Akiyoshi Kitaoka e a ilusão de ótica

Akiyoshi Kitaoka é professor da Ritsumeikan University em Kyoto, Japão. Sua grande pesquisa concentra-se no que ficou conhecido como Op-Art. O termo que vem do inglês (optical art) e significa “arte óptica”, surgiu pela primeira vez na Times Magazine, em Outubro de 1964. Entretanto, essa forma de expressão gráfica já estava sendo explorada há mais tempo. Artistas como Victor Vasarely e Bridget Riley se dedicaram a desenvolver trabalhos ligados a essa derivação do expressionismo abstrato. A Op-Art, apesar de simbolizar um mundo em transformação, mutável, é constituída através de um rigor da forma e um amplo estudo tanto psicológico quanto físico e óptico.

Assim, Akiyoshi Kitaoka, dedicou longos anos a criar uma coleção de movimentos e ilusões com sua arte. Uma das mais conhecidos é a Rotating Snakes , em que espirais aparentam estar em movimento. Você já se perguntou por que elas parecem se mover? Ou como é possível criar uma ilusão parecida?

Repare que no Rotating Snakes o movimento é percebido em nossa visão periférica. Ao olharmos diretamente para uma das espirais ela vai simplesmente parar de fazer o movimento enquanto as ao redor tendem a continuar. Por exemplo, enquanto você lê esse paragrafo, provavelmente você continua vendo elas se moverem. Não, não é um gif animado. Mas quando você olha diretamente, como se elas soubessem que você está vigiando, param de rodar.

Um outro exemplo de ilusão em nossa visão periférica é o Snake Conveyors.

Kitaoka trabalhou vários efeitos em seus estudos provocados por muitos aspectos. Inicialmente imaginamos que as cores interferem na nossa percepção. Porém a versão de Rotating Snakes em P&B funciona igualmente.

Martin O’Reilly em seu estudo de caso “Understanding the Rotating Snakes illusion” tenta explicar o que os nossos olhos e nosso cérebro veem. Muitos pesquisadores realizaram pesquisas diversas para entender o fenômeno porém elas ainda são pouco conclusivas. Se não são as cores as responsáveis por confundir nossa cabeça talvez seria a luminosidade. Temos uma percepção de movimento através da sequencia preto >> cinza escuro >> branco >> cinza claro. Porém uma simples linha nessa sequência não cria a ilusão.

 Os exemplos a seguir são estudos realizados sobre a criação de ilusão de movimento periférico através dessa sequência de luminosidade.

The original Fraser-Wilcox (1979) Escalator illusion;

Faubert & Herbert (1998) – com utilização de gradiente

The Naor-Raz & Sekuler (2000) – com utilização de gradiente segmentados

Kitaoka & Ashida (2003)

Outro fator interessante é a diferença de velocidade da ilusão do movimento. Com o tempo, de acordo com o estudo glausiano, a percepção de contraste diminui e com ela a sensação do movimento e sua direção.

De forma geral, pode-se dizer que para se manter o efeito do movimento, precisamos criar uma nova imagem em nossa retina. Gradualmente, após uns 8 segundos de olhar fixo, as ilusões vão se desfazendo. Assim, o  chamado eye tracking, movimento dos olhos, é uma das chaves para a criação do movimento.
Por exemplo, vou repetir a arte anterior, Snake Conveyors, mas ao olhar para ela dessa vez fique piscando.

Ou ainda, mova o scroll da página e observe a figura a seguir, Autumn Colour Swamp. Nessa, também é válido algumas piscadinhas.

 

A forma também interfere radicalmente na ação que apreendemos do espaço. Em Rollers, fica fácil perceber que o movimento se dá na direção da borda preta para o lado branco das bolinhas. Assim como o afinamento do objeto cria uma sensação de tridimensionalidade do objeto. Você não vê três cilindros?

 

Em Construction of a Subway by Rabbits, o círculo central parece rodar no sentido horário enquanto os outros rodam no anti-horário. Mais uma vez, tente não olhar diretamente e deixe sua visão periférica te confundir.

Primrose Field – apenas role a página ou mova sua cabeça para frente e para atrás. O contraste das pequenas flores brancas em diagonal faz com que você acredite que elas estão mais à frente criando ondulações.

Em Button Yokai, enquanto você passeia com os olhos pelos círculos, alguns parecem ficar maiores.

Já em Swimming Rings, a volumetria criada pelo efeito de sombra os aros faz com que de alguma forma eles pareçam estar se aproximando e se afastando. Repare, os da esquerda com a borda mais escura aparentam se unir enquanto os da direita, com a borda mais proxima mais luminosa, aparentam se afastar. Enquanto isso, horizontalmente, eles possuem as bordas com luminosidade parecida e não criam ilusão.

 

 

Você pode estar apenas se divertindo com os efeitos criados pelas imagens mas já pensou em como aplicar isso em suas criações? O psicólogo Akiyoshi Kitaoka já. Sua pesquisa e arte já virou capa de dois CDs. Um da banda de indie rock Animal Collective, o Merriweather Post Pavillion“.

E outro da Lady Gaga, o “Artpop”. Olha aí o pesquisador felizão ao lado da cantora.

Kitaoka não é designer. Ele foi convidado a ter sua arte decida para a criação do projeto gráfico dos álbuns. Porém fica o questionamentos, como podemos experimentar no design os efeitos e ilusões da percepção visual?

 


Referências:

Site do pesquisador http://www.ritsumei.ac.jp/~akitaoka/index-e.html

http://www.theguardian.com/science/gallery/2014/aug/05/dizzying-optical-illusions-akiyoshi-kitaoka-pictures

http://www.psy.ritsumei.ac.jp

http://www.ritsumei.ac.jp/eng/html/news/article.html/?param=180

“Understanding the Rotating Snakes illusion” em: http://www.ucl.ac.uk/~ucbpmor/docs/case_study3_mor_web.pdf

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