Somos serem essencialmente visuais. E isso não é uma afirmação vazia. Não é a toa que a natureza, sabiamente, faz com que após o nosso nascimento, um dos primeiros conjuntos de músculos a serem definidos sejam os óculo-motores.
Isso mostra que estímulos visuais são percebidos desde muito cedo pelos bebês. O desenvolvimento dos olhos e das mãos apresenta um papel determinante na vida mental do bebê. Os olhos são de tamanha importância que logo na quinta semana de gestação eles já são moldados. A visão de um bebê desempenha um papel fundamental na esquematização de seu comportamento. A criança olha as coisas muito antes de poder tocá-las, no entanto, só no olhar não consegue estabelecer relações perfeitas com elas, para isso necessita tocá-las com as mãos, sentir as diferentes texturas em sua pele. O primeiro sistema de expressão reconhecida pelas crianças, em seus primeiros estágios, é a “linguagem do desenho”.
O bebê, no entanto, não nasce com as suas percepções formadas, elas são construídas ao longo do seu desenvolvimento, por meio de estímulos. Está é a fase na qual a criança está mais predisposta a receber conhecimento. Tudo é absorvido por ela, pois está ávida por novas experiências que a façam compreender a própria existência e do que existe ao seu redor. O bebê já tem a sua psicologia nos primeiros meses de vida, por isso um ambiente que desenvolva suas capacidades é indispensável. Dentre os elementos principais que influenciam o “mundo” dos bebês estão a forma, a cor e a textura. Para o perfeito desenvolvimento do bebê, os pais devem rodeá-lo o quanto mais possível de um ambiente enriquecedor e estimulante. Eles devem disponibilizar a criança diversos objetos que ela possa mirar, apalpar, manusear ou reagir a eles.
A interação das crianças com os objetos é um importante meio de aquisição de conhecimento. Essa interação deve ser guiada pelo adulto, na criação de um ambiente estimulador. O aumento da capacidade da percepção visual do bebê tem resposta direta no seu desenvolvimento integral, pois impulsiona a atenção, a memória, a formação de esquemas mentais, além de estimular a curiosidade, a coordenação motora e aspectos emocionais e sociais.
Entre o nascimento da criança e a última fase do desenvolvimento da inteligência sensório-motora (até os 18 meses), ocorre uma vasta construção do conhecimento. Aquilo que é absorvido nessa fase não necessitará de reaprendizagem, pois já se encontra plenamente integrado a criança. A criança é um ser sempre em busca de estimulação. Ela constrói seu próprio mundo de acordo com os estímulos que recebe.
Por exemplo, a partir dos 5 meses o bebê já pode se divertir com pincéis, lápis e giz. Palavra de especialista. “Nessa idade, ele já estende o braço para agarrar objetos e, aos poucos, pode ser estimulado a pintar e rabiscar”, explica a educadora e artista plástica dinamarquesa Anna Marie Holm. A especialista lembra que, num primeiro reflexo, o pequeno pode levar a novidade à boca. Não se preocupe. “Faz parte da experimentação”, explica. Mas, claro, tome cuidado. “A proposta é não interferir, deixando o bebê livre para se expressar e explorar as possibilidades do ambiente”, sugere Anna Marie. É dessa maneira que o bebê se diverte e, ao mesmo tempo, aperfeiçoa seus sentidos e sua criatividade.
Mas e o design? Pode ajudar de alguma forma nesse incrível mundo de descobertas dos bebês? Não só pode como deve. O design pode atuar não somente na solução do produto, mas deve construir estímulos para as crianças, utilizando elementos como cores e formas. O design é, notadamente, uma matéria multi e interdisciplinar, que se utiliza e se relaciona com diversas outras áreas no desenvolvimento de seus projetos. Ele deve aliar a preocupação estética com um objetivo concreto e funcional, que é estimular os sentidos dos bebês. Isso tudo, claro, combinado de forma a despertar o interesse do mercado na aquisição do produto final.
Um dos deveres do designer ao projetar um produto infantil, é desenvolver algo que auxilie no crescimento da criança e na evolução de suas capacidades intelectuais. Os produtos destinados às crianças devem estimulá-las, fazê-las deixar a imaginação fluir, sem limites. Assim, a fantasia e a criatividade serão aguçadas, itens tão importantes para um adulto que necessitará buscar em seu repertório recursos para auxiliar e facilitar a sua relação com o mundo. E não estamos falando aqui somente em brinquedos. O campo de produtos para os bebês é vastíssimo. Pode-se fazer isso inclusive nas roupas do bebê, através de estampas visualmente estimulantes e diferentes texturas.
Enfim, seja estimulando o bebê com os objetos com que ele interage, seja incentivando o bebê a criar seus próprios desenhos, cabe aos adultos proporcionar as crianças os recursos necessários para o seu desenvolvimento.
Quem sabe se não virá dali o próximo gênio do design?
Fontes:
GESELL, Arnold (tradução Cardigos dos Reis). A criança do 0 aos 5 anos. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
LA TAILLE, Yves de; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. 18. ed. São Paulo: Summus, 1992
PIAGET, J. A formação do símbolo na criança – imitação, jogo e sonho, imagem e representação. 3 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1990.
VELAZQUEZ, Patrícia Fabiana Moreno. Performances dos bebês – Corpo, objeto, descoberta e conhecimento. Curso de Especialização em Pedagogia da Arte. Porto Alegre, 2010.
MUNARI, Bruno. Das coisas nascem coisas. São Paulo: Martins Fontes, 1998
Site: bebe.com.br e freepik.com
Gisele Monteiro