Design Esgotamento físico e mental: conheça a Síndrome de Burnout

Esgotamento físico e mental: conheça a Síndrome de Burnout

Por D'Nascimento

Imagine uma propaganda: a luz entra pela janela iluminando o rosto do casal. Se espreguiçam e se beijam felizes. Agora, já na cozinha, a mãe prepara o café antes de ir para o trabalho e, ao que parece, levar seus filhos à escola. Estes estão educados e sorridentes na mesa, quando o pai chega, beija o ombro da mulher, beija os filhos e senta-se na mesa. Sorrindo e claramente “besticontentes”, distribuem afetos enquanto o foco da câmera destaca uma faca com uma porção de manteiga passada em um pão quente, sendo depois degustada pela família feliz, tendo ao fundo e por fim, uma voz que recita um slogan clichê após cantarolar o nome da marca.

Agora imagine aquele video de um evento super badalado sobre empreendedorismo, marketing e afins: Pessoas sorrindo, vibrando. Tudo em câmera lenta. Uma música pop ou um rock’n roll que precede a entrada triunfal de alguém que provoca em você euforia e aquela vontade de “quero ser esse cara!”. Mais sorrisos, mais choros, muitas pessoas e muita câmera lenta. Agora vem um depoimento de superação e super transformação. Vem também a sensação mágica de “eu posso! Basta acreditar”. Vem a promessa, a fórmula e o preço. Agora o convite e, você e sua carteira, abertos à realizar o “Épico” com “trocentos” jargões em inglês que você não entende, mas ainda alimentam a vontade de “ser eu”.

Essas descrições lhe são familiar? Imagino que sim.

Vivemos em uma sociedade que reforça valores e anseios que são retroalimentados nos detalhes. Comovendo e constrangendo cada um, na busca por sucesso e realização padronizados e refletidos na personificação da “família feliz e ideal” das propagandas, somada com a cultura de competição e necessidade de ser mais e melhor ou ao menos ter. O que no fim, confunde-se no ser.

Esse ideal é transformado em “munição” para uma enxurrada de fórmulas, programas e promessas de uma vida melhor com menos esforço, de mais tranquilidade com muito dinheiro. Tudo fácil! Ou as vezes com uma pequena dose de “realidade”? – você precisa se esforçar, mas…. – com uma recompensa fantástica, provavelmente fazendo da praia, seu escritório.

Mas, que isso tem haver com o “esgotamento” e vida profissional na vida real?

A resposta é tudo.

Tudo isso são imputs. Pequenas-grandes entradas/impulsos para geração de vontades e expectativas que são cada vez mais profundas. Antes apenas uma vontade rasa, agora um poço profundo.

A competição é real em um espaço que parece cada vez mais estreito em um ambiente que é cada vez mais rápido e que exige de nós uma adaptação cada vez mais efetiva.

O esgotamento ou cansaço absoluto é natural em um cenário como esse.

Antes, essa adaptação/inovação anteriormente era uma preocupação de pessoas mais experientes. Agora, a cobrança é cada vez mais embrionada na infância e sobrecarregada na juventude, principalmente no mercado de trabalho.

Workaholics são cada vez mais comuns e romantizados em diversas áreas, principalmente nas áreas criativas.

Os Workaholics, normalmente tem o desejo de serem as melhores e sempre demonstrar alto grau de desempenho e também medem a autoestima pela capacidade de realização e sucesso profissional

Contudo, nem tudo são espinhos. Inicialmente? – ?e é justamente nesse processo que se encontra o perigo? -?apenas confundimos dedicação e sacrifício calculado, com rotinas abusivas que são naturalizadas pelos valores que comentei anteriormente.

Em um artigo anterior – Vivendo em conflito: entre a criatividade e a depressão ? – mencionei o aumento do número de casos de problemas psicológicos como causa de demissões e licenças no mercado de trabalho. Aqui temos uma fatia preocupante desse percentual.

Digo isto por um aspecto simples:

a recompensa momentânea e o prazer do reconhecimento pelo esforço ou a luta por este é uma das características preocupantes dos anteriormente citados Workaholics. Dessa forma, são as vítimas principais do esgotamento.

