Cinema e Séries A missão de reestruturação de ‘Animais Fantásticos’ ganha fôlego com ‘Os Segredos de Dumbledore’

A missão de reestruturação de ‘Animais Fantásticos’ ganha fôlego com ‘Os Segredos de Dumbledore’

Por Erica Oliveira Cavalcanti Schumacher

Bruxos do Brasil, a espera acabou! Depois de mais de 3 anos da estreia dos ‘Crimes de Grindelwald’, o mundo mágico de J.K. Rowling ganha mais um capítulo com a chegada de ‘Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore’. Dirigido por David Yates, um diretor acostumado de longa data com a saga (Yates dirigiu os últimos 4 filmes de Harry Potter e é o único a ocupar a direção da série Animais Fantásticos), o filme traz o terceiro das 5 histórias prometidas pela escritora e roteirista J.K. Rowling para a compreensão da chamada 1ª Guerra Bruxa (a 2ª Guerra Bruxa foi o confronto final entre Harry Potter e Lord Voldemort). Para o público não ambientado com os embasamentos dos livros de Harry Potter, é importante dizer que as narrativas apresentadas nesta segunda saga do mundo mágico foram apresentadas aos leitores já no primeiro livro de Harry Potter. Ao conhecer um pouco mais sobre a trajetória do grande diretor Alvo Dumbledore, Harry é informado que o bruxo foi o grande opositor da ascensão purista intentada por Gerardo Grindelwald contra a comunidade trouxa algumas décadas atrás. Desse modo, a saga Animais Fantásticos bebe de todos os ganchos possíveis que foram deixados pela autora ainda nos 7 livros de Potter, publicados entre 1997 e 2007. Sabendo, então, que a conversa não surgiu hoje, temos um roteiro baseado em informações que foram sendo ventiladas ao longo das últimas 2 décadas. E isso pode ser uma solução, mas também pode ser um problema, dependendo do quanto de coesão exista entre as duas etapas bruxas.  Ambientado nos Anos 1930, Animais Fantásticos: Os Segredos De Dumbledore apresenta os primeiros efeitos da transformação que o mundo bruxo vive a partir de um clamor maior e mais público dedicado à causa antitrouxa de Gerardo Grindelwald. A oposição feita por Alvo Dumbledore, seu antigo aliado, precisa ser mais sofisticada porque o bruxo das trevas está conseguindo arrebatar seguidores e poder político frente à comunidade mágica. O conto claramente é inspirado na ascensão dos regimes fascista e nazista dos mesmos Anos 30 na Europa do Século XX, de modo que Animais Fantásticos apenas cria uma versão bruxa para as trágicas ocorrências da humanidade na primeira metade do século passado. 

O fato de a história ser muito bem fundamentada não significa necessariamente que o roteiro esteja imune a críticas. Ao contrário disso, é justamente o tamanho, a complexidade e o gigantismo da proposta que maculam alguns pontos do filme. Em 2018, o segundo filme recebeu severas críticas negativas pela estrutura quebradiça na introdução de subnúcleos e atravessamentos que não soaram como imediatamente necessários ao desdobramento da história maior. Ao contrário disso, os ‘Crimes de Grindelwald’ resultou em uma amostra não cronológica tão aprofundada que gerou dúvidas até entre os mais conhecedores fãs.  Os imensos julgamentos a essa narrativa foram recebidos pela Warner, que buscou oferecer neste terceiro filme algumas soluções mais imediatistas e lógicas. Para tanto, a própria J.K. Rowling precisou aceitar a escrita colaborativa de Steve Kloves – o então roteirista da saga Harry Potter – para que a sequência cinematográfica soasse mais enxuta. E isso funcionou! Quem acompanha as publicações mais recentes da escritora J.K. Rowling sabe que a autora adotou uma escrita cada vez mais prolixa, com livros de mais de 600 páginas como regra. Da obra infantil ‘O Ickabog’ até a série policial do detetive Cormoran Strike, Joanne é tão detalhista na construção do enredo que nenhum personagem escapa das múltiplas camadas de sua apresentação. Em livros, isso permite uma imersão literária primorosa, mas, em filmes, deixa a sensação de confusão na plateia desavisada. 

