É fato incontestável que o humor produzido no Brasil passa por situações extremas. Dos mais inesquecíveis sucessos aos fracassos retumbantes, os roteiristas nacionais não largam a possibilidade de explorar risadas de todas as situações possíveis. Nos últimos anos, um dos projetos mais prestigiados do gênero foi a sitcom Vai que Cola, do canal Multishow.
No ar desde 2013 e debutante no cinema em 2015, a nova empreitada da turma do Méier se debruça sobre a forma como os personagens se conheceram e decidiram morar na pensão da Dona Jô. A batuta da orquestra parte da decisão de Ferdinando Beyoncé Ramirez Travicius (o impagável Marcus Majella) de deixar sua pequena cidade para tentar a carreira de concierge no Rio de Janeiro. Ainda no ônibus, conhece Máicol Silva (Emiliano D’Ávila) e ambos são envolvidos nos preparativos da feijoada de recepção de Tiziu (Fábio Lago), marido de Terezinha (Cacau Protásio). Paralelo a isso, Jéssica (Samantha Schmtuz) enfrenta problemas para manter seu relacionamento com Lacraia (Silvio Guindale) escondido da mãe, Dona Jô (Catarina Abdala).
Dotado da mais pura simplicidade, o filme surpreende o público desavisado da série e garante, do início ao fim, uma trama bem roteirizada, intrincada e de fácil identificação com a vida real. Os personagens carregam os traços mais marcantes do brasileiro, seja isso bom ou não. Malícia, esperança, comicidade, bondade, amizades imediatas e sensualidade são fatores do eficaz fio condutor entre história e plateia.
A vida no subúrbio carioca é retratada com fidelidade e genialidade. É interessante analisar como a despretensão do cotidiano foi traduzida da melhor forma possível para as telas pelas mãos dos roteiristas Renato Fagundes, Leandro Soares e João Paulo Horta, todos igualmente responsáveis pela série televisiva. O Enem, o transporte coletivo, o samba, a violência e a feijoada do fim de semana saem da rotina de milhares de pessoas para galgar o caminho do espetáculo cinematográfico. Destaque para o maravilhoso trabalho de figurino do longa, que garante uma identificação visual imediata com a realidade da moda no subúrbio.
A espontaneidade dos atores com seus personagens garante que nada no longa soa forçado ou fora de fase. Uma vez que a série caminha para sua sétima temporada no ar, é certo que a familiaridade já está bem definida e o elenco, bastante afinado. Para os que já apreciam o programa, vale a oportunidade de conhecer a origem da pensão da Dona Jô e ser brindado com as confusões inaugurais que culminaram na necessidade de união. Uma boa mensagem do filme é justamente a decisão de ser coletivo em nome da sobrevivência. Disso o brasileiro entende, aprecia e atua.
Balizado por uma trilha sonora pontual e sarcástica (de Weslley Safadão a Xuxa), a trama caminha pelo aprendizado na confiança mútua, por vezes, de pessoas semi-desconhecidas e trata com originalidade a forma como brasileiros vivem e se relacionam; o filme parece um laboratório prático de sociologia instalado na areia da praia carioca mais concorrida na manhã do domingo.
Por essas e outras, Vai que Cola 2 merece ser visto, interpretado e usufruído. Doses de humor bem temperadas e diálogo imediato com a sociedade constroem uma trama deliciosa e inesquecível para a comédia nacional.
O longa estreia nesta quinta-feira, 12 de setembro. Confira o trailer e mais materiais nos links abaixo: