Praticamente em cada área de atuação existe sua própria cultura, clichês, piadas, termos, desafios, histórias cotidianas e claro, as picuinhas. No universo do design existem discussões que parecem não ter fim. Segundo o dicionário Michaelis, picuinha significa: 1 Os primeiros pios da ave. 2 Alusão picante, chiste, remoque; picuetada. Prefiro a definição do dicionário Informal: aborrecimento a terceiros, pentelhação, etc.
Então vamos à lista de picuinhas que o designer insiste em fazer:
Comics Sans
O primeiro item da lista é a famigerada Comic Sans. Essa tipografia é considerada por muita gente uma “fonte” feia e ruim. Mas será mesmo? Haja vista que essa tipografia foi criada em 1994 para ilustrar os balões de fala do Microsoft Bob, interface gráfica de um game do Windows 3.1 – que era voltada para o público infantil. O designer responsável, Vincent Connare (também responsável pela criação da Trebuchet), fez um trabalho tão bem feito, que muitos outros designers começaram a usá-la em diversas criações inadequadamente. Resultado: quem levou a má fama foi a coitada da Comics. Tão óbvio quanto seu nome (CÔMICA) é a falta de atenção e despreparo dos designers que a usaram para materiais sérios, como convites, anúncios e propagandas. Portanto, não se trata de uma tipografia ruim, ruim é quem não sabe usar.
Algumas pessoas odeiam apenas por odiar, mas não sabem a real finalidade da tipografia. Seria a mesma coisa que usar Helvética nas histórias da Turma da Mônica. Existem manifestos na internet em sites específicos e alguns pedindo até o banimento dessa tipografia. Tirando exageros como este, claro, existe também um toque de humor em toda essa história.
Corel Draw
Muitas pessoas criticam o software, mas sejamos honestos: ele reina nas gráficas e não é atoa. Possui recursos excelentes para fechamento de arquivos e facilidades que o Adobe Illustrator não possui. Discussões à parte, são softwares completamente diferentes. O Illustrator, como o próprio nome já diz, é indicado para ilustrações, embora seja usado para diversas outras finalidades. A Corel pode ter pecado em tentar fazer o software perfeito, disponibilizando ferramentas de desenho, exportação de tipografia, diagramação, efeitos em fotografias e consequentemente fez com que o programa ficasse pesado, travando com frequência e virar alvo de zuações na internet, como esse hilário e clássico funk. No entanto, não se trata de um software ser melhor que o outro e sim de terem funções e finalidades diferentes. Eu já usei Corel Draw e atualmente uso o Illustrator, devido a integração com outros softwares Adobe. Porém, se você se adaptou melhor ao Corel ou outro programa, seja feliz. Lembre-se que são apenas ferramentas, cabe a você decidir a que será de melhor uso e de acordo com sua necessidade.
Termo Logomarca
Logotipo ou logomarca? Qual é o correto? Essa discussão parece não ter fim. Seja nas salas de aulas entre educadores e alunos, no barzinho com amigos ou nas redes sociais, sempre existe essa discussão. Okay, nós enquanto profissionais, sabemos que logomarca = “significado do significado”, porém devemos considerar que é a forma usada e reconhecida por clientes, no meio publicitário, administrativo e também por pessoas leigas no assunto. Faça uma pesquisa e a maioria (ou totalidade) das pessoas vão dizer: logomarca.
Livros como O Valor do Design, ADG BRASIL, editora SENAC; define logomarca como: “Identificação genérica habitualmente utilizada, sobretudo no meio publicitário, para sinais diversos de um programa de identidade visual, como logotipo, símbolo e marca”. Há inclusive um livro que trata especificamente desse assunto, Logotipo versus Logomarca – A luta do século, da editora 2AB. Ele aborda o assunto de forma parcial contendo uma compilação de textos de grandes nomes do design nacional, a fim de mostrar pontos negativos e positivos de cada termo (logotipo ou logomarca). Deixo uma frase que vale a reflexão: Não são os dicionários que dizem o que existe ou não, eles apenas funcionam como uma forma de validação do que já entrou no dia-a-dia do brasileiro. Portanto, felizmente ou infelizmente, “logomarca existe” – Guilherme Sebastiany.
Ou seja, mesmo sendo um termo errado, livros bem conceituados e nomes do design consideram que é um termo existente. Portanto, até onde é válido ter essa discussão picuinha?
Micreiro
Para quem nunca leu ou ouviu esse termo, micreiro (ou carinhosamente chamado de sobrinho) é o “profissional” sem conhecimento teórico-científico que atua na área criativa. Pode ser designer, fotógrafo, ilustrador, publicitário, etc. Esse, por sua vez possui na maioria das vezes, apenas cursos de computador (micro). Além de não conhecer processos, conceitos, técnicas, métodos, livros, teorias, história e ferramentas, atua despreparadamente na gestão e relacionamento com clientes, oferecendo produtos de má qualidade e preços baixos. Porém, o micreiro tem um papel importante na sociedade: suprir a necessidade de clientes que se importam mais com o preço ou não possuem verba para investir num bom projeto. Assim como existem profissionais capacitados e os amadores, há também os tipos de clientes: os que se preocupam com preço baixo e os que preocupam com qualidade. Portanto, estamos falando de duas vertentes.
É importante ressaltar que formação superior não define se você é micreiro ou não. Existem profissionais sem graduação excelentes e profissionais graduados oferecendo produtos amadores. Muitas vezes o micreiro não sabe o que é ser micreiro. Muitas vezes esse profissional não sabe o que está fazendo e não teve uma orientação, portanto essa picuinha que alguns designers têm, deve acabar. A culpa dos sobrinhos estarem por aí, não é somente do profissional que atua na área sem qualificação, e sim da cultura do país da não valorização do profissional de design, como a própria regulamentação vetada ano passado, prazos cada vez mais curtos, e também, do fácil acesso à informação e tecnologias na internet.
E cá entre nós… que nunca fez uma “micreiragem” que atire a primeira pedra.
Se você conhece mais picuinhas, deixe seu comentário! ;)