Assim, a colaboração de roteiro com o familiar Steve Kloves permitiu que ‘Os Segredos de Dumbledore’ fosse desdobrado de maneira mais coesa de acordo com as necessidades e com o ritmo próprio do cinema. As variadas críticas ao não protagonismo de criaturas mágicas é superado com uma cena de apresentação de maravilhamento do poder dos animais mágicos. A cena de apresentação mostra o magizoologista Newt Scamander em ação na selva na busca de uma rara criatura. Mesmo que J.K. tenha justificado que os humanos também são ‘animais fantásticos’, o impacto dos animais com poderes especiais não poderia ser diminuído; e o roteiro recupera em parte essa atenção especial dedicada à fauna bruxa. 

Outra aposta segura na recuperação da saga está na restrição ao elenco em menos núcleos para que o público, enfim, consiga entender qual é o papel a ser desempenhado por cada um da equipe. Mesmo que ainda soe extenso, não se poderia negar o valioso enxugamento. Todavia, temos um problema a partir disso: o roteiro do filme anterior introduziu tanto personagem novo que alguns nomes simplesmente são desaparecidos. Ou seja, aquilo que funcionou topicamente para este filme cria um embaraço na série. Questões a serem vistas nas próximas sequências. A filtragem do elenco permitiu aos protagonistas maior tempo de tela e o filme está seguro nas mãos de Jude Law e Mads Mikkelsen. O novo ator que dá vida ao vilão Grindelwald recebe o repasse do papel até então sustentado por Johnny Depp e consegue humanizar mais a vilania. O novo Grindelwald não soa tão paranoico ou excêntrico como Depp, mas se revela mais letal justamente por abusar da maldade humana ‘normal’. Grindelwald é naturalmente racista, odioso e ardiloso. Ele sabe jogar com as emoções dos envolvidos e cria redes de apoiadores dispostos a tudo por sua causa. Mads Mikkelsen mostra que a maldade não é uma condição bruxa excepcional, mas espreita as mentes daqueles que se movimentam com conforto na sociedade. Em clara inspiração na ascensão fascista, Grindelwald é uma figura política avessa a tudo que é diferente dele e não se esforça para negar sua mente corrompida. 

Em comparação, Jude Law se mostra ainda mais ciente de sua responsabilidade ao encarnar o amado Alvo Dumbledore e cumpre com maestria a missão de conduzir a sequência de Animais Fantásticos e fazer os fãs relembrarem sua versão idosa retratada em Harry Potter. As fraquezas de Dumbledore estão expostas e os segredos revelados dão o tom da película. As camadas da personalidade, traço claro da escrita de Rowling, constroem um personagem complexo, empático e brilhante. O quesito efeitos especiais e design de produção são dignos de destaque em virtude do elevado nível de requinte. É impossível não pensar como seria a saga HP com a qualidade elevada dos efeitos que são vistos hoje em AF. Sobre o design de produção, ponto para o brasileiro Eduardo Lima, que junto com sua sócia Miraphora Mina, são responsáveis pelo studio MinaLima que cria todos os artefatos e figuras imagéticas representativas do mundo mágico. 

Por essa e outras, apesar das problemáticas, ‘Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore’ é uma fruição perfeita do mundo de Harry Potter. O longa sabe usar da nostalgia para os fãs de longas datas (Hogwarts e sua música-tema são sempre bem-vindas), mas também é capaz de oferecer ao novo público uma visão resumida de toda a sequência e oferece uma finalização muito melhor do que o filme anterior. Estamos, enfim, diante da sensação de história concluída, mesmo que saibamos que muitas águas ainda precisam rolar embaixo desse rio mágico. 

‘Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore’ é a grande estreia deste feriado de Páscoa e os cinemas brasileiras o apresentam em sua programação a partir desta quinta-feira, 14 de abril. A seguir confira os trailers divulgados: 

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