Sobre o designer
Continuando nossa série de entrevistas, hoje temos aqui uma entrevista com o lettering designer Roberlan Borges. Morando em Vitória, Roberlan possui uma estética única em seu trabalho, paixão imensurável por café e um quarto chamado de Maison du Vetor, onde realiza seus trabalhos e mantém uma área retrô com um Mac G3 funcionando e uma das primeiras versões do Adobe Illustrator instaladas.
Conheci o trabalho do Roberlan tem pouco mais de um ano, e sim na primeira vista não achei que ele fosse brasileiro, muito menos capixaba. Com uma qualidade estética perfeita e trabalhos inteiramente em vetor, Roberlan realiza trabalhos com frequência para o mercado europeu e norte-americano. Segundo ele, isso se deve basicamente por sua paixão por lettering e tipografia
Lettering designer?
Você ainda não sabe o que é lettering? Explico com uma rápida pincelada sobre o assunto. Voltando no tempo, letras eram desenhos e lettering é a arte de desenhar letras. Mas, desenhar letras, isso não é tipografia? A diferença é que o lettering não entrega toda a vez o mesmo resultado ou seja, nem sempre seu S será idêntico ao que você desenhou ontem.
No geral, obviamente existem outras variáveis que podem levar uma pessoa de fora a contratar um freelancer brasileiro, mas a qualidade do trabalho certamente fez muita diferença. Se você ainda não conhece, pode ficar ligado que aqui daremos uma amostra da qualidade desse artista capixaba.
A Entrevista
Olá Roberlan, primeiramente, obrigado por encontrar tempo para esse bate-papo conosco e com nossos leitores. Como você está? Como estão os negócios?
Olá, prazer em participar desse bate-papo. Estou bem, naquela correria insana de sempre, mas assim que é bom! (risos) Os negócios vão bem.
Conte-nos um pouco sobre o Roberlan. Quando e como começou?
Roberlan é um cara que gosta de música, café, filmes antigos e de observar as coisas. Sempre desenhei desde pequeno, minhas primeiras ilustrações eram câmeras de vídeo, punks e robôs (Só não me pergunte porque rs). Mas o que sempre quis era fazer arte naquela misteriosa caixinha bege, o computador. Certa vez vi um clipe “Money for Nothing” do Dire Straits e pensei: “É isso que quero fazer”.
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Minhas primeiras experiências com arte digital foram em 1993 no então Paintbrush. Depois um amigo me passou os disquetes para a instalação do Corel Draw 5.0 e esse foi o primeiro contato que tive com os vetores. Usei o corel por um bom tempo, depois passei a utilizar o Freehand e então em 2006 a Adobe lançou o pacote CS e adotei o Illustrator como ferramenta principal.
Quando você se apaixonou por lettering e tipografia? Como foi o processo?
A tipografia sempre me fascinou exatamente porque eu via aquelas composições tipográficas e pensava: “Uau, isso é arte, feito com PALAVRAS e LETRAS”. Sempre achei fantástico mas a tipografia sempre foi um pouco coadjuvante no meu trabalho. Sempre foi uma mistura maluca de referências e técnicas, então a tipografia e a ilustração sempre estiveram intrinsecamente ligadas.Uma coisa não funcionava sem a outra. Mas de uns anos pra cá tenho dado igual enfase a tipografia em si. Procurando me aprofundar mais nos aspectos técnicos e visuais.
Uau, isso é arte, feito com PALAVRAS e LETRAS
Notamos que você levanta a bandeira da arte em vetor e do Illustrator. Você aprendeu sozinho?
Aprendi sozinho, errando e tentando. Uma das coisas que sempre me encantaram na arte vetorial, e é algo que tento explorar intensamente, é poder trabalhar de uma forma “orgânica” no ambiente 2D como o vetor. Poder criar a arte e então desmembra-la, cortar etc. E começar tudo de novo. Pra mim isso gera inúmeras possibilidades criativas e é extremamente inspirador. Não consigo fazer isso em outro meio ou com outro software que não seja o Illustrator.
Aqui utilizamos mesas gráficas da wacom, você também? Qual modelo e como foi começar o uso delas?
Eu comecei com uma mesinha simples da Genius, em 2007, na época foi bem complicado me acostumar, levei uns três dias para começar a dominar a técnica de usá-la. Já estava bastante acostumado com o mouse. Em 2009 adquiri uma (Wacom) Intuos 4 média que venho utilizando desde então. Pra vetorizar letterings até que o uso o mouse sem problemas, mas para ilustração e outros tipos de vetores as mesas gráficas são indispensáveis. Atualmente no Mac uso a Intuos e no PC uso uma Huion.
De onde sai sua inspiração? Como você faz para se manter atualizado e aprendendo coisas novas?
Pergunta complicada essa (risos). A inspiração vem de tudo quanto é lugar. mesmo. Uma palavra ou frase que ouço uma estampa em uma camiseta que vejo na rua, um grafite, uma música. Enfim, tudo. Tento me manter atualizado com bons livros sobre o assunto (design, arte e tipografia) e em blogs e sites com conteúdo relevante. E praticando e criando, sempre.
Sabemos que no Brasil é dificil viver exclusivamente com ilustração, lettering e tipografia. Quais são seus planos e aspirações como artista?
Tenho trabalhado mais com o público internacional (EUA e Europa) pois aqui realmente não valorizam arte e design no geral.Meu plano e continuar me divertindo enquanto faço o que gosto, porque dessa forma, bons projetos surgem, a paixão pelo trabalho fica estampada no material. A palavra é “paixão” se não tiver, nem adianta.
Fale um pouco do seu dia-a-dia criativo.
Procuro sempre tirar um tempo para rabiscar e tentar novas ideias. Não é algo que necessariamente faça diferença sempre, pois a ideias pintam de repente, num estalo. As vezes estou andando na rua e pinta uma ideia qualquer, assim que acontece pego um papel, bloco ou caderno e rabisco aquela ideia.
Pra finalizar, deixe um recado para nossos leitores.
Observem tudo, a inspiração está em todo lugar!
Para finalizar, gosto sempre de fazer uma pequena reflexão após a entrevista. No caso particular do Roberlan, preciso agradecer à um momento de procrastinação no Behance. Se não fosse por isso não teria descoberto o trabalho desse cara, muito menos ter descoberto que ele é da mesma cidade que eu.
Isso é importante para fortalecer a comunidade e o mercado local, descobrir os talentos locais, divulga-los, acredito que tudo isso ajuda um ecossistema que pode alterar a cena local de onde estamos inseridos.
E então, gostaram do que viram? Para continuar nossa série de entrevistas preciso do seu comentário. É sério, não saberei se estão gostando se não comentarem.