O fim de semana de estreia de Mãe! já deu o que falar. Os elogios à obra são tantos quanto a quantidade de abandonos de sessão pela metade. As mesmas opiniões divididas que varreram cabines de imprensa mundo afora se repetem nas exibições comerciais do novo longa do diretor Darren Aronosfy, que dirige e namora Jenifer Lawrence, a protagonista do filme. Veja a pequena entrevista da atriz, que fala sobre os dilemas de sua atuação:
Enquanto Lawrence se debruça sobre a carga explosiva e as camadas da personagem em entrevista de vídeo, o diretor nova-iorquino fala de sua carreira e das necessidades do filme em termos de intérpretes, além de não poupar elogios à sua amada.
É como se você lançasse o desafio: Porque descartamos aquilo que nos alimenta e nos sustenta, mesmo correndo o risco de nossa própria destruição (natureza egocêntrica narcisista)? Por outro lado, porque permitimos isso, fechando nossos olhos para aquilo que isso representa (co-dependência, desinteresse)?
R: Muito disso foi inconsciente. Escrevi tudo em 5 dias. Isso capturou meu espírito naquele momento. Tem a ver com muita insaciabilidade, com todos nós. Parece que muitas vezes precisamos constantemente aproveitar. Não sei de onde aquilo veio com a gente. Sou um ambientalista desde que era adolescente. Vejo este incrível planeta que habitamos e o que estamos fazendo com ele. Estamos começando a ver o limite de nossas ações. Estamos começando a ver o prato vazio.
Esse filme irá gerar, sem nenhuma dúvida, muitas respostas provocantes e acaloradas, bem como um desconfortável e extasiante elogio. Você estará mais envolvido com o público com esse filme do que com outros filmes anteriores?
R: Estou entusiasmado com as conversas que surgirão após assistirem ao filme. Quero que as pessoas deixem o cinema e conversem sobre o filme e espero que voltem para assisti-lo novamente. Há muita coisa acontecendo nesse filme. Não é aquele seu filme normal no cinema. Haverá muitos comentários e estou empolgado com isso. É como jogar uma granada de mão na cultura popular.
Jennifer Lawrence continua a se destacar por seu talento e pelos filmes que escolheu. As estrelas são notadas de uma maneira normalmente e por todos. Você ficou surpreso por ela se unir ao elenco?
R: Sim. Acho que quando estava escrevendo o roteiro nunca havia considerado Jennifer porque muitos atores como ela estão frequentemente muito ocupados. Sabia que não seria um filme com grande orçamento e por ela estar tão ocupada, não imaginei que ela teria tempo para atuar em um filme menor. Quando começamos a fazer o filme, recebi um telefonema de seus agentes e eles disseram que eu deveria me encontrar com ela em Atlanta. Quando a encontrei ela estava muito empolgada e interessada no filme. Não tinha certeza do que ela iria fazer com o filme. A quantidade de talento natural é verdadeiramente incrível. Ela realmente desenvolveu e deu vida à personagem. Ela é muito talentosa, definitivamente destemida.
Como foi Lawrence como colaboradora?
R: Ela é o sonho de qualquer diretor. Ela tem muita confiança. Porém, quando algo não faz sentido ela é muito articulada sobre o que aquilo significa. Ela não tem qualquer problema em pedir ajuda se estiver em dificuldades e isso demonstra confiança.
Para onde ela conduziu o papel que você originalmente criou?
R: No final, ela fez dele seu próprio papel. Você quer que os atores peguem o que você escreve e transformem aquilo no seu próprio papel. Como escritor, você quer ver como um ator entende o personagem e o expressa na vida real. Ela fez isso. Aquela é sua expressão de mãe.
Esta é sua sexta colaboração com o cineasta Matthew Libatique. Conte-nos sobre essa relação de trabalho e sobre a decisão de focalizar de perto o rosto de Jennifer durante todo o filme.
R: Conheci Mattie no primeiro dia da escola de cinema há 25 anos. Ele era o mais novo do departamento de diretores do AFI quando ambos estávamos lá. Somos ambos nova-iorquinos, ele cresceu no Queens e eu no Brooklyn. Ambos crescemos com o Hip Hop. Simplesmente tínhamos essa conexão. Ele tem um tremendo senso de estilo. E ele é tão obsessivo e compulsivo sobre a arte quanto eu sou. O único atrito que tivemos é sobre como fazer o melhor filme. Mas esta diferença desafiadora pode ser bastante útil. Existe muito respeito entre nós. Sobre os closes, desde a concepção do filme, eu queria fazer o filme a partir do ponto de vista de Jennifer. Todo o estilo de filmagem do filme era basicamente em três tomadas: no seu rosto, por sobre seu ombro ou a partir do seu rosto. Neste filme estávamos limitados por nossas fronteiras artísticas, então as transformamos em força. Este foi um filme completa e verdadeiramente subjetivo e era isso que queríamos. Mas Jennifer sempre o tornou interessante, sempre o mudou para melhor e por isso você não percebe que passa tanto tempo com ela.
Escolhendo o ator: Porque Javier Bardem? Foi aquela sensação de seriedade do velho mundo que ele parece ter em seus maneirismos?
R: Sim. Tinha que encontrar alguém que pudesse contracenar com Jennifer e se dar bem. É sempre difícil encontrar alguém como ele, devido ao quanto ele é poderoso. Precisava de alguém que pudesse interpretar o personagem que seria charmoso, mas que o valentão pudesse ser incorporado.
Uma das atuações mais convincentes no filme é a de Michelle Pfeiffer. O quando daquilo que vemos é criação sua ou a penetrante interpretação dela da personagem da mulher, misturando aquela agressão e sedução na medida em que ela invade o mundo de mãe?
R: Ela é mestre, simples e verdadeira. Michelle assumiu, entendeu e deu muita vida à personagem em todos os momentos. Todas as vezes, ela faz coisas que são muito difíceis e depois acrescenta mais e mais camadas. É dessa maneira que ela tenta esconder as emoções, mas isso vem à tona de maneiras diferentes e surpreendentes. Ela controla as luzes do local. Ela controla o set. Ela controla tudo. MUITO da personagem é Michelle.
Não há elos fracos no elenco. Todos possuem talento do calibre do Oscar. Porque você escolheu Ed Harris como o homem, o primeiro invasor do Paraíso?
R: Tive que encontrar um ator que fosse tanto carismático, mas que pudesse também ser estranho e ter esta tremenda paixão. Nós escolhemos o elenco na ordem de aparição dos personagens. Assim que contratei Jennifer, escolhemos Javier e depois o terceiro personagem apareceu, o qual era Ed. Como ele teria que carregar seu fardo contracenando com Javier e teria que ser alguém com quem o personagem de Javier gostaria de estar, assistir uma partida de futebol, Ed Harris era o cara, um homem admirado por outros homens. O que é incrível sobre Ed é que ele pode demonstrar fraqueza e todos os aspectos que o personagem exigia.
Um fato é certo: ninguém sai imune à exibição de Mãe!, seja por um surto de abominação ou de adoração, a história é tão perturbadora que acompanha o espectador para fora da sala e seu apreço requer uma boa dose de digestão. É tão plausível que seja tanto indicado ao Oscar de melhor filme como ao Framboesa de Ouro de pior filme.
Para quem ainda não assistiu, confira uma amostra do trailer, salientando que as sugestões do teaser não representam sequer 10% da sinopse nas telas: