Cinema e Séries O Melhor Professor da Minha Vida | um excelente convite ao cinema francês

O Melhor Professor da Minha Vida | um excelente convite ao cinema francês

Por Erica Oliveira Cavalcanti Schumacher

Se existe um mercado cinematográfico que merece ser desbravado pelo grande público frequentador de cinema no mundo, esse mercado é o francês. Comumente reduzido a exibições em escassas sessões de arte ou a cinemas destinados quase exclusivamente a esse gênero, as obras francesas são capciosas em conquistarem o público com personagens duvidosos, que não fazem questão alguma em agradar e acabam atingindo esse feito com maestria. A oportunidade da vez é O Melhor Professor da Minha Vida (Les Grands Esprits), dirigido e escrito por Olivier Ayashi-Vidal e estrelado pelo veterano Denis Podalydès (de Monsieur & Madame Adelman, outra obra que merece ser vista) e pelo notável Abdoulaye Diallo.

No longa, o protagonista é Fraçois Foucault, um elitizado professor de literatura de uma renomada escola francesa. Durante um encontro literário, comenta com uma funcionária do Ministério da Educação que o grande problema do baixo rendimento das escolas da periferia é a falta de experiência dos professores contratados e a ausência de interesse entre os mais experientes em trabalharem neste local. Depois de um desafio, François aceita trabalhar por 1 ano numa escola periférica e a partir disso, aprende que toda sua vivência em sala de aula não o preparou para lecionar em um ambiente totalmente diferente daquele ao qual estava acostumado desde a época que era aluno.

Mais do que lições sobre gramática, François tenta expandir a mente dos seus pupilos com desafios intelectuais que são facilmente abandonados pela turma. O professor passa a buscar respostas através das realidades para além da sala de aula que fazem com que o estímulo nesta nova escola seja baixo, somado a uma alta evasão escolar e uma indisciplina natural entre o alunado.

O longa mescla comédia com drama regados sempre a uma boa ironia francesa. O conflito que se extrai do roteiro é que François, mesmo com muitos anos de sala de aula, viveu durante toda sua existência em um casulo intelectual, diferentemente de seus novos alunos, que têm sede de experimentação da vida prática e nenhum interesse por livros, mas aparentam estarem muito mais preparados para a vida real do que seu experiente professor. A falta de tato inicial só é superada quando a irmã do educador lhe abre os olhos de que a realidade experimentada por seus alunos nunca foi sentida na pele pelo mestre, calouro no quesito transformador de vidas. A juventude responsável fica à cargo do restante do corpo docente da escola, composto por jovens mestres que estão tentando entender seu lugar no mundo e seu dever em relação àqueles que se colocam sob sua responsabilidade.

O maior desafio de François é Seydou, um aluno rebelde que expõe sua energia de forma enviesada. Por crescer em um bairro pobre, o jovem sabe que, por vezes, demonstrar interesse demasiado em livros e poemas pode ser um problema, mas, ainda assim, ele tenta. Seydou se transforma na maior prova de que a correta instrução pode mudar uma vida, coisa que até então François nunca tinha conquistado, mas isso pode ter um custo maior do que o esperado.

O filme possui um ritmo lento e não se preocupa em apresentar um resultado rápido ou miraculoso. O diretor adota uma perspectiva bem acadêmica ao demonstrar que todas as mudanças duradouras vêm aos poucos, com a dose correta de negação inicial, sofrimento e discreta redenção. Todas essas fases do crescimento são retratadas de forma sensível, tanto sob a ótica do mestre, como pelo viés dos alunos, que são confrontados a lerem livros, escreverem poemas e expandirem seus horizontes.

Para o público brasileiro, a ambientação periférica pode ser uma surpresa. É certo que aquilo considerado como uma escola desprestigiada na França, certamente poderia concorrer com as mais renomadas do Brasil em termos de infraestrutura. Inobstante o investimento, as problemáticas de sala de aula diferem apenas no idioma porque a conjuntura escolar é quase um problema universal.

No fim das contas, temos uma bela lição entre mundos diferentes que colidem e se expandem. Tanto o professor como sua turma são presenteados com a bagagem que cada um traz consigo e isso resulta em uma obra que sabe tratar como poucas o material humano nela envolvido. Vale a ida ao cinema!

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