Fala criativos! Hoje lhes apresento esse destaque do cenário de ilustração 3D aqui no Brasil, o Maurício Salgueiro. Com um grande foco em personagens, Maurício vem se tornando um artista mais completo ao explorar mais com cenários, confira o bate-papo que tivemos com ele.
Você pode encontrar o Mauricio Salgueiro e sua arte nos seguintes links:
1- Antes de tudo gostaria de agradecer nos permitir entrevistá-lo, nos conte mais de como começou o seu interesse por arte 3D?
Eu comecei trabalhando como Ilustrador 2D faz 10 anos, produzindo desenhos para apostilas de Medicina. Lado a lado comigo havia um grupo de pessoas que produzia arte 3d. Fiz amizade com a turma e todos os dias eles me mostravam o que faziam e eu ficava cada vez mais impressionado com o realismo que alcançavam. Meu interesse se despertou ali. Então fui naturalmente gravitando para essa área “vizinha.” Apesar de já ter conhecido a computação gráfica, sou grato até hoje a eles por terem me destrinchado o processo na época.
2- Nos fale mais quais são suas referências, mentores e pessoas que o inspiram ao longo desses anos?
Influências, tenho muitas. Considero muito importante você se cercar de boa arte diariamente e facilitar que aquilo se instale de alguma forma dentro de você. Na escultura ou arte 3d: Kris Costa, Rafael Grassetti, Rafael Souza, Andrew Baker, Jordu Schell, Pedro Conti, Bruno Câmara, Fausto de Martini, Ron Mueck. Do 2d: Tiago Hoisel, Joe Madureira, Bengus, Justin Sweet, Sam Mitchell, Cory Loftis, Olijosman, Carlos Huante, Creature Box.
Mentor: Apesar de ter tido sempre uma mentalidade muito auto-didata, conheci muita gente na minha jornada que me acrescentou bastante. Mas se tiver que apontar um mentor devo dizer o Rafael Souza. Que além de ter me dado muitas lições de Modelagem, Pintura quando eu ainda lutava pra ingressar na área, sempre foi um referencial de disciplina e de postura profissional diante de um projeto, cliente, ou até mesmo um estudo.
3- Como funciona o seu processo criativo na criação de uma arte?
Uma vez eu ouvi que produzir arte é como se preparar para o sono: você não bate a cabeça no travesseiro e pronto!- já começa a dormir. Não. Primeiro você relaxa, depois entra em desligamento crescente do mundo afora e aí sim o sono chega. Acho que em matéria de concentração pra se fazer Arte é bem parecido. Fora essa parte “espiritual”, acho que o artista deve aprender também a ser muito prático em sua produção. Isso pode parecer muito complicado para os seres emocionais que nos consideramos, mas é algo muito atingível e necessário, que você deve se preocupar o tempo todo. Afinal, no fim do dia você tem que entregar alguma coisa palpável pro cliente. Então, todo projeto- todo- precisa de uma boa dose de: 1) referências, 2) planejamento, esboce composições de como tudo irá se encaixar no final, 3) Revisão, quando você achar que terminou pergunte a opinião de pessoas em volta que você confia, 4) Aí parta pra versão 02, e repita.
4- Nos fale um pouco da sua rotina, como é um dia na vida de Maurício Salgueiro?
Atualmente eu trabalho no departamento de Efeitos Visuais da TV Globo, desenvolvendo personagens, cenários e simulações 3D pras produções das novelas e aprendendo com uma gama imensa de profissionais. A última cena que estive envolvido foi a perseguição de 2 motoqueiros a um carro com o Tarcísio Meira e a Regina Duarte na novela Lei do Amor. Num acidente que arremessou os dois pra fora da estrada com carro e tudo. Toda a cena foi construída em 3d e eu fui responsável pela modelagem, LookDev e simulação das roupas dos 2 motoqueiros, totalmente virtuais.
5- Qual você considera o ponto mais positivo e o ponto mais negativo da profissão?
O ponto mais positivo da profissão é que normalmente o designer faz o que gosta, e isso pode trazer bastante consistência ao trabalho. E o ponto mais negativo eu diria que é exatamente a mesma coisa. Justamente pelo designer fazer o que gosta, torna-se “fácil” e até provável que ele não assuma uma postura profissional diante do que faz.
