“Era uma vez, duas belas mulheres, uma de vestido laranja ao lado da outra com o vestido rosa de tom claro. Havia um homem, que trabalhava como gestor bancário, sucedido e pensava em escolher uma delas. O homem levantou a mão e apontou a de vestido rosa de tom claro”
O encanto que temos diante de um projeto de design gráfico é baseado na combinação de todos seus elementos, criando uma harmonia, que muitas das vezes não conseguimos explicar. Como já defende a teoria da forma, “O todo é diferente das suas partes”, não se pode olhar para o todo e ver as suas partes, diante de um cartaz vemos realmente o cartaz e nunca nos concentramos em suas partes; fonte tipográfica, cor, textura, formas, imagem, a linha. A tendência do olho humano é de os agrupar e considera-los único, pois, só assim é que pode ser compreendido. Quando estamos diante do cartaz vemos o cartaz, exceto em casos específicos em que se tem como objetivo o estudo das partes por parte de profissionais da comunicação visual.
Neste contexto, a cor tem um grande papel na “pacificação” do cérebro humano e ajuda a conceber e digerir as informações apresentadas em forma de um projecto de design gráfico, funciona como uma ponte entre o que vemos e o que devemos compreender. O poder da cor está expresso em quase tudo, nas paredes de um estúdio de design, paredes de um hospital, paredes de um estúdio de televisão, na sinalização rodoviária, nas roupas que vestimos, no sapato que calçamos, nos óculos, nos aeroportos, nas mercados, nas escolas, na natureza, nas tendências atuais.
“as cores constituem estímulos psicológicos para a sensibilidade humana, influindo no individuo, para gostar ou não de algo, para negar ou afirmar, para se abster ou agir. Muitas experiências sobre as cores se baseiam em associações ou experiências agradáveis tidas no passado e portanto, torna-se difícil mudar preferências sobre as mesmas.” A cor preta, na maioria das culturas é associada ao luto, à morte, pelo que não é normal que um individuo que não esteja em situação de luto vista toda roupa de cor preta nessas culturas. Em Design Gráfico “o significado das cores também depende da proporção e da forma que a cor ocupa um determinado espaço.” (MAURÍCIO, 2010)
A escolha de uma determinada cor nunca deve ser por acaso ou por gostos pessoais do designer gráfico, deve ir de acordo com o que se pretende com o projeto. Por isso torna-se imprescindível compreender o público a que se destina. A cor é tão poderosa que a partir dela conseguimos distinguir um projeto tradicional de um moderno, conseguimos diferenciar um livro infantil de um livro técnico, conseguimos diferenciar o que é e o que não é de luxo.
Fontes: 4.bp.blogspot.com & portalivros.files.wordpress.com
Se bem escolhidas as cores criam uma experiência inesquecível ao leitor visual, o que por conseguinte gera uma fácil memorização da embalagem, capa de livro, jornal, cartaz, do cartão de visita, revista e outros projectos de design gráfico.
As cores primárias possuem maior força, não que isso signifique que em termos de resultados estéticos a resposta seja também positiva. Mesmo que as pessoas gostem de certos tons de cores, não pode ser ignorada a força emotiva causada pelas cores básicas, podendo alterar a respiração, os batimentos cardiacos, a pressão arterial. Tudo isso, deve ser levado em conta na concepção de qualquer projecto de Design Gráfico. Segundo Bergstron:
“A cor comunica em vários contextos diferentes […] nos hospitais, amarelo significa infeção e doença; vermelho, que algo está sujo; azul, que o material está limpo e verde, que está esterilizado. […] As cores podem estabelecer uma estrutura através de um código de cor de sinalize as diferentes seções de um relatório […] Imagens chamativas ou tons decorativos estimulam a leitura; blocos de cor acentuam blocos diversos no conteúdo.”
Cores quentes – como o vermelho, o laranja e o amarelo – apresentam maiores comprimentos de ondas, daí, exigem maior esforço e energia para contemplá-las, esse facto faz com que chamem muito mais atenção, influenciem nos batimentos cardíacos e na respiração das pessoas. As cores frias – como os tons de azul e verde – presentam comprimentos de ondas menores que as cores quentes e são fáceis de serem vistas, acabando por isso tendo um efeito acalmante e relaxante, influenciando também na diminuição do metabolismo.
Quando temos um fundo amarelo e texto preto, temos uma combinação legível e que gera lembrança. A cor laranja ajuda a oxigenar o cérebro. Estudos de neruromarketing avançam que combinações feitas com o preto, o verde e o azul geram curiosidade aos leitores visuais, a combinação do verde ao lado do dourado passam o aspeto de sucesso. Quando usados o laranja, o vermelho, o resultado é credibilidade. É também possível verificar que o preto, o cinzento, o branco trazem resultados simples e pouco conflituosos.
Se tivermos que desenhar uma embalagem de pensos femininos e tivermos, entre o roxo e o preto, o ideal seria escolher o roxo, se na mesma situação tivéssemos o vermelho e o rosa, o ideal seria escolher o rosa, sabe-se que em algumas ocasiões o vermelho significa sangue, perigo e um penso feminino deve transmitir limpeza, conforto e feminilidade. O mesmo exemplo pode servir para outros produtos; podendo a cor nos ajudar a direcionar produtos cosméticos para um público restrito ou para um público mais amplo.
A cor é também usada para que os projetos apresentem maior estética do que quando ela (a cor) não estivesse presente. Está directamente ligada às emoções, para chamar atenção, Ramalho de Oliveira afirma que: São as cores e formas que se articuam para veicular significados que muitas vezes, mais do que textos verbais, ficam impressos na consciência do interlocutor. Ao observamos outdoors nas grandes avenidas que expressam alegria, vamos perceber que existem cores, geralmente comuns que são usadas e que quando as vemos, “sentimos também alegria”.
O cor tem o poder de ajudar a tomar decisões de escolha entre um produto e o outro, influencia-nos a escolher entrar numa ou n’outra loja. As vezes por causa da cor desistimos de entrar numa loja e pensamos “os preços podem ser elevadissimos”. A cor espelha a cultura e os hábitos sociais de um grupo e revela-o, e o design gráfico está inserido num contexto social e deve servir de “porta-voz” dos hábitos culturais.
Agora, imagine porquê o gestor bancário escolheu a mulher de vestido rosa de tom claro!
FAGGIANI, Kátia. O Poder do Design: Da Ostentação á Emoção. 1ª Edição. Thesaurus Editira de Brasília. 2006. Brasília.
WILLIAMS Robin, Design Para Quem Não é Designer, 8ª Edição, Callis Editora, 1995
NEIVA, L.A.. O neuromarketing e a comunicação visual: uma análise da contribuição do estudo de neuromarketing para a comunicação visual das embalagens. Monografia de Licenciatura. Centro Universitário de Brasília – UniCEUB. 2012.
Maurício, D.E.. Propaganda e Design Gráfico: Estratégias de Comunicação e Persuasão. Trabalho de Conclusão de Curso de Bacharelato. Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. 2010.