Designers brasileiros 01 – Elifas Andreato

Sempre me assusta o fato de termos tão pouco conhecimento sobre o design gráfico brasileiro. Seja pela falta de uma cultura acadêmica que institucionalize esse conhecimento a ser apreendido, seja pelo fato dele ser tão corriqueiro e pertencente ao cotidiano e não darmos conta de seu valor, a história e a evolução do design brasileiro vive de esquecimento. Porém, observa-se um pequeno avanço e o surgimento de cada vez mais interesse por essa história. E, é por isso, que proponho descobrirmos um pouco de alguns designers brasileiros.

Meu primeiro escolhido é um dos mais reconhecidos designers fonográficos brasileiros, Elifas Andreato.

Elifas Andreato

INÍCIO

Nascido em 1946, Elifas veio de uma família em condição de miséria e só foi alfabetizado na adolescência. Começou a desenhar quando ainda era aprendiz de torneiro mecânico em uma fábrica em São Paulo. Não possuía nenhuma técnica ou conhecimento de tintas mas decorava o salão de festas da fábrica, o refeitório. Em certa comemoração, um grupo de alemães visitando a fábrica ficou muito impressionado com o trabalho do jovem, que possuía apenas 15 anos, e o incentivaram a sair da fábrica e estudar artes. Elifas acabou de fato saindo da fábrica e continuou a se dedicar a arte mas não estudou.

 

TRAJETÓRIA 

Em 1967, Elifas conseguiu um estágio na efervescente Editora Abril. Lá ele teve acesso a uma gama enorme de informação,a livros e à convivência com grandes jornalistas. A Abril era a grande empresa de comunicação da época e todos os bons jornalistas circulavam por lá. Nessa época, estagiou nas revistas Cláudia, Quatro Todas, Realidade e Veja, ilustrando publicações muito diferentes entre si.

Mesmo sem instrução formal de uma escola de artes ou de uma faculdade, tornou-se referência no meio intelectual e artístico do país e professor de Artes na USP.

Elifas credita a seus trabalhos ligados ao teatro o seu sucesso. Ainda que tenha atuado em diversas áreas, para o designer, o seu primeiro prêmio como cenógrafo com ‘Muro de Arrimo’, de Carlos Queiroz Teles, em 1975, com Antonio Fagundes atuando e sob direção de Antonio Abujamra, foi o momento marcante em sua trajetória.A partir daí, ele passou a ser convidado para a realização de inúmeros outros trabalhos.

 

Um livro-denúncia com a emblemática ilustração de capa feita por Elifas.

 

Perseguido pela ditadura militar vigente no auge de sua carreira, Elifas utilizou seu traço poético com profundo sentido social, que definiu seus trabalhos como ícones de uma geração que protestava por meio da arte. Após ter realizado,  juntamente com o jornalista Carlos Azevedo, com uma primitiva máquina de estêncil,o “Livro Negro da Ditadura Militar”, Andreato marcou seu nome com a criação da famosa caveira com o quepe militar. A partir disso, passaram a ser perseguidos pelo regime militares. Muitos de seus trabalhos, a maioria do “Jornal Opinião”, foram censurados.

Andreato tem uma visão particular de seu trabalho e se considera um jornalista. Ele acredita que é um acessório dentro do processo, um coadjuvante de atuação e, por isso, sempre descobria um espaço que ninguém havia ocupado. Se ele conseguisse traduzir o conteúdo das canções de um disco de maneira correta, o que ele intitula como uma reportagem, ele criaria um novo tipo de arte no Brasil. E foi o que ele aponta como diferencial em sua obra a partir da criação da capa do disco do Paulinho da Viola, Nervos de Aço, de 1973. Ele vislumbrou que seu trabalho consistia em traduzir em imagens a paixão e o sofrimento daquelas músicas. E, com isso, obteve sucesso ao retratar o momento histórico e o contexto em que vivia aquele artista.

Disco Nervos de Aço – Paulinho da Viola

 

Verso

Atualmente, Elifas dirige a revista Almanaque Brasil de Cultura Popular, publicação mensal que circula a bordo dos voos da companhia áerea TAM. A revista tem como principais temas a cultura e a memória brasileiras, destrinchadas em perfis, biografias e curiosidades. Elifas continua trabalhando ativamente para a valorização da identidade brasileira.

 

Revistas Almanaque Brasil

MARCA REGISTRADA

As ilustrações de Elifas possuem uma linguagem que se aproxima da base fotográfica e são carregadas de apelo emocional, recheada de clichés sentimentais de cunho popular. Sua técnica lembra o aerógrafo mas na verdade, são produzidos com pequenos pedaços de algodão entintados.

Esse realismo em seu traço foi bastante expressivo em sua obra militante, como vemos nos cartazes Murro em ponta de faca e Mortos sem sepultura.

 

 

 

O traço poético com profundo sentido social definiu os trabalhos de Elifas como um ícone de uma geração que protestava, por meio da arte, contra a ditadura militar vigente.

 

Fontes:

http://www.consciencia.net/2003/12/12/elifas.html

http://www.jornaldeteatro.com.br/materias/vida-obra/366-o-traco-sempre-inovador-de-elifas-andreato

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