Algo importante ressaltar é que facilmente, a Síndrome de Burnout é confundida com a depressão e a ansiedade, principalmente por compartilharem de sintomas e da necessidade, em grande maioria dos casos, de psicotrópicos. Dessa forma, temos como principais sintomas:

  • Distúrbios do sono;
  • Dores musculares e de cabeça;
  • Irritabilidade;
  • Alterações de humor;
  • Falhas de memória;
  • Dificuldade de concentração;
  • Falta de apetite;
  • Agressividade;
  • Isolamento;
  • Pessimismo e baixa autoestima.

Dada a semelhança com os sintomas de outros transtornos, é importante que ao verificar a experimentação destes, há de ser necessário um diagnóstico psicológico com um profissional.

Contudo, existem práticas que podem reduzir os sintomas e sanar episódios, sejam eles constantes e/ou duradouros

– Busque intervalos regulares e pausas semanais

Entendo a quantidade de demandas e responsabilidades a serem cumpridas. Contudo é necessário ter pausas regulares durante o período de trabalho, bem como, intervalos maiores entre os 7 dias de trabalho.

Em artigos anteriores comentei sobre algumas metodologias, uma delas é o Pomodoro, que pode ser utilizado para gerar rotinas de pausas regulares.

Lembre que a sobrecarga tem seu preço e ele não é nada baixo.

– Seu corpo é inteligente. Fique atento aos sinais

Em muitas situações, dores de cabeça e/ou musculares constantes são os primeiros sinais de abuso do seu corpo. Por isso, OUÇA! Fique atento aos pequenos sinais. Quanto mais cedo equilibrar a rotina, menos chances terá de desenvolver diversos transtornos e doenças.

– Aquele “remedinho para dormir melhor” pode estar escondendo seus sintomas e gerando uma dependência

Existem pesquisas que alertam sobre o consumo excessivo de psicotrópicos como rivoltril para aliviar a tensão, angústias e trazer melhoria da rotina e do sono. Junto a essa prática, que não está limitada apenas a esse medicamento, o consumo de drogas e bebidas alcoólicas é exponencialmente mais alto em pessoas que vivenciam rotinas abusivas de trabalho e na Síndrome de Burnout.

É importante lembrar que as medicações, sejam elas quaisquer forem, só devem ser utilizadas sob prescrição médica, dado que envolvem rotinas de uso e de desmame. O seu uso abusivo, ameniza os sintomas, sublimando e gerando dependência que, posteriormente diagnósticada, torna o processo de desuso doloroso e muito mais complicado.

O uso de drogas e bebidas alcoolicas como alternativas aos psicotrópicos representam o mesmo risco.

Aqui fica uma ressalva importante:

De forma dura e simples, anestesiar a dor através de drogas lícitas ou não, é uma fuga da realidade que não colabora para o enfrentamento e resolução dos problemas. A persistência nessa prática torna, pouco a pouco, mais difíceis as abordagens e tratamentos, com episódios cada vez mais intensos e traumáticos. 

– Um desafio: Organize-se

Aqui temos um ponto muito complicado. Nem sempre é possível roteirizar todo nosso dia. Há coisas que nos escapam cotidianamente, principalmente em nosso ambiente de trabalho.

Contudo a criação de rotinas e padrões, por mínimo que sejam, facilita a compreensão e diminuem o desgaste mental e corporal. Organize seu espaço de trabalho e tome nota das demandas de forma facilitar o cumprimento e resolução de cada uma delas.

– Vamos usar um termo mais técnico: tenha sistemas de suporte

Família, amigos e até mesmo nossos pets são aliados essenciais na batalha contra o esgotamento. Dedique tempo, mesmo que pouco, para se divertir, compartilhar e vivenciar esses alicerces tão importantes para estabilidade de nosso corpo e nossa mente. E não esqueça de buscar ajuda de um profissional de saúde.


Você já sofreu com a síndrome de burnout? O que ajudou você a superá-la? Deixe nos comentários e colabore com a vida de outras pessoas compartilhando experiências.

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