Tido por muitos como fútil e destoante da realidade das pessoas, o fato é que o universo da moda, além de controverso, inspira profissionais de criação e entusiastas de todas as culturas. Eventualmente, suas disrupções criativas e abordagens conceituais acabam gerando polêmicas que prejudicam a imagem das grifes, como o caso recente envolvendo a Balenciaga com pedofilia, e geram discussões acerca de padrões sociais.
Assim como em todas as esferas do design, o mercado fashion se empenha no estudo de cores, materiais e texturas para lançar tendências que impactam a vida de todos, mesmo daqueles que dizem não se importar com o look do dia. E, nesse contexto, relembro a emblemática “cena dos cintos azuis” em O Diabo Veste Prada (2006), onde Miranda Priestly (personagem de Meryl Streep) dá um “se liga” na sua assistente Andrea (Anne Hathaway) quando esta debocha da aparente indistinção da variação de nuance entre dois cintos. Basicamente, a toda poderosa da revista Runway refuta: “Este azul da sua roupa representa milhões de dólares em pesquisas e incontáveis postos de trabalho. Por mais que você ache que suas escolhas a isentam do mundo da moda, na verdade, o suéter que está usando foi escolhido pelas pessoas desta sala”.
Pesquisa e inovação fazem parte do mantar que rege qualquer negócio da indústria criativa. E se tem uma pessoa que inovou no mundo da moda, foi Paco Rabanne que, infelizmente, nos deixou nesta sexta-feira, 03 de fevereiro. Talvez você o conheça por seu portfólio de perfumes, mas sua trajetória profissional envolve muito mais do que isso. Nascido em 8 de fevereiro de 1934 na cidade espanhola de Passaia, seu nome de batismo era Francisco Rabaneda y Cuervo. Na infância, foi criado pela avó, por duas irmãs e pela mãe, que trabalhou como costureira-chefe na Balenciaga, outra grife de origem espanhola.
Arquiteto por formação, entrou no mundo da moda criando botões e bordados para marcas como a própria Balenciaga, Givenchy e Pierre Cardin. Em 1964, deu início à produção de peças experimentais de vestuário, mas foi em 1966 que apresentou sua primeira coleção como estilista, em Paris. Seu grande diferencial foi o uso de materiais alheios aos que eram adotados pelo segmento como espelhos, papéis, arames, alumínio, placas de ouro, couro fluorescente e cabos de fibra óptica, fazendo fama com seus conjuntos metálicos e uma estética futurista. A própria Coco Chanel o apelidou de “metalúrgico da moda”.
As obras pouco convencionais tinham um preço: muitas modelos e atrizes se queixavam da falta de praticidade para vestir as peças, bem como do grande incômodo que algumas delas causavam para sentar. Fugindo um pouco da moda metalúrgica, Paco apresentou, em 1989, sua obra intitulada ‘Nuit du Chocolate’, um vestido integralmente feito com chocolate desenvolvido para uma feira de chocolates em Paris. Impraticável para o Brasil, diga-se.
Expandindo os negócios, o lançamento de fragrâncias deu-se em 1969, com o lançamento do perfume Calandre. A linha de perfumes foi a responsável por garantir a projeção internacional da marca nos anos 1980. Nesse nicho, a coleção de êxito mais recente é a Million (2008) com suas variações 1, Lady, Lucky, Empire e Privé. A marca ainda assinou linhas de relógios e óculos.
Dentre outros feitos marcantes da casa Rabanne, estão a escolha de modelos de diferentes etnias para desfilar e o uso de músicas durante os desfiles. Paco, que estava afastado das passarelas desde 1999, deixou um legado que marcou a indústria da moda e continuará sendo referência por muitas décadas adiante.
“Eu desafio qualquer um a criar um chapéu, casaco ou vestido que não tenha sido feito antes… A única nova fronteira que resta na moda é a descoberta de novos materiais.”
Paco Rabanne