Acho que se você ama o que faz e o faz com prazer, é ótimo e não tem nada de errado com isso. Mas guarde o seu amor pra você, e para aquelas horas mais duras do processo. Se nós designers passássemos uma imagem de que encaramos nosso trabalho com método, estudo e postura diante do cliente, como um engenheiro, como um médico faz, toda a área se engrandeceria, acho.
6- Qual você considera seu melhor trabalho até o momento e porque?
O projeto que eu tive mais retorno até hoje foi sem dúvida a ilustração que fiz em homenagem ao herói Chapolin. Foi compartilhada pelos atores do programa e pela filha mais velha do próprio Bolañoz. Mas considero meu melhor trabalho em termos de conceito, planejamento e execução a ilustração do personagem Ken Masters, do Street Fighter. Ali eu botei em prática todas as técnicas que tinha aprendido. Pesquisei o que iria fazer, busquei referências, tracei, fiz e refiz até ficar bom. Olhando hoje, tem muitas coisas que eu reviria, ainda assim foi um empenho que eu ainda reconheço.
7- Agora um rápido bate-bola:
Filme: Drive, de Nicolas Winding Refn.
Música: Nightrain, do Guns N’ Roses.
Um lugar: SeaBreeze Point, onde eu me casei.
Uma cor: depende da cor vizinha!
Comida: filet com fritas.
Jogo: Street Fighter II – Champion Edition
Uma pessoa: Carla Araújo. Minha amada esposa que me inspira e me instrui a trazer alguma mensagem pras pessoas com o que eu faço. Ao final de todas as técnicas aprendidas, tecnologias e botões pressionados.
8- Nos conte mais sobre seus hobbies, quando você não está trabalhando, o que gosta de fazer?
Violão e guitarra, música, Podcasts, quadrinhos, séries, filmes de Máfia, Games, sou fanático por tudo que rola no mundo dos games, acompanho a evolução das engines diariamente.
9- Como você enxerga a área de 3D no Brasil hoje e sua previsão para os próximos 5 anos?
Definitivamente cresce. Mas esse crescimento pode não ser de todo benéfico se vier sem organização. Nossa área por ser muito recente, carece de regulamentação e organização maiores. E pra isso é importante uma nova atitude partindo do profissional de 3D e depois das empresas. As produções irão naturalmente fazer a parte delas, crescendo, se expandindo à televisão, serviços via streaming, games e Internet.
10- Para finalizar, você tem alguma lição que aprendeu ao longo desses anos que gostaria de compartilhar com nossos leitores?
Com certeza! Seja a primeira pessoa a encarar seu trabalho profissionalmente. Quando você se decide por trabalhar com aquilo que todo mundo na sua adolescência considerava o seu talento saiba que uma chave dentro de você mudou. O que costumava apontar para hobbie agora aponta outra posição. O mercado 3D exige um profissional muito dedicado e disposto a estudar técnicas que se renovam semana sim, semana não. Que deve amar o que faz mas que compreende que isso é só o primeiro pré-requisito de uma lista de competências.
Como qualquer profissão você deve saber que existe um tempo necessário pra se acumular bagagem e você só vai começar a assimilar toda aquela informação e ficar bom depois de três, quatro, cinco anos de prática. Se o seu objetivo for tornar-se um especialista então, aí pode acrescentar mais dois anos a esse total, dependendo do seu empenho.
Aprenda desenho, vai facilitar tudo. Aguce sua observação. Quando estiver aprendendo alguma coisa nova, não perca muito tempo se apegando a um só projeto. Faça e refaça várias vezes o processo todo. Porque o objetivo não é tanto acertar e espalhar pra todo mundo no facebook. Mas se certificar de que você de fato aprendeu e pode reproduzir o acerto de novo. Força de vontade supera o talento.
Tenha paciência com os estudos e aprenda a conviver com a frustração de não poder ir um pouco mais longe hoje. Ela será a sua companhia diária (e, só pra constar, de todo mundo que você admira). Seja grato por aquele pedaço dos seus limites que você conseguiu empurrar mais pra lá hoje. É o segredo e por hora é o bastante.