Cinema e Séries Tarantino ataca pela penúltima vez – assista Era Uma Vez… em Hollywood

Tarantino ataca pela penúltima vez – assista Era Uma Vez… em Hollywood

Por Erica Oliveira Cavalcanti Schumacher

Reconhecidamente um gênio da sétima arte, duplamente Oscarizado (por Pulp Fiction em 1994 e por Django Livre em 2012) e amplamente aclamado por cada um de seus trabalhos cinematográficos, chega a hora de Quentin Tarantino mostrar que ainda é capaz de se reinventar, naturalmente, a seu modo bastante peculiar. O esperado nono trabalho do diretor estreia hoje já com pesar dos fãs, pois o filmaker anunciou aposentadoria para quando completar 10 filmes rodados. Ou seja, estamos diante da penúltima obra.

Aplaudido de pé por extensos 6 minutos durante o Festival de Cannes desse ano, Era Uma Vez… em Hollywood reúne pela primeira vez os dois maiores galãs dos anos 90 e é tudo que Academia de Cinema gosta: é inventivo, artístico, referencial e glorifica a própria Hollywood como terra dos sonhos (utilizando o mesmo estilo estético que tornou  La La Land um clássico moderno). Entrementes, uma vez ao falar de Tarantino, isso significa dizer que a terra dos sonhos pode nem sempre indicar um lugar seguro. Ao situar seu roteiro no fim dos anos 60, o público se confronta com o final da era de ouro das atrizes gloriosas e da terra onde tudo pode se tornar realidade. A decadência da era pré-setentista dá o exato tempero caótico no qual Quentin Tarantino elabora suas melhores receitas.

É nesse ambiente que Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) tenta sobreviver ao lado de seu amigo e dublê Cliff Booth (Brad Pitt). Acostumado ao papel de vilão de faroeste, Dalton lida com o conforto dessa caracterização programada, mas teme a mudança de ventos na demanda cinematográfica. Enquanto queima nazistas no set, chora no carro a caminho de casa por se achar o fracassado ator de um único papel. Para reforçar o peso das mudanças, seu novo vizinho é ninguém menos que o diretor mais prestigiado e autoral da época, Roman Polanski (Rafal Zawierucha) e sua estonteante esposa, a atriz Sharon Tate (Margot Robbie).

O excesso de referências no longa torna Era Uma Vez… um catalisador de curiosidades e de histórias reais. O personagem de Brad Pitt é inspirado na história pessoal do ator Robert Wagner; o drama privado do casal Polanski e a presença dos hippies não tão paz&amor também são extraídos de histórias reais e praticamente todos os coadjuvantes são pessoas verdadeiras que serviram de inspiração para Tarantino. Por falar em coadjuvantes, vale destacar que Era Uma Vez… conta com preciosas pequenas participações. Dakota Fanning, Al Pacino, Mike Moh, Margareth Qualley e Damon Herriman abrilhantam a película, mesmo que com poucas intervenções.

A interferência reduzida do elenco de apoio (inclusive de Brad Pitt e Margot Robbie) abre espaço para Leonardo DiCaprio mostrar toda versatilidade que é capaz de expressar. É interessante analisar que a luta pessoal de DiCaprio para se firmar em Hollywood como muito além de um rostinho bonito em muito se assemelha com o esforço do protagonista Rick Dalton para galgar papeis que não o retratam como um faroeste, sua sina e sua salvação. DiCaprio joga com a comicidade que o marcou em O Lobo de Wall Street, com o jogo de cintura de Prenda-me se for Capaz e retorna a um dos primeiros papeis de seu trabalho em Hollywood, o bang-bang empoeirado Rápida e Mortal, de 1995, onde contracenou com Sharon Stone, Gene Hackman e Russel Crowe.

Depois do hiato de 4 anos sem aparecer nas telas (usufruindo do gostinho do Oscar de 2015 pelo excelente O Regresso), Leo volta por cima, brilhando em sua atuação tragicômica, que se afinou perfeitamente à gentil submissão de Brad Pitt para deixar o colega brilhar, e fixa sua segunda parceria profissional com Tarantino, que promete estatuetas no próximo ano (a primeira lhe rendeu a indicação ao Globo de Ouro por Django Livre).

O roteiro segue o script do diretor, que é aclamado pela crítica e por uma parte considerável do público, mas se mantém incapaz de agradar (ou de querer agradar) a todos. Optar por conferir uma obra de Tarantino significa preparar a alma para o absurdo, para a sanguinolência e para a ultraviolência. É quase como ir a um musical ou a um filme de Tim Burton: os cartazes deveriam conter uma tarja de aviso de excentricidade (e é disso que a genialidade vive).

Contudo, quando as expectativas estão fincadas, o mestre ineditamente dosa no derramamento de sangue e na grotesquidade, revelando um trabalho mais -limpo, mas que continua misturando roteiros e trajetos, embaçando o desenvolvimento com excesso de cenas rodadas no trabalho de ator do protagonista e dando explicações para o passado dos personagens. Como  sempre, a voz do narrador contribui com o esclarecimento de alguns pontos e direciona a atenção da plateia para informações relevantes durante as 2 horas e 40 minutos de exibição.

Pelo exposto, conclui-se que Era Uma Vez… em Hollywood é o tipo de filme que exige do espectador um posicionamento e uma opinião. Não se sai imune de um longa como esse. Tarantino oferece a face para ser beijado ou estapeado e recebe as duas reações com igual destemor. Há quem deteste, há quem ame; mas não há quem não se emocione.

Era Uma Vez… em Hollywood chega aos cinemas nesta quinta-feira, 15 de agosto. Confira os trailers nos links a seguir:

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