O que você diria se encontrasse num museu de arte uma batata gigante pendurada na parede? Ou uma blusa de lã parecida com a que você usou no inverno montada como uma escultura? Ou uma ‘casa obesa’ em tamanho real exposta como obra de arte?
Estas são algumas das propostas artísticas provocativas do artista austríaco Erwin Wurm, que ao deslocar o lugar e o uso dos objetos cotidianos nos faz pensar sobre nossa relação com o mundo material contemporâneo. Ele traz para o campo da arte, objetos como casas, carros, roupas e alimentos que considera como invólucros e extensões do nosso corpo, para os quais devotamos verdadeira afeição como se fossem seres vivos. Por isso ele nos mostra carros ‘solidários’ que engordam como seus donos, um vaso sanitário que emagreceu, uma bolsa d’água com pezinhos pronta a aliviar nossas dores, que ele ironicamente intitulou Mãe ou uma casa obesa. Objetos deslocados que representam o próprio corpo humano e suas alterações orgânicas.
Nas desconstruções que o artista produz nos objetos, ele nos instiga a pensar nas fronteiras e relações entre o corpo humano e o corpo inanimado dos objetos, bem como em consumir objetos ou sermos consumidos por eles. Os artistas da Pop Art nos 60 já trabalhavam com a temática do corpo frente ao excesso e acumulo ou falta e escassez que alimentam o desejo de consumir sempre e cada vez mais, num movimento hipnótico, onde não sabemos mais se temos ou somos os objetos. Talvez como no trabalho Hipnosis II, uma caixa virou gente ou vice versa?
Em outros trabalhos o artista ao nos convidar a olhar objetos banais como obra de arte – um pullover de lã ou uma batata viram esculturas – nos instiga a olhar o mundo sempre sob um novo ponto de vista, afinal para ele todo e qualquer objeto animado ou inanimado pode se transformar numa escultura.
Em suas performances “Esculturas de um Minuto” o artista coloca o comportamento humano em questão, pois convida o público a seguir instruções e transformar-se em uma escultura do artista, interagindo com objetos colocados por ele, por vezes as posições são inusitadas e até mesmo ridículas onde as normas de comportamento social e a forma de uso dos objetos são questionadas.
Na Escultura de um Minuto “Sigmund Freud Moderno I” talvez Freud obtivesse resultados inusitados com seus pacientes deitados nesta posição, mas não sei se o arquiteto Mies van der Rohe gostaria que suas cadeiras Barcelona, ícones do design moderno, fossem usadas desta forma.
“O que eu uso e gosto de usar é o cinismo – eu o chamo de cinismo crítico – para falar sobre certas verdades no nosso mundo e na nossa realidade de uma certa forma, a forma cínica.” Erwin Wurm