Na pequena cidade de Bezerros, agreste pernambucano, um artista talentoso se destaca na xilografia, o chamado José Francisco Borges. Ele é um ícone vivo da tradição da xilogravura que mostra o cotidiano e paisagens do sertão nordestino.
Nascido em 1935, Borges cresceu como um típico nordestino, e a vida rural de sua infância desempenhou um papel fundamental em sua jornada artística. Aos 12 anos, ele começou a trabalhar com xilogravura, uma técnica chinesa que utiliza madeira entalhada e entintada para criar gravuras. Ao longo dos anos, ele refinou suas habilidades e desenvolveu seu próprio estilo que lhe valeu reconhecimento e aclamação em todo o mundo.
Ariano Suassuna foi um dos seus maiores admiradores, ele dizia que Borges era o melhor do mundo, e acabou virando seu “padrinho na arte”.
Cores, sertão, figuras místicas – J. Borges e suas obras
A obra de J. Borges é rica em cores vivas, traços ousados e motivos culturais do nordeste brasileiro. Suas gravuras retratam cenas do cotidiano, lendas populares, festivais e figuras folclóricas da região. Cada peça é uma celebração da cultura nordestina, imortalizada em papel através de sua técnica única.
Colorindo o mundo
O reconhecimento internacional de Borges é evidente nas suas exposições em museus e galerias renomadas, além de participações em feiras de arte em todo o mundo. Sua obra já viajou para lugares tão distantes quanto Europa, Ásia e América do Norte, encantando públicos de todas as origens.
O cordel que é mais do que encantado
A singularidade de J. Borges não se limita apenas ao seu trabalho como xilogravurista. Ele também é um cordelista, uma tradição oral do nordeste brasileiro. Muitas de suas gravuras são acompanhadas por narrativas que enriquecem a compreensão das imagens, transmitindo a cultura e a história de sua terra natal.
Aos 20 anos, começou com o seu primeiro cordel chamado “O encontro de dois vaqueiros no Sertão de Petrolina”, em 1964. Neste não fez as suas próprias gravuras, porém, para o segundo cordel, “ O verdadeiro aviso de Frei Damião”, decidiu produzir os seus próprios desenhos.
Borges ilustrou mais de 200 cordéis ao longo da vida. O seu cordel mais famoso foi escrito em 1976, o chamado “A chegada da Prostituta no céu”.
E não é que virou negócio de família?!
A família foi observando o seu trabalho e aos poucos iam aprendendo e criando seus próprios desenhos.
No ofício estão cinco filhos do artista, um irmão, três sobrinhos, um primo e as noras junto a máquinas tipográficas que dividem espaço com centenas de matrizes, gravuras e folhetos de cordel.
Seu acervo reúne a reprodução familiar de gravuras feitas até hoje.
J.Borges, um apaixonado pela arte
J. Borges é um defensor apaixonado pela preservação da cultura nordestina. Ele ensina a técnica de xilografia a jovens artistas locais.
Sua dedicação à cultura e à arte é verdadeiramente inspiradora, além disso, ele diz que a arte deve ser acessível a todos.
Sua obra não apenas embeleza o mundo da arte. Ao olharmos para suas gravuras, somos lembrados da importância de manter vivas as raízes culturais que moldaram nossa identidade.
O artista vai muito além das fronteiras, enriquece o mundo com sua visão única e dedicação incansável com a sua arte e sua terra.
3 Comentários
Texto encantador, com informações e imagens espetacular. Viajei na história de J. Borges.
Coluna linda! Cheia de cores, de vida, de arte. Trabalho e história encantadora de J. Borges. Texto muito bom que deixa a gente com mais vontade ainda de mergulhar nas obras deste maravilhoso artista.
Uma amante das artes apaixonada pela escrita e a leitura.