Quero começar esse post de uma maneira diferente, compartilhando com vocês uma história pessoal, que de certa forma marcou a escolha do que eu queria fazer profissionalmente pelo resto da minha vida e que ilustra bem o tema deste texto. Aconteceu nos idos de 2006, na época em que morava em Belo Horizonte.
Eu estava saindo do ônibus com um amigo, voltando da escola para casa, e enquanto caminhávamos ele me dizia: “tem gente que é burra mesmo e tem gente que não, que é criativa e inteligente”. Eu fiquei indignado com aquela afirmação e não acreditei no que ele estava falando. Afinal, ele simplesmente se referia a uma mulher que não conseguiu entender aonde descia do ônibus, fato que presenciamos minutos atrás.
Passado um tempo, depois que entrei para a faculdade e comecei a estudar comunicação a fundo, percebi o quão ingênuo ele realmente foi, apesar de não dar o braço a torcer até hoje. Lembro que depois ele me disse que “tem gente que nasce burra e tem gente que já nasce inteligente e criativo”. Como se burrice fosse sinônimo de criatividade e vice e versa.
Enfim, te contei isso porque o processo criativo tem a ver com isso. Não com ser burro ou ser inteligente, mas em como o pensamento aberto e sistemático quebra paradigmas como esse do meu amigo.
Antes de continuar, porém, te convido a entender de uma vez por todas que negócio é esse de criatividade.
O que é criatividade?
É formalmente definida assim: “Capacidade de criar, produzir ou inventar coisas novas”. Informalmente posso dizer apenas que é a capacidade de resolver um problema, simples assim, quase como um sinônimo mesmo. E é nessa definição “descolada” que estou interessado aqui.
Primeiramente porque todos nós, como seres humanos, temos que diariamente aplicar isso. Seja montando seu prato do almoço, cozinhando, comendo, limpando a casa ou escovando o dente. Ela é essencial para todos.
Assim também diversas áreas precisam da criatividade e de seu processo. Encontramos exemplos na arquitetura, na matemática, na física, na química, na música, no teatro, nas artes plásticas, na publicidade, no design, na gestão de empresa e colaboradores e por aí vai numa lista interminável.
E a articulação da criatividade nesses ramos profissionais se deve também a fatores externos como política, economia, cultura, raça, gênero, finanças e educacionais (fator preocupante no Brasil). Steve Jobs já dizia:
“Criatividade é simplesmente conectar as coisas”
Então, pensando justamente nessas relações complicadas que envolvem a imaginação, alguns profissionais acreditam que para se dar bem criativamente falando, é preciso seguir três “regrinhas” básicas.
Os 3 princípios de todo processo criativo
Um dos grandes especialistas no tema, Paul E. Plsek, aponta 3 itens essenciais como iniciadores ou catalisadores de criatividade:
- Atenção: é o momento do foco em determinado problema ou oportunidade. Aqui também ocorre a suavização dessa dificuldade, descomplicando-o. Isso é que faz empresas de tecnologia como a Apple, por exemplo, buscar a melhora constante.
- Fuga: Pensar em novas alternativas e caminhos para o proposto, derrubando os bloqueios mentais
- Movimento: É explorar essas novas ideias sem perder o propósito, através de analogias e associações.
Tenha esses 3 elementos em mente, porque nas etapas da metodologia inventiva que vou te apresentar daqui a pouco, eles se repetem de forma detalhada e direcionada. Mas antes, vamos fazer um esquenta?
Aquecendo as turbinas: Brainstorming
Eu aposto que depois desse subtítulo acima você perguntou: “Ué, mas ele não é uma das etapas?” De certa forma sim, e por isso escolhi essa frase (você já vai entender, eu juro). Mas pode também estar diretamente ligado com o princípio do movimento que acabei de te explicar. Sendo assim, é parte fundamental da equação e exatamente por isso optei por dar um pouquinho de ênfase a ele antes de qualquer coisa.
A técnica do brainstorming ou tempestade de ideias, move a roda do pensar, onde a partir de um problema queremos chegar a uma solução e passar por ele é vital. Ele esquenta todo mundo envolvido e faz chegar a uma ideia, a um clique. Não é a toa que as agências utilizam até como ferramenta principal na criação, como nesse post da Raíssa Jappe para o DC.
