cavalcanti Schumacher

Mae Holland (Emma Watson) é uma pessoa introspectiva que acredita que potencial não concretizado é uma das piores coisas que poderiam lhe acontecer. Se distrai sozinha e anonimamente num caiaque enquanto seu pai padece de esclerose múltipla e trabalha no monótono serviço de call center. Ao entrar na gigante empresa de tecnologia livremente baseada naquelas localizadas no Vale do Silício, sua vida sofre diversas mudanças.

A premissa de O Círculo (The Circle, EUA, 2017), do diretor James Ponsoldt e baseado no livro homônimo de Dave Eggers, é de que toda tecnologia é boa e toda informação é válida. Conectar-se é uma necessidade e estar fora desse meio reduz a qualidade social, na medida em que cada um contribui com suas informações para formarem um mundo melhor.

Mae se sente grata pelo ótimo trabalho e salário que o acompanha, ganhou plano de saúde, tem transporte para ida e volta, seu ambiente de trabalho é sadio e leve dentro de um campus onde todos os mecanismos estão disponíveis para que todos façam aflorar sua criatividade. Aparentemente, é o trabalho dos sonhos e ela se esforça para apresentar um bom serviço.

Nota-se que as ferramentas digitais vão sutilmente se atrelando ao cotidiano de Mae, num movimento nada estranho a qualquer ser humano que habite o mundo ocidental no Século XXI. Entretanto, a quebra de limites mostra sua face quando a funcionária é convidada por Balley (Tom Hanks no melhor estilo Steve Jobs), o CEO da empresa, a tornar-se transparente, ou seja, andar com uma câmera que registra cada segundo do seu dia e que é seguida por milhares de pessoas em tempo real, com exceções esdrúxulas, a exemplo do limite de 3 minutos para usar o banheiro.

Mae se torna globalmente famosa e seus observadores interagem 24 horas com os acontecimentos do seu dia. Em seu trabalho, lida com 5 telas de computadores, um tablet e um celular ao mesmo tempo. Decide se mudar para a sede, que oferece todos os confortos disponíveis a seus funcionários e se isola cada vez mais dos pais e dos amigos.

A única pessoa da empresa que tem uma postura completamente diversa é Ty (John Boyega), que tenta discretamente alertar Mae para o que está acontecendo com ela mesma e com os objetivos da companhia. O reforço desse raciocínio se encontra em Mercer (Ellar Coltrane), o amigo de infância que sofre com a mudança de comportamento de Mae e é vítima das malfadas opiniões virtuais.

É interessante que o fenômeno demonstrado no longa se repita costumeiramente na vida das pessoas, uma vez que redes sociais têm o condão natural de aproximar quem está longe e distanciar quem está perto. Mae se torna um programa a ser visto e nesse roteiro não há mais espaço para suas antigas diversões solitárias e não observadas.

Há que se registrar que o roteiro altera bruscamente a personalidade da protagonista, que passa de uma pessoa tímida e solitária à estrela do seu próprio reality show de maneira brusca depois de um incidente com seu caiaque. Seu relacionamento com os outros e consigo se modifica e ela se esforça para melhorar as funções do Círculo, que se expande com as inovações sugeridas por ela, para total agrado de seu chefe.

Curiosamente, o CEO da equipe, que é quem mais estimula a vida moderna conectada, trabalha em uma sala tradicional, cheia de livros gastos, objetos de valor histórico, sem computadores, fios ou demais aparelhos. Balley testa as pessoas e é expert em extrair o máximo de seus funcionários, entretanto, mantém-se numa bolha para além da interação digital, onde registros pessoais não existem no ciberespaço.

Caberá a Mae não se deixar levar mais do que o devido pelas extensas atratividades do Círculo, que acorrenta usuários numa rede aparentemente benéfica, mas que em troca, impõe a completa falta de privacidade sobre todos os aspectos da vida da pessoa. Nesse cenário, privacidade é um luxo que pertence a pouquíssimas pessoas, que curiosamente, têm a acesso a todos os registros dos demais. O conflito ético é latente e serve como lição para o espectador, que certamente faz parte do círculo virtual e não percebeu o quão imerso está na rede viciante de compartilha.

Assista ao trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=o_dwmoD_XMM

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