Atualmente, nenhum sinal emitido pelo universo cinematográfico demonstra exaustão quanto ao reavivamento de franquias e longas de sucesso das décadas passadas. Ainda que isso implique refazer os mesmos caminhos, a tendência do cinema contemporâneo é embebecida pelas influências do retrobranding. Afinal, nada mais nostálgico do que uma sequência de exibições marcada por O Rei Leão, Brinquedo Assassino, MIB, Alladin e Dumbo. Agora, a reencarnação de estreia é ninguém menos do que Sarah Connor aterrorizando robôs compostos de metal líquido.
A franquia do Terminator movimenta plateias desde que Arnold Schwarzenegger interpretou pela primeira vez o T-800, em 1984. 35 anos depois, as variadas tentativas de expandir, retroceder e recontar esmigalharam a integridade da saga. A exceção do Julgamento Final, segundo filme, lançado em 1991, todas as tramas subsequentes dizimaram a inteireza de uma boa ideia oitentista. A mistura de cronologias é resultado da troca de diretores que assolaram o Exterminador do Futuro. Até então, a última aposta havia sido lançada em 2015 com uma Emilia Clarke muito mal recepcionada pelo público e pela crítica com sua interpretação da jovem Sarah Connor.
Esvaziadas as invencionices, nada mais sóbrio do que trazer Linda Hamilton e Schwarzenegger para serem novamente dirigidos por James Cameron. O diretor e criador dos dois primeiros longas (re)toma para si a franquia e, com uma aura de poder que só alguém que tem os primeiros bilionários do cinema (Titanic e Avatar), decide por desconsiderar tudo que foi feito desde o Julgamento Final até aqui para contar o que aconteceu com o mundo e quais são as novas ameaças robóticas.
Superadas as desconexões dos longas de 2015, 2009 e 2003, esse sexto filme se autoproclama como o terceiro e o cânone camerônico é tudo que o público precisa levar de bagagem. Para quem não conferiu os longas de 1984 e 1991, uma pequena introdução explica como Sarah Connor se envolveu na luta com a tecnologia robótica, o que houve com o mundo desde os eventos do fim do segundo e introduz a nova empresa que ameaça o futuro. Aqui, a Skynet abre alas para a Legião continuar a guerra com as máquinas.
Uma protagonista não muito segura e pouco magnética (irritantemente parecida com Vanessa Hudgens em seu papel no musical High School Musical) situa o longa em uma cidade mexicana que recebe a visita de infiltrados enviados diretamente do futuro para dar continuidade aos planos de destruição planetária. O contra-ataque vem de uma resistência humana que envia a aprimorada Grace (Mackenzie Davis) para proteger a jovem Daniella. O aperfeiçoamento dos robôs, agora compostos por metal líquido, faz com que Grace divida com uma resistente e enlutada Sarah Connor, a missão de proteger a vida de Dani em nome do futuro da humanidade.
A fórmula pode ser batida, mas o resultado continua eficaz. A tensão entre Sarah e o T-800 faz com que o público não espere compaixão nem nenhum gesto piedoso por parte da mulher. Em contrapartida, o aprimoramento pode ser visto nas críticas sociais que o filme não deixa de tratar, independentemente do momento. Especialmente no que tange ao núcleo feminino, Sarah é cobrada pelas rugas que confessam a passagem do tempo, o aprimoramento de Grace não se preocupou com as marcas de seu corpo e no centro da tutela, uma jovem mexicana está disposta a ultrapassar todos os muros para levar adiante aquilo que ela julga importante.
Sendo ficção científica, não há como se esquivar do trabalho realizado com os efeitos especiais. É de se reconhecer que esse departamento falha em alguns momentos, o que prejudica a fidelização da realidade de cena em passagens contundentes. Entrementes, isso não retira o brilho do trabalho visual realizado com o vilão Rev-9 (Gabriel Luna). Podendo separar completamente o exoesqueleto da fibra humana que o cobre, a liquedez do metal soa muito realística e eficiente. A regeneração da pele também merece destaque e compensa os defeitos de outras tomadas.
A volta de Schwarzenegger brinca em como o tempo o levou à obsolescência robótica. Uma vez que o novo foco de força são as mulheres, a contribuição quase simbólica do T-800 é reforçada por uma trilha sonora de peso, que traz para 2019 a glória da ação desse mesmo personagem nas décadas passadas. A forma mais simples de garantir resultados frutíferos está em trazer junto com o ator, a sonoridade dos longas passados.
Um reencontro do porte Arnold, Hamilton e Cameron (lembrando que a atriz e o então produtor foram casados até 1999) não deixa passar despercebida situações que eternizaram o Terminator na história do cinema. Da jaqueta aos jargões, tudo está ali programado para arrancar humor nostálgico (e consegue). A presença de James Cameron na nova recondução da franquia enterrou de vez tudo que foi produzido sem a sua interferência e que culminou em tragédia. Cameron pôde voltar e ao se debruçar sobre as propostas para o futuro, a bilheteria dirá se eles voltarão.
Exterminador do Futuro: Destino Sombrio estreia nesta quinta-feira, 31/10, nos cinemas brasileiros. Abaixo confira os trailers promocionais: