Em tempos de pandemia onde o isolamento social é uma necessidade para resguardar a sua saúde e a do próximo, temos encontrado no entretenimento um grande auxílio à manutenção da saúde mental. Nesse sentido, os artistas tem realizado um excelente trabalho, fornecendo conteúdo através das transmissões por meios digitais, tanto para fins de entretenimento quanto para arrecadação de fundos para auxílio no combate ao COVID-19, no entanto tem muita gente usando o termo “Live” de forma errônea, gerando um novo entendimento para a palavra, e nesse meio tempo, causando a frustração de muitos. Ao menos eu, fiquei extremamente desapontado com a falta de conhecimento de quem divulgou como “live” um evento de broadcast (não confundir com live broadcast).
Apresento no texto a seguir a explicação de cada um dos termos e a crítica a alguns eventos transmitidos nas últimas semanas.
Live
A famosa “live”, é uma versão resumida do termo Live Broadcast, que é o evento de transmissão de conteúdo ao vivo, em tempo real, em ampla escala.
Nos últimos dias temos visto lives com conteúdos diversificados, para públicos diversos e muitos anúncios de lives que na verdade não o são.
Live é o que fez Gusttavo Lima, Sandy e Junior, Nando Reis, e Zélia Duncan, onde seus conteúdos foram transmitidos em tempo real, com o público participando e interagindo através dos comentários de cada uma das plataformas escolhidas. Zélia Duncan, por exemplo, usou a plataforma do Instagram, enquanto os demais em sua maioria se utilizaram do Youtube.
Uma nota para a live de Nando Reis, foi uma das mais divertidas. Uma vez que o artista declaradamente assumiu durante a transmissão não ser ainda um profundo entendedor de tecnologias, suas interações foram francas, humildes, e extremamente divertidas. Era nítido o fato de que era uma transmissão ao vivo e, em respeito ao seu público, Nando decidiu participar sabendo somente o básico sobre o que estava fazendo, e foi fantástico, mesmo encerrando mais cedo por um problema técnico, o qual o próprio artista brincou: “Não sou supersticioso, mas é um sinal!”
Zélia Duncan falou sobre a falta dos aplausos, não somente pelos aplausos, mas pelo “calor” e emoção que são gerados em um palco. Para os músicos, já acostumados à platéia cantando suas músicas, aplaudindo, e gritando, o isolamento deve estar sendo um período bem desafiador. Acho justo deixar claro que agradecemos por estarem fazendo o melhor que vocês podem fazer nesse momento.
Talvez, por serem mais jovens, Gusttavo Lima, e os irmãos Sandy e Junior, lidaram melhor com o uso da tecnologia e também mandaram muito bem em suas lives, trazendo seus sucessos e gerando agitação nas redes sociais com eventos que, certamente, atingiram em cheio o coração de seus públicos e trouxeram um momento de descontração em meio a tensão do isolamento social.
Agora, tem muito evento sendo divulgado como live e na verdade não o é.
Transmissão Simultânea
“One World: Together at Home” (Um Mundo: Juntos em Casa), encabeçado por Lady Gaga e um grande time de astros da música mundial ( dentre os quais Elton John, Billie Eilish, Paul McCartney, Rolling Stones, Eddie Vedder, entre outros) conseguiu arrecadar US$ 127,9 milhões entre patrocínios e doações para a ONG Global Citizen.
Amplamente divulgado como a “live das lives”, o evento não passou de uma editada transmissão simultânea entre várias plataformas de streaming e as redes de televisão ABC, CBS e NBC. Isso sim define a totalidade do termo Broadcast, mas não uma Live.
Não minimizo a grandiosidade e a qualidade do conteúdo da transmissão, e a benfeitoria gerada pelo evento, mas foi um desapontamento imaginar que alguns de meus artistas favoritos estariam ali, ao vivo, em um momento tão delicado, junto comigo e…. não, ele não estava! Era como assistir a um compilado de versões acústicas em um DVD.
É simples de entender que a logística de transmissão ao vivo, para um evento com essa grandeza, e tamanha diversidade de artistas, mantendo o isolamento social é algo de extrema complexidade e portante é compreensível que a opção foi a edição e transmissão de gravações prévias. Mas, nem de longe, foi algo que pudesse ser chamado de live. Provavelmente o problema foi causado pela falta de conhecimento das mídias não oficiais, uma vez que no site da Global Citizen, referente ao evento, lê-se “A global broadcast & digital special to support frontline healthcare workers and the WHO” (“Uma transmissão especial global e digital para auxiliar os cuidadores da linha de frente e a Organização Mundial de Saúde”). Alguém leu aqui “live”… “ao vivo”???
Ainda assim, é digno de parabéns e louvável a atitude de um evento dessa grandeza em prol da arrecadação de fundos.
O mesmo vale para o evento de uma hora “Jersey 4 Jersey” para arrecadação de fundos para a NJPRF (New Jersey Pandemic Relief Fund), transmitido agora há pouco (22/04/2020, 20:00 hs horário de Brasília, e que foi divulgado como a “Live do Bon Jovi”. O próprio Bon Jovi tocou apenas duas vezes.
Há também outros artistas que tem disponibilizado o conteúdo de alguns de seus shows, como a banda de heavy metal Metallica que desde o dia 23/03 está com o projeto #MetallicaMondays publicando, todas as segundas-feiras, um show realizado pela banda para que o público possa rever momentos históricos da banda. Inclusive, com o adiamento da turnê “WorldWired”, cuja primeira apresentação no Brasil seria ontem (21/04/2020), em Porto Alegre, a banda lançou o álbum “Live in Brazil (1993 – 2017)” uma coletânea com gravações ao vivo das passagens da banda pelo Brasil.
E você, tem assistido muitas lives ou muitas transmissões simultâneas? Se decepcionou ou se alegrou demais com alguma? Conte-nos como tem sido sua experiência.