Como eu e outros amigos já expomos em outros artigos deste blog: design não é arte, sendo assim, ele está além da estética. É muito comum hoje o raciocínio de que se o design é esteticamente bom, ele cumpre sua missão. Enchemos nossos projetos com mockups bonitos, com grids e cores extravagantes, e nos sentimos satisfeitos se o cliente aprová-lo. Muitas das vezes o cliente nem dispõe de uma verba suficientemente grande para que as peças sejam desenvolvidas. Ao seguirmos essa linha de pensamento e cometermos esses atos, reduzimos o design a um belo quadro de arte, e deixamos de fazer o mais importante.
Design é projeto, é solução de problemas. De nada adiantas belas formas, sem função. De que adiantaria uma poltrona detentora de uma beleza esplêndida, se ao usá-la ela não cumpre sua função de nos oferecer conforto? Ao fazermos design, devemos entender que ele não é feito para nós, mas para o próximo. Devemos sair de nós mesmos e nos por no lugar do outro – empatia -, para que assim possamos ter êxito em nossa missão como designer.
Existe arte envolvida no design, mas não acho que design seja arte. Na minha percepção, arte é a maior auto-expressão de um indivíduo criativo. Para mim, como designer, o maior objetivo não é a auto-expressão. Meu objetivo é solucionar um problema para outra pessoa. – Tinker Hatfield
Creio que entender essa questão seja crucial para que possamos empregar o design da forma correta em cada projeto. Em minhas aulas da faculdade, aprendi que a pergunta a se fazer em relação à uma peça gráfica, um site, ou qualquer outra peça desenvolvida a partir do design, é: ela soluciona o problema? E não se é bonito ou não. Quando um cliente vem até nós, ele vem com um problema nas mãos; ao recebermos esse problema, devemos deixar de lado todo desejo que habita em nós e não condiz com o projeto. Devemos buscar as respostas não em nós mesmos, mas em seu público.
“O design deve ser executado em resposta às necessidades humanas. O desempenho do design deve ser demonstrável e mensurável. ” – Gregg Berryman
Depois de entendermos a importância da função, devo dizer: a estética, a forma, é mais do que importante. Ela também se faz necessária. Não adianta um produto ser funcional, se ele for esteticamente feio. John Dewey, em Arte como experiência, fala sobre os produtos que não dispõem do belo como característica, ele diz: por mais útil que esse produto seja para fins especiais e limitados, ele não será útil no grau máximo – aquele grau em que poderia contribuir direta e generosamente para alargar e enriquecer a vida.
Quando apresentamos o projeto ao cliente, ele é avaliado com um fragmento isolado. Nesses casos, muitos projetos podem ser vistos como uma ótima solução para o problema a ser resolvido. Mas devemos levar em conta a guerra que há nas prateleiras e nos muros do mundo. Quando esse design for exposto, ele não estará sozinho em uma bela moldura pendura numa parede em branco, ele estará ao lado de inúmeros outros designs, e aí que entra a importância da estética. Ela, a estética, é o primeiro contato entre design e consumidor, e para que esse contato tenha êxito ela tem que suprir as necessidades estéticas desse público.
Essa questão pode ser melhor entendida pelo conceito de design emocional, empregada pro Donald Norman em seu livro. Ele divide o design emocional em três etapas: visceral, comportamental e reflexivo. Irei me ater à primeira etapa, pois creio que ela será suficiente para explicar o parágrafo anterior. Mauro Adriano Müller explica muito bem esse estado: “no nível visceral do cérebro, aspectos físicos como aparência, toque e som, são dominantes. Por isso, fatores como beleza, limpeza e estética são fundamentais: a porta do carro que é firme e quase não produz som ao ser fechada, o som poderoso e singular da descarga de uma moto Harley Davidson – são exemplos simples que comprovam a nossa adoração pelas curvas, superfícies, sons, objetos sólidos e robustos.” Isso explica o porquê da estética também ser necessária. Caso você queira saber mais sobre as outras duas etapas, indico o vídeo do Daniel Furtado (UX Now).
Para terminar, deixarei um lindo poema de Paul Rand:
O design gráfico –
que supre necessidades estéticas, obedece às leis da forma
e às exigências do espaço bidimensional;
que fala na língua das semióticas, das letras sem serifa e da geometria;
que abstrai, transforma, traduz,
gira, dilata, repete, espelha,
agrupa e reagrupa –
não será bom
se não tiver nada a dizer
O design gráfico –
que evoca as simetrias de Vitrúvio,
a simetria dinâmica de Hambridge,
a assimetria de Mondrian;
que tem uma boa gestalt;
que é gerado pela intuição ou pelo computador,
pela invenção ou por um sistema de coordenadas –
não está bom
se não atuar
como instrumento
a serviço da comunicação. [1]
[1] RAND, Paul. Pensamentos sobre design. São Paulo: Martins Fontes, 2015