Cinema e Séries Cobertura Especial: Cromossomo 21 | o filme, o projeto e as pessoas por trás

Cobertura Especial: Cromossomo 21 | o filme, o projeto e as pessoas por trás

Por Erica Oliveira Cavalcanti Schumacher

Nestes últimos 2 dias, o DC teve a honra de participar da coletiva da imprensa e da cabine de imprensa do filme nacional Cromossomo 21, dirigido, produzido, montado e roteirizado por Alex Duarte. O longa é protagonizado pelos atores Luís Fernando Irgang e Adriele Pelentir. Luís Fernando é ator de teatro e foi selecionado, segundo o diretor, pela empatia que demonstrou pela causa e pela facilidade em transitar pelo roteiro; já a protagonista é uma nutricionista iniciante na carreira de atriz e conquistou o papel por ser exatamente o que se esperava que Vitória fosse: Adriele nasceu com Síndrome de Down, é inteligente, independente, criativa, autônoma em seus relacionamentos amorosos e fraternais e um exemplo de ser humano. Em síntese, encenar a personagem Vitória é, em grande parte, emprestar sua vida à arte.

O filme demorou 7 anos para ficar pronto e a trama gira em torno do relacionamento mantido entre Afonso (Luís Fernando Irgang) e Vitória (Adriele Pelentir), sendo ele um ator sonhador e ela uma pessoa com deficiência que sabe aproveitar o tempo muito melhor do que aqueles que se consideram sem nenhuma limitação. A obra independente teve um orçamento inicial de R$ 10.000,00 e se situa no Rio Grande do Sul. A narrativa parte de uma experiência que Afonso coloca em prática leva-o a esbarrar com Vitória e surge daí uma paixão repentina.

Seria uma clássica história romântica se a quantidade de cromossomos que o casal possui fosse paritária. O fato de Vitória ter nascido com Down traz à tona todo o preconceito da família do rapaz, que mantém em aparência o sentido oposto, já que a mãe do garoto mantém uma ONG que auxilia pessoas com a Síndrome de Vitória. A mesma situação de julgamento é apresentada sobre uma interessante ótica inversa quando a mãe de Vitória passa a compor a conjuntura do roteiro. O diretor Alex Duarte enfatiza que a maior descrença que essa minoria sofre parte de sua própria família, que não acredita na capacidade, na autonomia e na potencialidade que pode vir a ser desenvolvida quando o incentivo correto é dado a essas pessoas.

As atrizes Deborah Finocchiaro e Suzy Ayres interpretam, respectivamente, a mãe de Vitória e de Afonso. Em cena, as duas conseguem fazer com que o filme gire em torno delas; são duas forças opostas que combatem vigorosamente no interesse daquilo que julgam melhores para seus filhos, mas sem indagá-los sobre a pertinência de seus posicionamentos. Antônia (Suzy Ayres) choca a plateia com suas tiradas absurdas, tais como a afirmação de que teria netos geneticamente condenados acaso o filho levasse o namoro adiante.

A preocupação do diretor Alex Duarte (publicitário por formação e cineasta por vocação), que é amigo pessoal de Adriele Pelentir, é demonstrar o prisma de uma vida para além da Síndrome que a acompanha. O teor crítico está posto a todo momento, contudo, Alex sustenta que não pretendia transformar Cromossomo 21 em um panfleto ou em um filme didático, haja vista que seu foco é o romance dos protagonistas. O grande questionamento feito ao público é como lidar com o impedimento de amar uma pessoa em face de suas deficiências. Essa mesma indagação foi feita pela atriz Adriele Pelentir ao seu amigo Alex Duarte. A busca por uma resposta resultou no filme que ora se comenta.

Em sentido contrário, foi justamente o teor de militância que levou o longa ao reconhecimento para além do Brasil. A perspectiva de tratar da vida comum que uma pessoa com Down pode ter (Vitória sai com amigas, troca de namorado, frequenta boates e bares, atua e se defende do preconceito) levou a obra a ser apreciada no cenário internacional. Um fator preponderante dessa repercussão é que a personagem que nasceu com Síndrome de Down é interpretada por uma atriz que divide essa experiência na vida real.

Diversamente do que o cinema comumente aposta em colocar atores sem limitações para interpretarem pessoas com deficiência (destaque-se Sean Penn/Uma Lição de Amor, Leonardo DiCaprio/Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador e Dustin Hoffman/Rain Man), Cromossomo 21 segue a cartilha apresentada no drama chileno Uma Mulher Fantástica, onde a personagem transexual é encarnada por uma atriz igualmente trans. Essa pequena atenção garante toda diferença, na medida em que assegura a tão almejada igualdade de condições na vida e na arte em prol das minorias.

A influência da presente obra levou o diretor e seus protagonistas e se engajarem na causa. O resultado disso é a publicação do livro homônimo em 2015, que aborda a autonomia profissional e pessoal alcançada pelo público com Down e a série Geração 21, que se debruça sobre a mesma temática. Afora isso, o próximo projeto divulgado por Alex Duarte durante a coletiva de imprensa é o filme Sim, É Possível, trama que abordará a acessibilidade para pessoas com deficiência em vários países do mundo. Vale destacar ainda que Cromossomo 21 foi o longa que representou o Brasil na ONU em 2017 durante o evento que tratava da Síndrome de Down. A proposta é que o filme seja apresentado na Unicef no próximo ano em Nova York.

A título de agradecimento e informação, impende destacar que Cromossomo 21 está sendo exibido em poucas salas no país. Dessa forma, a divulgação em cima do longa está sendo massiva para garantir que o público máximo seja alcançado. Em Pernambuco, o cinema que abriu as portas para a obra foi o Shopping Costa Dourada, localizado no Cabo de Santo Agostinho (para os leitores fora de PE, essa cidade se situa entre o Recife e Porto de Galinhas, no litoral sul). Durante o evento de lançamento, os jornalistas que realizaram a cobertura foram gentilmente alocados no Hotel Intercity, assim como o elenco e o diretor. O bate-papo aconteceu na manhã do dia 6 de dezembro e após houve a première destinada especialmente às pessoas envolvidas com as ONGs de Down do Estado.

Adriele, Alex e Luís Fernando em coletiva de imprensa com o DC, em 06/12/2017.

A intenção é mostrar que tanto a fictícia Vitória, como a verdadeira Adriele Pelentir são exemplos reais de que a quantidade de cromossomos que um indivíduo possui não define seu destino, suas escolhas ou sua capacidade e amar e ser amado; e essa visibilidade também está nas mãos de pessoas com a sensibilidade de Alex Duarte e Luís Fernando Irgang, que demonstram nas telas e na realidade que tudo é uma questão de empatia. É uma lição de vida àqueles que têm acesso aos dramas e regozijos que só a múltipla experiência humana é capaz de tecer.

Confira o trailer:

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