Para quem curte efeitos especiais bem feitos, ‘Kong: a Ilha da Caveira’ (EUA/Vietnã, 2017, 118 min), do diretor Jordan Vogt-Roberts, é um prato cheio. O filme consegue situar o espectador pelo trajeto histórico da década de 70 que culminou na Guerra Fria e na Guerra do Vietnã e justifica a jornada devido a necessidade de desbravar um território no sul do pacífico que foi localizado por satélites, mas nunca foi relatado por expedições, uma vez que a área é conhecida por tempestades, naufrágios e desaparecimento de aeronaves.
A cruzada é formada por um trio de especialistas em geologia e conta com o acompanhamento do guia/caçador James Conrad (Tom Hiddleston – o atual Loki da Marvel), a fotógrafa de guerra Mason Weaver (Brie Larson – O Quarto de Jack) e tem a escolta do exército norte-americano, chefiado pelo veterano Preston Packard (Samuel L. Jackson, em um papel indigno de qualquer outro ator). A cena é roubada por John C. Reilly (Guardião das Galáxias) na pele de Hank Marlon, um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial que caiu na ilha na década de 40 e está preso nela há trinta anos. Sua experiência sobre o local é um glorioso aliado do grupo, que possui intenções diversas quanto ao desbravamento do arquipélago.
Para a tropa armada, a guarda dos especialistas é apenas um empecilho que atrasou em dias a volta para casa depois da sangrenta disputa no Vietnã; já a fotógrafa encara a aventura como mais uma oportunidade de mostrar a face antiguerra do seu trabalho; o guia foi escolhido por sua experiência em locais desconhecidos e almeja apenas um pagamento quintuplicado pelo trabalho difícil. Porém, reside na equipe de especialistas questões não levadas ao conhecimento dos demais. É certo que a noção do que os aguarda é conhecida pelos acadêmicos.
A chegada da equipe à Ilha da Caveira merece entrar para o rol de cenas icônicas do cinema. Quando o esquadrão começa a bombardear o arquipélago (com a aparente finalidade de mapear a geologia do local), desperta a ira do anfitrião. A sequência de helicópteros circulando o gigante e sendo abatidos um a um pode ser assemelhada a uma pessoa se livrando de algumas libélulas. Kong é indestrutível e isso cria respeito para alguns e desejo de vingança para outros.
O longa consegue mesclar excelentes efeitos especiais com uma fotografia espetacular e ótimas sequências de cenas. Os enquadramentos feitos pela fotógrafa Mason Weaver são registrados nas telas e as paisagens naturais da Ilha da Caveira são um show à parte.
Falando nela, pode-se considerar que a Ilha da Caveira é uma grande inimiga da patrulha visitante. Suas belezas guardam segredos perigosos: os animais são enormes e se disfarçam diante da exuberância da paisagem, que parece superdimensionada mas combina com o porte do guardião daquelas terras.
‘Kong’ poderia ser um filme raso, mas não é, por ser bem direcionado e bem atuado. A sensação de imersão passada pela trama é tanta que dá até para esquecer que essa é a milésima vez que a história do primata é contada no cinema. Existe realismo e profundidade na tela como nunca visto antes.
Nesse ponto, o CGI chama a atenção pela qualidade. Seu uso foi muito bem pensado e a tecnologia é a prova de que as grandes tramas de Hollywood merecem ser recontadas devido às atuais possibilidades de serem traduzidas para o melhor panorama possível.
Afora a riqueza visual, a autenticidade do longa fica a cargo do seguinte dilema: quem é inimigo de quem? O enredo é rico pela densidade de questionamentos gerados entre os personagens, especialmente Samuel L. Jackson, que está obstinado a tirar a majestade do rei em suas tentativas de domar uma natureza selvagem.
Nessa seara, reluz o dever moral do líder Kong para com os súditos da ilha – especialmente a comunidade aborígene local que o consagra como divindade por ser o último de sua espécie – que permanece pacífica e livre de intrusos graças a sua árdua tarefa de manter o equilíbrio da situação na base do custe o que custar.
Por fim, conclui-se que ‘Kong: a Ilha da Caveira’ é um filme rico e deixa pontas para uma esperada sequência (para mais detalhes, recomendamos que aguarde a cena pós créditos). Vale gastar um pouco mais para conferir a trama, pois o 3D está muito bem construído. Em IMAX, se torna uma bela experiência cinematográfica. O filme estreia nesta quinta-feira, 09/03 nas salas brasileiras.