Design Design e a ética da criação de aplicações digitais

Design e a ética da criação de aplicações digitais

Por Matheus de Souza

No mundo atual estamos acostumados com o fato de que a tecnologia permeia nosso cotidiano de várias maneiras. Diversas atividades que fazemos são realizadas ou mediadas por ferramentas do mundo digital, como compromissos de trabalho, entretenimento, nossa vida social, entre outros.  Este processo de interação intensa nos deixa suscetíveis à qualidade e a adequação das ferramentas digitais que utilizamos em nossas atividades diárias.

 

O design ganhou importância neste contexto. Passou de ferramenta voltada apenas para concepção visual dos das aplicações digitais, para uma disciplina empregada no planejamento da das formas de interação com o usuário, influenciando a lógica dos negócios e até mesmo tomando uma posição central na própria cultura de muitas empresas de tecnologia. Este novo papel do design na indústria de tecnologia pressupõe o uso de novas práticas centradas no usuário, com o produto sendo desenvolvido para atender suas necessidades e proporcionar bem estar aos que interagem com ele.

Contudo, os conceitos e as técnicas que pertencem ao campo do design são utilizadas para aumentar, além da qualidade da experiências dos usuários, o tempo de engajamento dele com determinada aplicação digital. Recursos aplicados nas interfaces de sites e aplicativos, como scroll infinito, notificações na tela de bloqueio, e sugestão de mais conteúdo ao alcance de um clique, aumentam a exposição dos usuários ao conteúdo destes aplicativos e estendem as atividades realizadas ali, em detrimento de outras exercidas fora do mundo digital.

“Nós ansiamos por algum senso de desfecho, alguma sensação de finalizamos uma atividade da qual demos início. Muitas mídias sociais tentam evitar que você tenha esse sentimento”, diz Tim Wu, professor de direito da Universidade Columbia e autor de The Attention Merchants (Os Mercadores da Atenção), uma história de como as empresas ao longo da história se reuniram para disputar e capitalizar a atenção dos consumidores (e usuários), dos primeiros jornais às plataformas tecnológicas de hoje.

Contudo, para Wu, este quadro também já apresenta os primeiros sinais de mudança. Em contraponto ao Tinder, aplicativo de encontros onde você pode descartar uma infinidade de opções enquanto se mantém conectado ao serviço, ele cita outro, como o Coffee Meets Bagel, que oferece apenas algumas opções por dia. Isto garante que os usuários tenham a opção de se deparar com um desfecho na interação com o aplicativo, e aí decidir conscientemente por interromper o uso.

Algumas empresas, atentas a insatisfação de alguns usuários com as técnicas utilizadas para reter sua atenção, começaram a introduzir ferramentas que permitam que os usuários tenham conhecimento e controle sobre o uso que fazem dos aplicativos. O YouTube anunciou recentemente uma nova ferramenta para informar quanto tempo você está assistindo, mas ela está bem escondida em suas configurações, em um espaço de pouco acesso para os usuários.

Justamente neste cenário se encontram as maiores possibilidades para o design como agente de mudança neste cenário. Claramente as práticas discutidas nesta matéria são adotadas pois atendem a uma série de interesses que devem ser levados em conta durante o desenvolvimento de novos aplicativos e demais produtos digitais. Porém, é da própria natureza dos projetos de design lidar com soluções que atendam à exigências diversas, e por muitas vezes, conflitantes.  Balancear os interesses comerciais e corporativos com a atuação centrada nos benefícios oferecidos aos usuários é a chave para que os designers tirem proveito deste novo protagonismo na indústria de tecnologia para oferecer soluções que realmente ofereçam experiências significativas. Citando, novamente, as palavras de Tim Wu, “O design é o determinante, junto com a vontade dos usuários. Mas o design cria a maneira como você faz escolhas ”.

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