A ligação entre o desenho como acto de representar e o design como toda uma área de conhecimento, é umbilical. Provavelmente essa relação histórica é um dos factores para que pessoas pouco esclarecidas na área interpretem o design como desenho ou vice-versa. É um facto que todos os dias ficamos com cada vez mais dúvidas sobre o conceito design, ela já não se limita apenas ao visível, ao tangível, vai muito além do que nós podemos ver, tocar, sentir. E o nível de dúvidas sobre como o desenho se pode relacionar ao design, como área profissional ou disciplina, crescem. “ (…) o design não prescinde de uma metodologia própria e intencional, ainda que não formalizada academicamente.” (VILLAS-BOAS, 2003:22). Talvez seja uma das melhores formas de caracterizar a área, já que pensar no design como produto tangível começa a não funcionar em todas especialidades, como é o caso do design thinking ou design de serviços. Conceitos como:
“O Design agrega valor e vai além de simples aparência. Um produto com bom design, além de atraente, apresenta boa solução de manuseio e uso do produto para o consumidor.” (MAURÍCIO, 2010, p.46), começam a ser colocados em causa, já que o design ultrapassa a dimensão visível a que estamos acostumados.
A origem do design, conforme referimo-nos, está intimamente ligado ao desenho como acto de desenhar, independentemente do estágio de evolução actual e do surgimento de outras especialidades dentro do design, conforme pode-se constatar: “Desde tempos antigos o homem vem usando materiais, cores e formas em uma tentativa de criar uma identidade própria, mas, embora a humanidade tenha sempre manufacturado os bens artesanalmente, para seu uso e comunicação, as origens do design são traçadas a partir do auge da Revolução Industrial.” ( FAGGIANI, 2006:54)
“Design é uma palavra inglesa originária de designo (as-are-avi-tum), que significa designar, indicar, representar, marcar, ordenar. O sentido design lembra o mesmo que, em português, tem desígnio: projecto, plano, propósito (Ferreira, 1975) – com diferença de que desígnio denota uma intenção, enquanto design faz uma aproximação maior com a nocção de uma configuração palpável (ou seja, projecto). Há assim uma clara diferença entre design e o também inglês drawing – este, sim, o correspondente ao sentido que tem o termo desenho.” (VILLAS-BOAS, 2003:48). Daí fica clara a relação que o design tem com o design, desde as suas origens, e até hoje a representação continua a fazer parte dos processos criativos, em trabalhos individuais e em equipes multidisciplinares. O desenho é parte obrigatória do processo de criação, desde produto, esquema, procedimento, entre outros.
Como se deve imaginar, o uso de esboços, que também é representação, faz parte de todo processo de criação em maior parte de especialidades de design. “Os esboços no processo de design devem atuar como um diálogo ou discussão visual entre diferentes pontos de vista na equipe de design. O esboço é uma linguagem capaz de gerar emoção, explicando o processo de pensamento do designer, testando concepções e fornecendo uma imagem mais concreta de uma ideia original (Temple, 1994) citado por De Mozota, 2011. Aliás, sabe-se que uma das características mais notáveis do desenho, é que possui (no geral) uma linguagem universal, que é diferente da língua Portuguesa, por exemplo. E assim é também o design. A forma como ela deve ser percebida não deve ter barreiras linguísticas, mas talvez de diferentes realidades sociais, culturais e geográficas.
A concepção de protótipos em design, parte do desenho, que é representação visual. “O design é a interação de fazer e ver, agir e descobrir. Quando um designer olha o que desenhou, encontra revelações. Ele percebe características e relacionamentos na forma-design que essenciamente levam a uma compreensão mais profundada (…) (Schon et al., 1992). Desenho faz parte da essência do design.