Ato 1 – O que é Auro da Compadecida 2?
Depois de 25 anos do lançamento do primeiro Auto da Compadecida (2000), temos a tão pedida e aguardada continuação dessa história marcante e divertida criada pelo saudoso Ariano Suassuna. Com distribuição da H2O films, roteiro de Guel Arraes e João Falcão, direção de Guel Arraes. Está nova aventura de João Grilo e Chicó parte do seguinte princípio – “Depois de 20 anos desaparecido, João Grilo retorna à pequena Taperoá para se juntar ao seu velho companheiro Chicó. Acontece que agora ele é recebido como uma celebridade na cidade. Afinal, reza a lenda que havia sido morto por bala de espingarda e ressuscitado após um julgamento que tinha o Diabo como acusador, Nossa Senhora como defensora e o próprio Jesus Cristo como juiz. Disputado como principal cabo eleitoral pelos dois políticos mais poderosos da cidade, ele faz de tudo para finalmente aplicar o golpe que vai lhe render muito dinheiro e, quem sabe, vida mansa – como se fosse possível que ele se aquietasse. Só que nada sai como planejado e ele terá que recorrer à Compadecida novamente.”
Ato 2 – Comentários gerais
É com muito pesar no coração que digo que esta continuação de Auto da Compadecida, mesmo tendo muito carinho, amor e respeito à obra do grande Ariano Suassuna, é só uma atualização da história original para a nova geração. O roteiro se apega muito à nostalgia e repete muitas situações, piadas e estrutura do primeiro filme. Só que, com menos imersão e peso. Por muitas vezes, me desconectei do filme por conta do CGI desnecessário e da troca da ambientação realista por uma cenografia mais teatral para a cidade, deixando o visual mais plástico. Outro ponto negativo é a criação de personagens que não agregam em nada à trama de fato, parece mais que estão só ali só para conduzir os protagonistas e só, tanto que nem se dá para sentir a falta deles em tela. Também vale ressaltar a propaganda escancarada da Brahma e Santa Elena dentro do filme, fazendo assim, mais uma vez, perder a conexão com a história. Mas o que mais me deixou desapontado foi o momento mais lembrado e esperado da história, sendo o julgamento, e colocar o ator Matheus Nachtergaele para fazer Jesus, Diabo e o próprio João Grilo, foi algo desapontador. Já que no primeiro longa-metragem tínhamos o maravilhoso Luiz Melo como um diabo e Maurício Gonçalves como Jesus, o que trazia interpretações e contrastes bem marcantes entre eles. Mesmo que Matheus Nachtergaele faça uma ótima atuação dos 3 personagens ao mesmo tempo, sendo algo desafiador, acaba deixando o peso e dinamismo da cena menos marcante que a do primeiro filme. Contudo, vale ressaltar que o filme não é ruim, ele tem seus pontos a serem exaltados, como as atuações, piadas e críticas sociais que bem pensadas que só o Ariano colocaria na sua história. Mesmo não sendo perfeito, o projeto tem seu valor e revisita o peso da literatura e cinema brasileiro, que é muito rico e cheio de força.
Ato 3 – Direção!
A direção desse segundo filme, como dito anteriormente, continua nas mãos de Guel Arraes que traz na condução desse longa-metragem, uma direção contida, sem sair dos padrões da direção, planos gerais para situar o espectador, planos médios para deixar as cenas mais intimistas, closes para reforçar ou destacar. Além de uma delicadeza poética e teatral na construção e condução das cenas e do elenco.
Ato 4 – Atuações
Sem pensar duas vezes, o que mais engrandece Auto da Compadecida 2 são as atuações e o elenco de peso. Selton Mello (Chicó), com seu parceiro de cena Matheus Nachtergaele (João Grilo), nem parecem que levaram 25 anos para refazer os seus papéis, toda a lábia, humor, carinho e leve amadurecimento de seus personagens são revisitados pelos intérpretes, sendo de grande alegria rever esses personagens tão icônicos para o povo brasileiro. Fabiula Nascimento (Clarabela) e Humberto Martins (Coronel Ernani) entregam atuações primorosas e engraçadas, mesmo que seus personagens só sirvam para construir a problemática da trama e não tenham seus desenvolvimentos e crescimentos. Virginia Cavendish (Rosinha), traz uma evolução e amadurecimento de sua personagem, que tem o papel da razão para as trapalhadas da dupla Chicó e João, além de uma roupagem mais moderna, principalmente pela época que a história é ambientada, mostrando a força da mulher e garra das mulheres, mas principalmente da mulher nordestina. Eduardo Sterblitch (Arlindo), Enrique Diaz (Joaquim Brejeiro), Luis Miranda (Antônio do Amor), trazem mais uma camada de humor riquíssima. Ainda que os personagens só sejam ferramentas para trama e crescimento dos protagonistas, eles conseguem tirar ótimas risadas. Por fim, Taís Araújo (Compadecida) deu seu nome ao interpretar uma personagem tão marcante e eternizada por Fernanda Montenegro. Vindo como uma nova manifestação de nossa senhora, a interceder por João no Julgamento. Taís traz na sua interpretação toda a doçura, misericórdia, sabedoria e acolhimento que toda mãe tem.
Ato final – Conclusão
Sendo assim, Auto da Compadecida 2 pode não chegar aos pés de seu antecessor, mas também não faz feio. Mesmo com repetições e tropeços na narrativa e escolhas de produção, revitaliza a tão querida história de Ariano para as novas gerações e traz nostalgia de quem cresceu assistindo a esse patrimônio nacional nas telas dos cinemas ou na televisão. Então, recomendo ir ao cinema, prestigiar, se divertir e até se emocionar. Além de valorizar o trabalho e dedicação dos nossos atores e do cinema brasileiro.
Em exibição nos cinemas a partir do dia 25 de dezembro.
