Em design editorial, uma disciplina dentro do design, cujo foco são as publicações, quando se trabalha, a maior parte do tempo dedicado é provavelmente para a tipografia. Por razões muito especificas, em muitos livros, por exemplo, a maior parte dos espaços são ocupados por texto, e texto é composto por tipografia, usada para transmitir informações verbais, permitir legibilidade, e hierarquia dessas informações.
Tipografia vem do gregos typos — “forma” — e graphein — “escrita”, portanto forma de escrita, se a quisermos compreender assim. É a arte e o processo de criação na composição e impressão de um texto, física ou digitalmente. O objetivo principal da tipografia é dar ordem estrutural e forma à comunicação escrita.
Uma reflexão interessante que poderia ser feita em torno da tipografia é o porque das suas milhares de variantes, porquê precisamos de ter tantos tipos disponíveis, se usando a tipografia Arial ou Calibri já conseguimos ler o conteúdo, a informação verbal. Se formos a pensar profundamente nesse sentido, podemos perceber que a tipografia está muito além da informação escrita.
Em “Pequenas Dicas de Diagramação” Tatiana Tabak sugere-nos algo interessante ao afirmar que “ (…) a tipografia traz também mensagens não verbais. Ao selecionar fontes e integrar a tipografia às imagens, o designer pode influenciar profundamente o carácter geral de uma publicação e, de fato, produzir outro tipo de conteúdo. A escolha da fonte estabelece uma voz para o conteúdo que o posiciona de forma especifica mediante significados que o público pode associar à própria fonte.”
Um dos princípios que deve ser estabelecido quando se começa a trabalhar com fonte (s) é que tenha de haver um ponto de convergência entre o que se lê (conteúdo escrito) e o que está para além do que se encontra escrito, que está relacionado ao que se sente ao ver o texto, a interpretação e o significado que se atribui, a carga emocional que uma família tipografia carrega e é responsável por transmitir. O facto é que podemos comparar estas duas formas de ver a tipografia como o corpo e a alma, sendo o corpo o que podemos ver, que nos possibilita fazer leituras e a alma o que está por trás do conteúdo.
Para atribuir diferentes significados, não visíveis, o designer pode optar por usar diferentes tipografias, não exageradamente, e também não ao acaso. Uma combinação de duas fontes já se mostrou ser funcional. “A escolha de quais faces de tipo misturar deve ser decisiva. É preciso que haja contraste estilístico suficiente entre elas para que suas qualidades individuais fiquem evidentes.” TABAK (2014)
Espaços, mudança de cor, de tamanho, de posição, são estratégias indispensáveis e o seu significado vai muito além do uma simples mudança. Permitem melhor contraste, necessário em quase todo trabalho voltado para comunicação. Como uma vez afirmou o designer americano Paul Rand “sem contraste, você está morto”
Alem da letra existe, claramente uma voz que precisa ser usada para transmitir a ideia presente no texto. Não é ao acaso que uma alteração na tipografia funciona algumas vezes como uma iluminação que nos tiro do escuro, um alivio, uma sensação de “é isto que estava a procura”, porque a comunicação trabalha com sensibilidade, com sensações, com emoções, e, por isso importantes em projectos editoriais para a atribuição de significados que extrapolam o que conseguimos ver, para um plano em que simplesmente precisamos sentir.