Cinema e Séries Toda a intensidade feminina do mundo em Colette

Toda a intensidade feminina do mundo em Colette

Por Erica Oliveira Cavalcanti Schumacher

Há valiosas biografias antigas que só o cinema recupera o seu esplendor (que o diga Bohemian Rhapsody). Nesse caso, o retrato em questão invade a juventude da mulher considerada como a maior escritora francesa de todos os tempos. Sidonie-Gabrielle Colette (1873-1954) foi o tipo de pessoa capaz de transformar a si mesma tantas vezes que um único filme não seria capaz de fazer jus a todo seu histórico pessoal, profissional e amoroso.

Para interpretar Colette, ninguém melhor que Keira Knightley para o papel. A atriz oferece suas melhores interpretações em personagens de época com personalidades à frente de seu tempo, merecendo destaque as 2 indicações ao Oscar por Orgulho e Preconceito (2006) e O Jogo da Imitação (2015); sem deixar despercebido outros trabalhos marcantes como A Duquesa (2008), Desejo e Reparação (2007) e Anna Karenina (2012). Para esse papel, Knightley demonstra ousadia, intensidade, magnitude e maestria na interpretação. 

Colette é inicialmente apresentada como uma jovem francesa do campo, que se casa com um homem mais velho que a introduz no cenário artístico multifacetado de uma Paris borbulhante, do final do século 19. Não muito ambientada com todo esse cotidiano festivo, Colette passa a auxiliar o trabalho de seu marido com a escrita, até que se torna uma escritora-fantasma, publicada através do nome de Willy (Dominic West, de O Sorriso da Mona Lisa), pessoa que recebe todo o prestígio e retorno financeiro que a obra escrita pela esposa lhe proporciona.

O filme consegue contar as inúmeras reviravoltas que a vida da jovem Colette sofre a partir de seu casamento com o autor e crítico que lhe impõe condições adversas e abusivas, sob o manto do amor incondicional e da dependência afetiva, somada à uma pseudo-inspiração artística, que Colette demora anos para entender ser meramente o pretexto que a mantém numa relação subversiva.

Desse mesmo relacionamento, brota o interesse pelo mesmo gênero, que é alimentado por Willy, no intuito de ter igual permissão para o adultério e experiências para a jovem esposa que a auxiliam na escrita de suas obras não-tituladas. É interessante notar que na metade do filme, a jovem inocente recém-casada se transforma em uma mulher que testa os limites artísticos e culturais da sociedade e navega em águas misteriosas do amor e dos relacionamentos no geral. Willy continua sendo seu leme, ainda que não a guie pelos caminhos mais felizes, aparentando ser mentor quando, a bem da verdade, não passa de um aproveitador.

A rotina do casamento divide espaço com as amantes de Colette, que a levam a enxergar para além de uma união infeliz e abusivo. O reflexo disso repercute na ousadia da escrita semibiográfica, que leva a sociedade parisiense ao êxtase, de onde se cria uma indústria lastreada na principal personagem de Colette, a jovem Claudine.  

A ambientação firmada entre a mudança do século 19 para o 20 apresenta uma Paris exuberante, boêmia,artística e libertina. É curioso observar as diferentes tramas que se formam no longa com o pano de fundo recheado de lapelas, coques e longos vestidos, ao mesmo tempo em que casamentos abertos, relações lésbicas e nudez teatral dividem elegantemente a atenção do público, mesclando o antigo com as rupturas das tradições da época e que soam ainda tão contemporâneas à plateia.

Mais curioso ainda é lembrar que tudo isso fez parte da vida de uma mulher que lutou pela libertação artística e emocional, que não enxergou limites de gênero, de escrita, de atuação e de vida, e sagrou-se imortal de sua sanha pessoal. Ainda que o filme restrinja a narração aos primeiros 30 anos de Sidonie-Gabrielle, vale alembrança de que a artista teve pela frente uma vida longa, mais alguns casamentos e reconhecimentos pela genialidade de seus trabalhos, não contemplados pelo longa, incluindo a indicação ao Nobel e a criação de Gigi, personagem que apresentou Audrey Hepburn ao mundo do cinema.  

Por tudo quanto exposto, Colette é uma obra-prima do cinema,capaz de ressuscitar a vida digna de cinema de sua protagonista e de, mais de 100 anos depois, instigar a reflexão sobre os ditames sociais do espaço das mulheres no mercado cultural, no casamento e na sociedade.

O Design Culture agradece à Rede Cinemark pelo convite para a cabine de imprensa do filme que aqui se comenta. 

Colette estreia nesta quinta-feira, 13 de dezembro. Confira o trailer no link a seguir: 

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