Cinema e Séries A volta por cima do Esquadrão Suicida

A volta por cima do Esquadrão Suicida

Por Erica Oliveira Cavalcanti Schumacher

Reconhecido pelo fiasco de 2016 (e apesar do Oscar por categoria técnica), a franquia da DC que reúne vilões para cumprir missões governamentais mereceu e recebeu a sua segunda chance nos cinemas. Nas mãos do habilidoso James Gunn (responsável pela direção dos Guardiões da Galáxia), o reboot e a requalificação do elenco foram capazes de lapidar o melhor dos personagens do novo O Esquadrão Suicida. Fazendo pouca menção à trama anterior, o longa restaura a iniciativa de Amanda Waller (a irretocável Viola Davis) em enviar a um pequeno país da América do Sul um grupo de malfeitores custodiados para dar cabo a uma missão secreta e fora da agenda oficial do governo norte-americano. Basicamente, estamos diante do mesmo tabuleiro de 2016, mas com uma cautela redobrada na execução das jogadas. O início do filme mostra como Waller descarta anti-heróis ineficientes e isso parece simbólico diante do recomeço da história com um novo grupo de atores e diretor.

Em 2016, o primeiro Esquadrão Suicida pecou no CGI, no roteiro e (talvez despropositalmente) trouxe ao centro da trama um relacionamento excessivamente abusivo vivido por Arlequina (Magot Robbie) e Coringa (Jared Leto). A junção do sucesso da personagem com o público e o roteiro protagonizado por ela levaram a diversos debates sobre os maus exemplos que o filme deixou. Somados a diversos outros contragostos, nem o Oscar pela maquiagem limpou a barra da obra de 2016, reconhecidamente um dos maiores fracassos da DC. Todavia, foi de opinião geral que o problema estava na execução (Jared Leto que o diga), e não no material-base. Sendo assim, salvou-se o êxito (Arlequina e Amanda Waller) e um novo Esquadrão foi erguido.

Surpreendentemente, o resultado desta nova empreitada pode ser considerado um sucesso. CGI convincente, roteiro ajustado, personagens mais envolventes e filmado em câmeras IMAX, o novo filme ousou em quesitos inesperados. O longa possui algumas cenas que serão recebidas com espanto pelo nível de violência retratada; parte delas serão lembradas como sequências de um filme propositalmente trash, que pode ser acusado de tudo, menos de covarde. Em outros momentos, vale o destaque ao jogo de câmeras e fotografia. A trilha sonora merece destaque à parte por reunir alguns cantores brasileiros, pois o enredo se passa no fictício país sul-americano Corto Maltese. Marcelo D2, Céu e Karol Concá dão vozes ao som e se reúnem à Alice Braga no elenco para formar a delegação brasileira no Esquadrão.

A reconfiguração do elenco mostra Idris Elba (Sanguinário) ocupando confortavelmente o espaço deixado por Will Smith (Pistoleiro) na liderança do grupo. Novos fichados ocupam posições estratégicas que pertenceram à Cara Dellavigne, Jared Leto e companhia, mas não se pode no todo falar em acerto. O ponto que escapa à maré de acertos está na inadequação do personagem do Sr. Bolinhas (David Dastmalchian), que não é capaz de mostrar como sua ausência resultaria em falha na equipe. Em sentido oposto, o Pacificador (John Cena – ainda vivo na mente de quem o viu como o Toretto caçula em Velozes 9), Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior) e o Coronel Rick Flag (Joel Kinnaman) se mostram afiados e afinados na composição do grupo.

No entanto, nem a soma de todo o elenco junto é capaz de rivalizar com a predominância, a exuberância, o controle de enredo, o brilhantismo e o protagonismo de Margot Robbie e sua Arlequina. É possível dizer que Harley Quinn foi a causa pela qual a franquia não foi abandonada pela DC depois da empreitada de 2016. Depois de Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa no ano passado, Arlequina se consolidou como uma aposta segura da DC para quantos filmes forem possíveis. A certeza dessa jogada está na convicção com que a australiana Robbie vem desempenhando o papel cativante da ladra maluquinha com todo seu empenho e criatividade. O apelo infantil que a personagem conquistou foi coroado com acréscimos digitais suavizantes em cenas que mostram toda a potência letal da anti-heroína e o resultado acaba parecendo mais irônico do que pueril.

Com figurino repaginado (não há mais desculpas no cinema para heroínas – ou anti-heroínas – usando calcinha enquanto o restante do elenco masculino veste armadura numa batalha), Harley mostra que aprendeu lições quanto ao seu passado (numa ação exitosa de encerrar a abusividade do relacionamento retratado no longa anterior) e mergulha com afinco no humor e na dramaticidade, a depender da ocasião. Vale dizer que seu tempo de cena é amparado pelo melhor tratamento visual possível. A coreografia das lutas, o figurino e a maquiagem deslumbrantes e a ousadia das cenas elevam Arlequina ao protagonismo indiscutivelmente. Pequeno spoiler: atenção à cena das algemas, o diretor James Gunn confirmou que não houve dublê nessa sequência, o que deixa o momento mais inacreditável ainda! Isso tudo permite que o público possa reverenciar esta forte personagem feminina em paz!

Finalizando os comentários, mas não menos importante, é interessante destacar como um roteiro aparentemente leve (exceto pela sanguinolência) conseguiu levantar debates válidos sobre a postura colonizadora empregada pelos Estados Unidos ao longo da História. Um estudioso das ciências humanas se surpreenderia com a qualidade do debate decolonial que se estabelece no roteiro a partir de um certo momento. A iniciativa de levar o esquadrão para libertar o povo de um pequeno país sul-americano de um ditador inimigo dos Estados Unidos brinca com posturas típicas da Guerra Fria, além de nazistas infiltrados na América do Sul, nos remete a um visual à la Fidel Castro e questiona o intervencionismo estadunidense nos dias atuais.

Pelo exposto, é possível definir O Esquadrão Suicida como um filme surpreendente. A trama sabe impressionar pela violência, comédia e contexto e coloca a franquia em uma estrada equilibrada o suficiente para que se cogitem os próximos desafios cinematográficos. Para além de uma dependência da protagonista, a equipe se desenvolve bem e encontrou um rumo muito mais bem definido e executado. Pequenos ajustes são necessários, mas nada que embace a bonança construída por James Gunn na Força-Tarefa X.

O Esquadrão Suicida estreia nesta quinta-feira, 05 de agosto nos cinemas. Estreia simultânea no streaming ocorre na plataforma HBO Max. Confira o trailer no link a seguir:

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