Os tempos do nosso cartaz
É fácil perceber que o cartaz é uma das peças mais produzidas por designers. Em muitos países, tal é o caso de Moçambique, o cartaz marca a história do design gráfico do país desde antes da independência nacional, o cartaz entrou para história, não por mero acaso, mas porque havia necessidade e devia ser introduzido para preencher um vazio social que apenas um meio como este podia preencher.
Os primeiros cartazes datam do século XV, mas primeiros relatos que se tem sobre o cartaz como meio de comunicação, coincidem com a história da própria humanidade, esse facto faz perceber como o cartaz desempenhou um papel importante na história da comunicação humana. Os primeiros eram era feitos por escribas usando pedras ou placas de argila como suporte da informação, que os governantes pretendessem transmitir. Quando surge o pergaminho e papiro, os suportes passaram também a ser portáteis. Com a invenção do papel pelos chineses, os cartazes passam a ser transportados em suportes relativamente mais leves e divulgados de diversas formas, aliado a chegada da imprensa móvel com Johann Gutenberg que veio dar um grande impulso a produção massiva. Os primeiros cartazes eram feitos apenas com texto. “A técnica litográfica ajuda a fundar a história do cartaz publicitário moderno. O húngaro Aloys Senefelder, autor de peças de teatro, inventou essa técnica de impressão que buscava imprimir, a baixo custo, as suas próprias partituras musicais, em 1796” (Abreu, 2011)
Jules Chéret, pintor de nacionalidade francesa é considerado um dos pioneiros dos cartazes publicitários, tendo iniciado a sua produção em 1860. Foi capaz de combinar texto e imagem, permitindo desta forma uma compreensão e leitura rápida do conteúdo do cartaz, estudos da psicologia ligadas a comunicação visual mostram que a combinação entre imagem e texto é mais eficaz do que qualquer um dos dois apenas. Outros pioneiros conhecidos são Alphonse Mucha e Henri de Toulousse-Lautrec, também na França. Nesta mesma época nomes como J. H. Bufford e L. Prang ganharam destaque como grandes designers gráficos, pela produção de cartazes, na verdade, a maior parte dos designers desta época eram conhecidos por trabalharem profundamente na produção de cartazes, portanto, o cartaz fora sempre um dos principais produtos do design gráfico, tendo permitido que muitos designers ganhassem nome nessa época, da mesma maneira que os actuais o fazem com as diversas especialidades.
“Chéret também foi o primeiro artista plástico a compreender a importância dos aspectos psicológicos na publicidade. Elaborava cartazes sedutores e que causavam impacto emocional no público, utilizando a imagem feminina com alegria, vivacidade e beleza.” Entusiasmado com seu trabalho, o francês Jules Chéret “aperfeiçoa a técnica litográfica atingindo grandes tiragens e o controle do uso das cores. Com o domínio da técnica, aventura-se em utilizar pedras graúdas que possibilitam a produção de cartazes de grandes formatos, visualizados à distância, os outdoors da época.” (Abreu, 2011)
Adeus cartaz impresso (?)
O cartaz digital domina os tempos actuais, hoje não precisamos imprimir tudo que é cartaz. A finalidade do cartaz é divulgar, e com as plataformas digitais do nosso século está provado que um evento pode ser organizado e divulgado sem se quer imprimir um cartaz, mesmo sabendo que, o designer sempre que projecta um cartaz (mesmo digital) recorre a realidade e geralmente mesmo as dimensões são pensadas no âmbito do que será impresso. O cartaz de hoje, continuará amanhã, o digital, o simples, o compreensivo e criativo, as referências de um cartaz impresso ou real permanecem, porque acima de tudo, o pensamento sobre o cartaz pressupõe pensar num papel, pensar numa dimensão, pensar num formato, quando começamos com a concepção do cartaz, a primeira coisa que encontramos num computador é um espaço em branco que substitui uma folha real, a ligação entre o digital e impresso vai permanecer. O mesmo acontece nos cartazes “fora de portas” – os outdoors, já que passam hoje aos conhecidos outdoors electrónicos, onde vários cartazes podem passar no mesmo lugar, nas grandes cidades.
O poder do cartaz hoje!
O cartaz, na maioria dos casos foi o primeiro exercício de designers gráficos. Actualmente também. Diferentemente de muitos dos produtos o cartaz permite que o designer “expresse” o seu sentimento e explore o máximo a sua criatividade. Vários designers, trabalham sobre cartazes com o mesmo entusiasmo com que um pintor pinta um quadro e um escritor trabalha sobre um parágrafo de um grande conto. Cada cartaz torna-se uma oportunidade para aliar o objectivo do cartaz e o estado de espirito do profissional, cada cartaz é único e carrega marcas daquele momento.
O poder do cartaz é indiscutível, e pode ser compreendido através da sua própria história. Dar uma informação por meio de um simples papel com texto é diferente de dar a mesma informação por meio de um cartaz muito bem elaborado, o poder do cartaz é tão grande que as igrejas passaram também a acreditar na divulgação através dele. O poder da cor, da tipografia e da imagem (no seu geral) já nos mostrou ser um grande aliado na divulgação e partilha de informação em design de cartaz e design gráfico (no geral). O pensamento sobre como se organiza um cartaz é um segredo que apenas designers experientes e cientistas da comunicação visual podem explicar.
O cartaz é um instrumento de persuasão. O cartaz pode elevar e dar importância a um evento ou a uma personalidade, esse é o poder do cartaz. Quando mal feito, a compreensão do conteúdo do cartaz muda totalmente.
Se numa banda musical tirássemos o guitarrista e o pianista, certamente o efeito, o resultado do que teríamos seria totalmente diferente, e talvez mais desagradável (ou não), mas seria diferente, a compreensão musical seria outra. Esse resultado pode ser obtido alterando um elemento do cartaz, ou simplesmente concebendo mal um cartaz, existem grandes cartaz apenas com texto e péssimos cartazes com todos argumentos visuais presentes. A maturidade de um designer pode ser contemplada no cartaz, é a sua identidade, a sua marca. Através do cartaz compreende-se a grandeza e o tipo de evento, através do cartaz compreendemos também a dimensão e a grandeza do designer.
O cartaz é a bandeira do produto, do serviço, do evento e o sangue do designer, daí a necessidade e cautela necessária por parte do designer na inclusão de qualquer elemento na “folha”, ele precisa compreender que nada deve ser por acaso e por gostos próprios apenas, mas deve prever o que pode acontecer se o cartaz foi inserido no contexto real, num meio social (real ou virtual). O cartaz tem o mesmo poder que uma arma, pode matar o nosso inimigo, mas também, pode matar a nós mesmos!