Em meados dos anos 90, inúmeros eram os donos de hits que sobrecarregavam estações de rádio, vendiam milhares de revistas e recebiam uma tonelada de cartas dos fãs. Para quem nasceu na geração de acesso aos ídolos através de redes sociais, Youtube e smartphones, essas pessoas não têm a mínima ideia de como um fã sofria há 20 anos atrás.
Com essa premissa, o filme Chocante, dos diretores Johnny Araújo (E aí, comeu?) e Gustavo Bonafé (Legalize Já) retrata a tentativa de retorno às paradas de sucesso de uma boyband dos anos 90 composta por Tim (Lúcio Mauro Filho), Téo (Bruno Mazzeo), Clay (Marcus Majella) e Tony (Bruno Garcia), que depois de uma curta carreira interrompida por uma briga entre os integrantes, sumiu dos holofotes e fez com que os cantores levassem uma vida normal, seja como motorista do Uber ou anunciante de promoções em um supermercado.
O filme retrata diversos aspectos da vida dos ex-famosos, tais como a vida atual regada a monotonia, os problemas familiares como um casamento infeliz ou a guarda compartilhada, o constante estímulo da representante do antigo fã clube e os choques de interesse com Lessa (Tony Ramos em uma breve participação), o antigo empresário da banda. Narra-se de forma interessante as mudanças ocorridas no cenário social de fanatismo dos admiradores entre a década de 90 e a realidade atual, onde ser famoso implica em um séquito de seguidores no Snap, no Face e no Insta, ferramentas pouco conhecidas dos músicos. Isso gera conflitos entre os 4 veteranos e Rod, o calouro da banda, que substitui o quinto integrante falecido.
Quem passou pela década de 90 vai perceber que nomes pouco usuais hoje em dia dominam o longa, a exemplo das paquitas, da banheira do Gugu e do pintinho amarelinho e a aparente concorrência com o Molejo, Asa de Águia, Katinguelê e Dominó, sendo essa última a principal referência do filme. O panorama fica completo com o visual neon de pseudo rebelde que todos os integrantes possuem.
A ambientação comparada entre anos 90 e atualidade trouxe um resultado excelente, juntamente com a atuação dos protagonistas, que esbanjam entrosamento e repetem parcerias antigas da comédia brasileira. Vale lembrar que Lúcio Mauro Filho e Bruno Garcia estiveram juntos na série A Grande Família (2002), Sexo Frágil (2003) e Saneamento Básico, o Filme (2007), assim como Bruno Mazzeo, Débora Lamm e Lúcio Mauro Filho atuaram em Muita Calma Nessa Hora 2 (2014) e Pedro Neschling e Bruno Mazzeo participaram lado a lado em Casos e Acasos (2007).
O problema do filme reside nos rumos que ele toma. Inicialmente, o humor é de boa qualidade e bem dosado, sem necessidade de apelar para malabarismos e apostando na graça que se extrai do cotidiano das pessoas comuns. Entretanto, o longa leva o público a esperar algo mais de seu final e ao não entregar isso, permite que o espectador saia da sala frustrado com o desfecho apresentado. No fim das contas, parece que tanto o roteiro como o filme não passaram de uma tentativa bem ensaiada, baseada em uma história com potencial, mas explorada da forma errada.
O talento para comédia do elenco está acima de quaisquer suspeitas, contudo, espera-se que o retorno de uma banda esfarelada há 20 anos se agarre ao que eles podem oferecer de novidade para a plateia, seja um remix ou uma repaginada no visual. Nada disso acontece e no final, todos estão mais encrencados do que no início, tanto na carreira como na vida pessoal. A sensação transmitida é que nada se resolveu, nada melhorou e a inovação não se misturou com a receita de sucesso dos anos 90, levando a banda novamente ao fracasso. Foi um resultado infeliz para uma ideia feliz.
Aviso: Para quem pretende assistir ao filme, deve-se adiantar que o hit Choque de Amor acompanha a plateia para fora do cinema.
Confira o trailer: