Ninguém melhor do que Ethan Hunt para recuperar a moral de Tom Cruise no cinema. Depois de um 2017 pífio com o super criticado A Múmia e do bom, mas pouco falado Feito na América, o agente secreto da que há 22 anos conquista o público surge em mais uma aventura perigosa para colocar Cruise no seu melhor eixo: o dublê de si mesmo. O sexto filme da franquia tem direção e roteiro de Christopher McQuarrie (o mesmo de M.I. – Nação Secreta) e tem como cerne agradar ao público cativo que tornou a série detentora de uma bilheteria estimada em US$ 2.776 bilhões de dólares e que só tende a aumentar, considerando que Nação Secreta (2015) e Protocolo Fantasma (2011) por muito pouco não cravaram a marca dos US$ 700 milhões, cada.
Embora detenha uma curta carreira na direção, com apenas 4 filmes, Christopher McQuarrie dirige Tom Cruise pela terceira vez (os trabalhos conjuntos contemplam o ultimo e o atual filme da franquia M.I. e também Jack Reacher: O Último Tiro, 2012). Através disso, conclui-se que o diretor norte-americano já conhece o ritmo frenético do protagonista e extrai daí o melhor que Tom (também produtor do longa) é capaz de oferecer em termos de velocidade, insanidade e uma pilotagem que deixa qualquer Velozes e Furiosos comendo poeira. É inacreditável pensar que dentro de 4 anos o astro completa 60 anos de vida.
Voltado ao público caseiro, que já conhece o passado de Ethan Hunt, esse sexto filme reúne em seu elenco a vida pregressa do agente da IMF e é recheado de referências aos longas antecessores. Essa receita copia a tendência atual do cinema em revirar o baú das décadas de 80 e 90 para garantir o efeito saudosista que gratifica aqueles que são fiéis a uma série. Como resultado, os inimigos de Hunt, os amigos e os amores pretéritos estão todos de volta e dividem a cena com o intrigante August Walker (Henry Cavill), que encarou com dignidade a posição de coadjuvante ao lado de Tom Cruise ao formaram uma bela dupla dinâmica diante de uma ameaça nuclear.
O bigode que integra o visual de Walker foi o responsável pela piada mundial de Liga da Justiça, já que o ator refilmou algumas cenas do Superman proibido de alterar a face enquanto Tom Cruise se recuperava do acidente no set que interrompeu as filmagens de Efeito Fallout por alguns meses. Isso obrigou a Warner Bros. a modificar via CGI o rosto do super-herói, e agora vale a pena o riso toda vez que se mira no bigode de Cavill como o agente August Walker. Por falar em acidente, vale destacar que a sequência em que Tom Cruise fraturou o tornozelo está no corte final do filme, e também no trailer. O ator se machucou enquanto pulava de um prédio para outro e continuou atuando com o tornozelo lesionado para não ter que filmar novamente, e só avisou do acidente depois que terminou a cena (e que cena!).
Afora Henry Cavill, as outras novidades do elenco são a excelente Vanessa Kirby (a Princesa Margareth das duas temporadas de The Crown), que destila sensualidade e perigo no melhor estilo Bond girl com a sua Viúva Branca (que faz jus ao codinome com o figurino off white o tempo todo), e Angela Basset, que interpreta com autoridade e determinação Erica Sloan, chefe da CIA envolvida na trama do novo filme e que contribui com uma dose de girl power similar ao que Viola Davis faz em cena.
O elenco veterano volta e mostra entrosamento. Destaque para Luther (Ving Rhames) e Benji (Simon Pegg), os sempre disponíveis amigos de Hunt; e Isla Faust (Rebeca Fergusson), que foi introduzida em M.I. Nação Secreta e volta para reforçar o entrosamento pessoal e profissional com o protagonista. O filme conta com paisagens deslumbrantes divididas entre as ruas históricas de Paris e Londres, ao lado de cenários naturais incríveis da Caxemira, que vai do deserto até picos nevados e desolados. A trilha sonora de Lorne Balfe surpreende por se manter atualizada mesmo que o toque que a distinga seja o mesmo desde o primeiro filme.
Uma vez que o filme se lastreia no melhor que uma sala de cinema pode oferecer em termos de qualidade, telas gigantes e sons bem calibrados são opções preferenciais para a correta apreciação da trama, que é capaz de causar tontura em algumas cenas 3D. É interessante concluir que, dada a velocidade com que as sequências são apresentadas, sessões 2D talvez sejam mais indicadas para que o espectador seja capaz de absorver cada detalhe do filme como se deve. O longa utiliza alguns jogos de luz contra a tela que causam um flare irritante, especialmente para quem está utilizando óculos 3D. Embora poucas cenas contenham esse efeito, fica o aviso.
Em relação ao roteiro, Efeito Fallout parece brincar com o fato de que Ethan Hunt se mantém há mais de 20 anos sofrendo perdas e sendo desacreditado da função por seus superiores. O novo filme também apela para a humanidade do agente, que se apresenta não como uma máquina de socos, mas como alguém que se preocupa com os outros e que evita, a seu modo, desgraças a longo prazo com sacrifícios pessoais e físicos. O improviso com que Hunt encara os desafios também fica bem demarcado nesse auto reconhecimento que o filme promove. Após 3 décadas de ação inveterada, chega o momento de o protagonista se perguntar por que faz o que faz e até quando valerá a pena fazê-lo. Essas indagações aproveitam tanto a Ethan Hunt quanto a Thomas Cruise Mapother, e a resposta é só uma: criador e criatura fazem isso porque são os melhores nesse ramo, e aposentadoria não é uma opção.
Missão Impossível: Efeito Fallout estreia hoje nos cinemas brasileiros, confira o trailer a seguir: