De acordo com o Dicionário Michaelis, biônica é
“a ciência e tecnologia que relaciona o conhecimento das funções, características e fenômenos de sistemas vivos com o desenvolvimento de sistemas artificiais. Conjunto de técnicas que aproximam pouco a pouco as estruturas mecanicistas utilizadas para prever, criar e tratar a informação dos meios desenvolvidos pelos organismos vivos que visam a fins idênticos”.
A biônica parte do principio de que os organismos vivos atuais são resultado da evolução das espécies e adaptação de suas funções ao meio ambiente. Segundo Vanden Broeck (1989), biônica
“é o estudo dos sistemas e organizações naturais visando analisar e recuperar soluções funcionais, estruturais e formais para aplicá-las na resolução de problemas humanos através da geração de tecnologias e concepção de objetos e sistemas de objetos”.
Podemos citar como exemplo, o Velcro idealizado por Georges Mestral, inspirado pela semente de carrapicho (Actium lappa).
Imagem microscópica de um carrapicho e de um velcro
O homem já utilizava instintivamente esta técnica desde os primórdios da sua evolução. Certos inventos como o machado de pedra, servindo de extensão do antebraço com o punho cerrado ou os abrigos construídos com galhos e folhas trançadas inspirados nos ninhos de pássaros, mostram a incrível capacidade que o homem tem de problematizar e encontrar soluções baseadas nas sugestões oferecidas pelo seu meio ambiente natural.
A Biônica como técnica sistemática para fins científicos e práticos teve seu início na década de 40, durante a Segunda Guerra Mundial. A partir desta época formaram-se grandes laboratórios, nos países mais desenvolvidos, a fim de pesquisar esta poderosa e inesgotável fonte de soluções que é a natureza. A Biônica é, hoje em dia, matéria eminentemente interdisciplinar, utilizada, principalmente, na medicina, engenharia, design e arquitetura.
Exemplo de aplicação na medicina. Estudar toda a variedade de plantas que temos demoraria milhares de anos! Observando os chimpanzés foi descoberto como uma planta, a vernonia, servia de remédio contra parasitas do intestino.
A temperatura dentro dos cupinzeiros se mantém-se estável mesmo quando no exterior há variações de até 40 graus! Apesar de ligarmos cupins a destruição de casas eles podem nos ensinar como construir de forma mais sustentável.
A natureza procura sempre o máximo de resistência, estabilidade e harmonia em suas formas. Na área de projeto, incluindo o design de produtos, é de grande importância aplicar esses conceitos de custos energético e social. A biônica pesquisa na natureza maneiras de criar uma inter-relação entre as ciências biológicas e a atividade de projeto; procura compreender as propriedades (estruturas, processos, funções, organizações e relações) e os mecanismos que estão em condições de nos dar indicações úteis e novas orientações na projetação.
A nadadeira das baleias jubarte possui uma aerodinâmica especial que permite que ela faça curvas fechadas e perfeitas mesmo em alta velocidade! Os estudos podem ser aplicados na produção de energia eólica, ventiladores mais eficientes e até mesmo na aviação.
Podemos escutar o barulho de ventoinhas no computador, no ventilador, no ar condicionado… esses equipamentos perdem muita eficiência devido à fricção. Já na natureza existem fluxos quase perfeitos que estão em estudos para aplicações em diversas áreas.
O aumento da preocupação ambiental nos faz buscar a redução do enorme impacto gerado com relação ao meio ambiente. São reflexos dessa busca a crescente demanda pelos chamados eco-produtos ou produtos verdes e a mudança no posicionamento das empresas que procuram cada vez mais ter uma aparência de ecologicamente corretas.
Observar árvores e sistemas ósseos nos permite maximizar a resistência de materiais.
Observar ecosistemas como o cerrado pode nos ensinar como produzir alimentos de forma mais sustentável.
Nossos próprios pulmões são estudados para descobrir formas eficientes de realizar sequestro de carbono e diminuir nosso impacto no meio ambiente.
Hoje, encontramo-nos em uma situação em que a sustentabilidade (prover o melhor para as pessoas e para o ambiente tanto agora como para um futuro indefinido) se tornou algo indissociável de nossas vidas. Nesse cenário, o desenvolvimento de produtos deve considerar e procurar reduzir os impactos ambientais durante todo seu ciclo de vida, ou seja, extração da matéria-prima, fabricação, distribuição, uso e desuso, montagem e desmontagem.
As folhas de lotus possuem um potente sistema repelente que pode nos ajudar a descobrir formas de limpar (e manter limpo) sem necessidade de detergentes ou outros agentes de limpeza.
O trem mais rápido do mundo possuía um grave problema. Sua alta velocidade produzia um barulho ensurdecedor quando entrava nos túneis causando grande desconforto. Observando o martim pescador para redesenhar a frente do trem foi possível não somente reduzir os ruídos como economizar 15% de energia e torná-lo ainda 10% mais rápido!
Nesse âmbito, a biônica pode servir como uma excelente ferramenta, visto que sua aplicação em projetos de produto leva à diminuição do uso de matéria prima e aumento da resistência e desempenho.
FOTOS
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VÍDEO
Capital Natural
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FASCIONI, Lígia. Introdução à biônica.
MANZINI, Ézio; VEZZOLI, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: EDUSP, 2002.
RAMOS, Jaime; SELL, Ingeborg. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Departamento de Engenharia de Produção. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO Núcleo de Referência e Pesquisa s. A biônica aplicada ao projeto de produtos. 1993. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia de Produção.
UFRGS. Laboratório de Design e Seleção de Materiais.
VANDEN BROECK, F. O uso de analogias biológicas. Revista Design e Interiores, São Paulo, n. 15, pg.97-100, 1989.