Mas enfim, como é um assunto muito polêmico e complexo vai ganhar uma postagem minha brevemente, que você vai poder ler aqui no Design Culture. Agora que você já entendeu isso, está pronto para seguir comigo as 7 etapas.
As 7 etapas do processo criativo
Antes que você me pergunte, eu te digo que alguns autores e blogueiros, quando falam do assunto, consideram que existem dois processos diferentes: individual e coletivo. Mas, no final da história, acabam tendo características comuns aos dois, por isso optei aqui por generalizar.
“Pensar como um designer pode transformar a forma como você desenvolve produtos, serviços, processos – e mesmo estratégia” Tim Brown
1- Identificação
Nesse primeiro contato é importante conhecer o problema, levantar as dúvidas e olhar novas opções. Ela é a primeira porque os seus desdobramentos nomeiam todas as outras etapas.
2- Preparação
É o período da coleta de dados essenciais a chegada de uma solução criativa. Isso inclui perguntas tipo: O que? Quem? Quando? Onde? Como? Por que?. Geralmente é a fase onde a ansiedade aumenta, levando a próxima.
3- Incubação
Acontece inconscientemente quando a mente absorve e se aprofunda no problema encontrado. Pode ser associada a prática de um esporte ou lazer, como a liberação de energia.
4- Aquecimento
Voltando ao plano do consciente, esse passo ocorre com a estimulação de soluções para o problema. Aqui que entra as técnicas de brainstorming que falei lá em cima. Agora você entendeu aquele subtítulo não é mesmo?
5- Iluminação
É o momento Eureka, o insight criativo que encerra a angústia causada pelo problema e desenvolvida até aqui. Basicamente a ideia que pode resolver a questão, aparecendo pelo primeira vez.
6- Elaboração
É a concretização da ideia tida na fase anterior, envolvendo novamente o lado esquerdo do cérebro. Aqui basicamente se faz acontecer, o famoso mão na massa com muita transpiração.
7- Verificação
Trata-se do teste da ideia ou hipótese construída, podendo levar dias, meses ou até anos para ser finalizada. Um exemplo disso é a teoria da relatividade de Albert Einsten, que demorou 14 anos para se concretizar. Claro que, falando em comunicação de agência, especificamente, temos apenas poucos dias.
O que descrevi aqui foi um padrão como disse, e se adapta aos diversos setores de atuação profissional, podendo até trocar de nome. Mas basicamente, é um guia essencial para profissionais criativos. Veja abaixo um comparativo entre as etapas no geral e aquelas envolvidas no design.
Por quê o processo criativo é importante?
Porque através deles podemos “pensar fora da caixa” como ouvimos falar por aí, analisando cada barreiras que enfrentamos como tarefas a serem resolvidas. E isso acaba servindo tanto no quesito pessoal, quanto profissional, seja em qual área for como vimos.
Além disso, também podemos fazer uma conexão fácil com a comunicação, seja você designer ou publicitário, mesmo trabalhando como freelancer.
No briefing do cliente, encontramos o problema que temos que destrinchar com o objetivo de entregar uma campanha ou design para um novo produto ou espaço, o que seria a solução. Daí vem o fato de eu ter feito uma sessão exclusiva para o brainstorming, porque é a partir dele que vem as ideias propriamente ditas, como vimos no nível da iluminação.
Essa trajetória, que passa por técnicas de brainstorming, só é viável se passarmos por cada uma das 7 etapas mencionas. E mesmo que elas mudem de nome de uma empresa ou agência para outra, vão sempre continuar se fazendo necessárias.
E depois de ver tudo isso, lembrando minha história da introdução, posso concluir que não existe burrice ou falta de criatividade. Afinal de contas, o poder imaginativo vem muito com o estímulo diário das atividades corriqueiras e como o trabalho duro da fase da elaboração, do mão na massa.
Portanto, de formas por vezes bem específicas estamos sempre elaborando respostas para cada pequeno desafio/pergunta. O que acaba nos auxiliando na tomada de decisão e na entrega de um resultado. Traduzindo: o meu amigo estava errado, pois ninguém nasce burro ou inteligente, criativo ou não, pois todos temos o mesmo grau de ambos, o que nos diferencia é quanto ampliamos na nossa rotina.
Agora vou te fazer um convite: se você gostou desse post, nos conte aí embaixo na caixa de comentários como é seu processo criativo? Você passa por essas etapas?